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segunda-feira, agosto 26, 2013

BATER A CABEÇA E PEDIR A BENÇÃO NÃO É VERGONHA



Desde que fui borizado na casa de Mametú Indembleouí, aprendi que se bate a cabeça para os mais velhos e lhes pede a benção. Mas, os valores estão deturpados e hoje em dia as pessoas sentem-se humilhadas ao dar dobá nos pés de um zelador ou mesmo em pedir a benção. Isso ocorre porque nem sempre são as pessoas ensinadas da forma correta dentro dos preceitos do Santo.

Nem sempre lhes é explicado o que na verdade representam esses e outros atos dentro de uma roça de Orixá. Bem, fomos feitos, recebemos um Orunkó e uma Digina.  Ocorre que nosso pai ou mãe de santo, não tirou esses nomes apenas de sua cabeça. Para isso é feito um jogo de búzios e ali tiramos o nome do santo. Quando chega o dia de nossa saída, esse nome é “dado na praça” como se diz, então, nascemos para nosso Orixá naquele exato momento. Não é o Santo que nasce mas sim, nós pois a deidade já existia há muito e muito tempo.

Passamos por ritos sérios de iniciação e somente quem passou já, por tais atos, sabe a seriedade de tudo isso. Ocorre que ao recebermos nosso Orunkó e/ou Digina, passamos a ser parte de uma energia transcendental, e, temos que nos orientar para não cairmos em desafeto com essa energia.

Pois bem, ao passarmos por todo o processo de iniciação, passamos a ser uma parte de nosso Orixá aqui na Terra. Somos então, seu representante e tudo que fazemos, ou mesmo quando sorrimos ou choramos, nosso Orixá compartilha conosco, afinal, somos seus filhos e ainda mais: representamo-lo nesse mundo.

Na verdade quando um filho se deita nos pés do seu pai ou mãe no Santo, está se deitando para o Orixá daquela pessoa. Quando tomamos benção a alguém, na verdade tomamos a benção daquele Santo. 

Sabemos perfeitamente que, nada somos em superioridade a nossos filhos e filhas, pois que, somos também seres humanos. Não nos cabe a soberba de nos acharmos acima do bem e do mau. Não somos Reis nem Rainhas, mas, somos serviçais de nosso Santo.

São eles os Orixás, Ministros de Olorúm, Deus, e assim sendo, governam a natureza em seu nome. Cuidam dela para que o Supremo Criador possa se incumbir de seus assuntos. Então, quando nos abençoam com: Mucuiu no Zambi, Colofé Olorúm, Motumbá Axé, estão nos dizendo: Meu pai ou minha mãe o abençoe em nome de Deus! E isso é de muita importância para quem valoriza realmente o Santo.

Dentro de um barracão, como chamamos nossos Templos, não existem títulos carnais. Que seja a pessoa advogado, médico, juiz ou qualquer outra profissão, deve sim, se abster de desobediência, pois somente o Orixá Impera ali.  O zelador ou zeladora, são na verdade sacerdote e sacerdotisas e devem ser repeitados acima de qualquer coisa. Posição social não tem valor dentro de uma “Roça de Santo”, pois que, somente as leis dos Orixás valem ali.

Mas, alguns teimam em achar-se superior a todos e talvez por ter dinheiro ou ocupar uma posição social determinada, pensam que podem simplesmente denegrir essas leis. Errado! As leis são muito antigas e devem ser respeitadas sim.  Quando vemos um ogã, uma ekédi, ou mesmo uma pessoa rodante mais velha, temos sim, que pedirmos sua benção, pois seu Santo, o imantou antes de nós. A idade de Santo tem que ser respeitada de qualquer jeito. Porém, isso não dá direito aos mais velhos de humilharem os mais novos, pois que, da mesma forma que somos parte de nosso Orixá eles o são de seu Orixá e somente a eles cabem os julgamentos. Os mais antigos, viram coisas que nós ainda não vimos e consequentemente possuem maior experiência em todos os assuntos.

Não podemos sair por aí, nos intitulando aquilo que não somos. Devemos sim, nos conscientizar de que nada somos perante as Deidades de nosso panteão. A benção que recebemos é tamanha em nossa vida, pois que nos livra de muitos males.

Ser yawô, ou muzenza, não é em nada insignificante, afinal diz o ditado que: “todos os galos de hoje, foram pintinho ontem”. Nossa fase de yawô é somente uma passagem e com ela vamos aprender tudo que se fizer necessário para que no amanhã possamos receber nosso titulo de sacerdote.

Quando uma pessoa nos abençoa, nos oferece na verdade o maior tesouro que poderia nos dar, pois mil vezes uma benção do que uma maldição em nossa vida. Ser do Santo é saber a hora de por ponto final em muitas coisas e dentro dessas coisas estão o orgulho e a arrogância.

Somos de uma religião, onde os donos verdadeiros dela, dormem em esteira e andam descalços e isso tão somente para mostrar a humildade que precisamos ter em todos os aspectos de nossa vida. Nada conseguiremos com orgulho, prepotência ou outros sentimentos inferiores, dado que, nossas entidades e até mesmo nosso Santo, precisa de um médium com coração limpo e alma livre da corrupção. Não nos compete julgar e sim, aceitarmos as decisões de quem nos governa, e uma dessas decisões está justamente em pedirmos a benção e respeitar nossos mais velhos.

São eles como os anciões de tribos antigas e carregam como estes, a experiência de anos e anos de vida e somente vivendo, aprendemos da forma correta. Deus em sua infinita sabedoria e piedade, nos concedeu a experiência de vida dos mais velhos para que possamos assim, aprender um pouco mais das coisas da vida e darmos o devido valor que ela merece.

Viver é o bem mais precioso que Deus nos deu, e precisamos aproveitar ao máximo essa dádiva. Para isso, nada melhor que começarmos um dia com um: Deus o abençoe, mesmo que seja no dialeto de nossa religião. Então, aproveite, não deixa de pedir a benção a quem for mais antigo que você na religião, pois nada de vergonhoso existe, mas sim, receberá dádivas ainda maiores. Lembre-se: quando nos negamos a pedir a benção de alguém, nos negamos a receber a benção de seu Orixá.

Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi Lambanranguange: Odé Mutaloiá.

segunda-feira, agosto 19, 2013

O QUE É MACUMBA?



É comum vermos pessoas leigas, e que são manipuladas por sacerdotes das religiões cristãs, se referirem ao Candomblé e à Umbanda como Macumba. Os sacerdotes usam esse termo para humilhar e desacreditar as religiões afrodescendentes.

Macumba não se trata de religião, mas sim de um instrumento musical que era usado desde tempos remotos.

Encontramos a tradução para essas palavras em alguns dicionários e neles a palavra se traduz como um Instrumento Musical, um tipo de reco-reco, que era utilizado na África desde os tempos mais remotos. Esse instrumento produz um som rasgante, ou seja: um som áspero, semelhante ao que produz o diamante ao cortar o vidro, ou ainda parecido com um tecido que se rasga. A pessoa que toca esse instrumento é chamada de Macumbeiro.

O termo pejorativo macumba, surgiu segundo historiadores, com João Paulo Emílio Cristovão dos Santos Barreto, mais conhecido como João do Rio, que viveu no Rio de Janeiro no período de 1881 a 1921, escreveu sobre os negros e seus cultos no Rio de Janeiro. Segundo esse escritor, “as seitas de origem africanas no Rio eram chamadas de Candomblés assim como na Bahia”. Porém o preconceito sempre falou mais alto, e a burguesia da época, denominou esses cultos de “macumbas”, devido aos toques dos tambores e demais instrumentos musicais utilizados.

Podemos ver assim que: nunca a palavra macumba se traduziu como religião verdadeiramente e que somente pessoas sem cultura alguma, que são mais facilmente manipuladas traduzem esse termo de forma tão grotesca e mesquinha.

Algumas pesquisas na história do Brasil nos mostram que apesar de muitos donos e senhores de escravos procurarem seus cativos a fim de receber “favores” de suas divindades, desprezavam depois os mesmos, dizendo que eram eles adoradores de satanás.

O que ainda encontramos nos dias de hoje, quando pessoas de classe elevada buscam nos Terreiros de Candomblé, solução para seus mais variados problemas e que depois de atendidos, proclamam-se aos quatro cantos, contrários a essa religião.

Isso acontece por que, como no tempo do cativeiro, a igreja ainda é predominante em nosso meio e para que possam manter seus fiéis submissos, ameaçam com o fogo eterno todos que não compactuam com seus princípios e isso traz medo aos seguidores das igrejas.

Ter uma religião africana como fonte de referência, não faz em hipótese alguma daquela pessoa um ser que compactue com forças do mal, ao contrário, muitos dos seguidores dessas religiões têm muito mais medo da ira Divina do que se possa imaginar, uma vez que temem até mesmo a palavras que saem de suas bocas, pois as mesmas são verdadeiras orações e uma vez soltas, não voltam atrás.

Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi Odé Mutaloiá.