CANDOMBLÉ E UMBANDA - ABASSÁ LAMBANRANGUANGE - SÃO PAULO
O Abassá Lambanranguange,(Casa de Oxóssi) existe desde Dezembro de 1993,e está registrado na UNESCAP, União Espírita Capixaba. Seu sacerdote é o Sr. Sérgio Silveira, Tatetú N'Inkisi Lambanranguange, Odé Mutaloiá.
domingo, dezembro 15, 2024
Oyá, Orixá regente de 2025
quarta-feira, dezembro 14, 2022
Xangô, Orixá regente de 2023
O ano de 2023 terá a regência do
Orixá da justiça! Segundo Ifá estamos passando por uma época de transição no
Planeta, e, forças das sombras têm teimado em dominar o Mundo. Pessoas de má
índole são usadas por essas energias como forma de desorganizar a estrutura
social e familiar, promovendo grandes prejuízos a toda a humanidade. Temos visto
crimes de todas as formas sendo cometidos, e a Justiça, por mais que se
empenhe, não consegue por fim a tanto menoscabo com as Leis.
Assim sendo, o Rei de Oyó,
Ministro da Justiça de Olorúm, vem regendo o próximo ano combatendo com seu Oxé,
machado de dois lados, a injustiça, os crimes em todas as suas formas. Olorúm assim
determinou, mesmo tendo Oxaguiã como pré governante, em sua sabedoria, o Pai
Eterno determinou com Xangô tomasse a frente e regesse o próximo ano.
Oyá vem junto, afinal, onde está Xangô,
encontramos essa radiosa Yabá, guerreira e também justiceira. Xangô nos promete
um ano sem piedade com aqueles que infringem as Leis de Deus e dos homens. Veremos
poderosos sendo presos, farsantes desmascarados, criminosos sendo punidos com
rigor, não haverá lugar para os que se sentem bem em fazer o mal. Afinal, pelas
Leis de Olorúm, ninguém tem o direito de prejudicar o outro, ninguém tem o
direito de tentar contra a vida de seu semelhante. Então, a justiça será feita
de forma imparcial, dolorosa e acima de tudo, será aplicada de acordo com os
ditames dos Códigos Sagrados de Deus. Como filhos de Deus, temos a obrigação de
seguir suas Leis, não importando se estamos ou não de acordo. Deus existe para
ser amado e respeitado e Não questionado. Em tudo na Natureza existe uma regra
e uma finalidade e nós, seres humanos não estamos livres desta hierarquia.
Teremos como Planeta regente, Òṣùpá,
a Lua! Esta, por ser uma Divindade, traz consigo as Diretrizes de Olorúm, Deus.
Xangô nos afirma no Oráculo Sagrado de Ifá, que a humanidade extrapolou todos
os limites, desta forma, somente com rigores severos, as coisas poderão serem
postas nos seus devidos, lugares.
Oyá, estando ao lado de seu esposo,
Xangô, nos promete um ano de luta, de guerra pelo dia a dia, com proveitosas
colheitas. Também ela nos afirma que, se o homem não se reaproximar de Olorúm,
Deus, as consequências serão drásticas. Segundo ela, o ser humano se alto está
proclamando deus. Mas, existe somente um Deus, e este reina absoluto no Universo.
Ele criou, assim sendo, somente Ele reina. Os filhos que teimarem em não obedecerem
às Leis Divinas, serão punidos por ela e por Xangô, sem piedade alguma, afinal,
somente através da dor, o ser humano se curva perante a Soberania de Olorúm,
Deus.
O primeiro dia de 2023, terá a passagem
de Oxaguian, Oxalá guerreiro, que virá abrir as estradas para que Xangô reine e
assim sendo, coloque as coisas em seu devido lugar. Oxaguian nos diz que, o ser
humano tem se tornado verdadeira fera, e existe a necessidade de se impor limites
para que essa fera seja subjugada. Não existe, segundo Oxaguian, outra forma
que não punindo com rigor. Os Orixás se revoltaram, ainda segundo Ele, com a
forma como a humanidade vem vivendo. Não mais permitirão que os limites sejam
ultrapassados. Desta forma, Xangô tem liberdade total para agir, recolocando as
coisas em seus devidos lugares. 2023, não será um ano de paz e harmonia totais.
Ao contrário, será feita uma limpeza no Planeta Terra, então, as consequências serão
drásticas para os que teimam em ser intitular deus.
Podemos ainda, ter um ano de
muitas tempestades, de alagamentos, mas, de fartura de alimentos, pois a chuva
é o leite da Terra e assim sendo, permitirá que a fome se alastre. Porém, vale
lembrar que, a divisão dos alimentos se faz através de diretrizes determinadas,
então, os que governam, que se cuidem, pois nada será posto à parte, muito ao
contrário, todos os atos serão observados e a justiça será feita sem piedade
alguma.
Temos então, um ano de transição,
onde a Lei e a Justiça prevalecerão, não importando seu cargo social, sua
riqueza, sua cultura, nada será perdoado. Xangô é encarregado de aplicar a Justiça
Divina, e esta não conhece classe social.
Aqueles menos favorecidos
economicamente, terão a chance de se recuperar, terão a chance de ter alimento em
sua mesa, mas, acima de tudo serão os mais favorecidos pela implacável justiça
de Xangô.
Feliz ano novo para todos! Que a
paz reine em seus corações e suas almas sejam alimentadas pela Justiça Divina!
quarta-feira, outubro 26, 2022
Caboclo Tupinambá
Temos dentro dos Templos de
Umbanda, essa entidade maravilhosa que tanto se dedica a resolver os problemas
de todos que o buscam, independente da causa, por mais difícil que seja.
Cacique de sua tribo, pai de
criação da Cabocla Jurema, sua vida é uma história muito bonita:
Conta-se que, em determinado dia,
ele saiu para caçar, e culminou por receber uma pancada na cabeça, não se tem
notícia de como ocorreu, mas, o fato é que ficou desacordado por um longo
tempo. Ficou ali, caído no meio da mata sozinho, e insetos estavam lhe picando
e isto fez que ele despertasse. Porém, debilitado, não conseguia se levantar e
um mau cheiro começava a exalar, o que atraiu predadores. Um desses predadores,
foi direto para o corpo do índio caído, mas, para surpresa do animal, uma
serpente o atacou, e no meio dos gritos do predador ele recobrou os sentidos. Então,
pegou uma faca que sempre trazia em sua cintura e golpeou o animal ceifando
assim sua vida.
Olhando para a serpente, ele rapidamente
se afastou, fato esse imitado pela cobra, acontece que, estavam um, com medo do
outro. E esta reciprocidade de medo,
durou horas de caminhada dentro da floresta até que Tupinambá muito observador,
notou que aquela cobra havia salvado sua vida, então, seguiram a caminhada
dentro da selva, com o medo superado. Quando em determinado momento ele se
sentia assustado, a cobra ia em sua frente se colocando como isca e se porventura,
algum animal atacasse o réptil ele com sua faca matava o mesmo. E assim seguiam
pela mata, e se tornaram tão íntimos que ele passou a usar a cobra enrolada em
seu punho, como se essa fosse um bracelete.
Mas, a pancada na cabeça havia
sido demasiadamente forte, e ele, Tupinambá terminou se perdendo dentro da
mata. Dentro do tempo em que ficou desacordado, a vegetação rasteira cresceu e assim
não conseguia mais ver as pegadas que deixou junto com os membros da tribo, não
conseguindo encontrar o caminho de volta para sua casa. Após percorrerem longa distância,
a cobra conseguiu o levar no local onde moravam as cobras daquela floresta e
lhe foi ensinado todos os segredos delas culminando por subirem por todo o seu
corpo dando-lhe a cura dos ferimentos que os insetos haviam causado. Muito agradecido,
ele passou a viver no meio das cobras, mas, havia ali uma cobra que não aceitava
muito bem aquele convívio harmonioso, mas, a causa era o ciúme, e essa cobra
era justamente a coral. Esta o atacava constantemente o que criou uma querela
entre ele e a serpente. Ele, para provocar a cobra a imitava em seus botes, até
que determinado dia, ela o atacou de verdade, e, para se defender, Tupinambá
matou-a, retirou sua pele e adornou sua testa com ela, firmando assim a perpetua
união entre os dois.
As demais serpentes entenderam
que ele tão somente defendeu sua vida, mas, as demais corais não viam as coisas
assim e a rixa entre ele e as cobras coral somente se solidificou. As demais
cobras começaram então a lhe desvendar todos os mistérios da mata. Aquela mesma
serpente que salvara sua vida, foi mostrando para ele as sete matas, e ele
inteligente como era, passou a conhecer todas elas como as palmas de suas mãos.
Aprendeu que cada mata possuía seus próprios segredos, e que, elas por mais que
se parecessem umas com as outras, não formavam uma mata apenas, mas sim, várias,
até chegar ao centro da mata virgem local de onde poucos conseguem voltar, e
nessas andanças ele terminou por se lembrar do caminho de volta para sua aldeia,
para lá se dirigindo, mas, uma surpresa muito triste o aguardava.
Eis que, ao chegar lá, constatou
que nada mais existia. Durante o longo período que esteve perdido dentro da mata,
sua tribo havia sido atacada por caçadores, estes incendiaram tudo, matando sua
mãe. Ela antes de ser morta foi abusada pelos
caçadores e isso tudo causou muita revolta dentro de seu peito. Os demais
membros de sua família haviam ido embora junto com os remanescentes de seu
povo. Ele, no entanto, não quis ir atrás deles, preferiu permanecer ali com sua
amiga a cobra. Ele então montou uma cabana e ficou morando nela com a serpente
por um bom tempo.
Certo dia, umas índias que por
ali passavam ao verem aquele índio tão bonito e só, se compadeceram e quiseram
ficar naquela aldeia tão pequena. Tal fato logo se espalhou pela mata e outros índios
foram atraídos para aquele lugar, formando famílias inteiras. Mas, o valoroso
Tupinambá, havia se transformado em uma pessoa de poucas palavras, solitário, não
se dando conta de como sua aldeia crescera. As enfermidades que ali se
instalavam eram curadas por eles mesmos com os abundantes recursos da mata.
O carinho entre ele e a cobra aumentava
cada vez mais, e isso fez com que aprendessem a se comunicarem mentalmente,
então ela o disse que o havia denominado de Tupinambá das sete matas, afinal
era ele o único que conhecia os segredos de toas elas, assim sendo, ele
dominado pela emoção, reuniu todo o seu povo e comunicou a homenagem que o réptil
havia lhe feito.
Passados os anos, ele se percebeu
que sua hora chegara. Então, ele que não queria se despedir, recolheu-se para dentro
da mata se isolando embaixo de uma árvore e ali sentado, aguardou o dia de sua morte,
porém sua cobra que permanecia enrolada em seu braço, morreu pouco antes de seu
amigo humano.
Após anos de sua morte, ele se reencontrou com outro índio que havia sido cacique em sua aldeia, aquela onde ele havia sido criado com amor e carinho, onde vivia amparado pelo amor de sua mãe.
Assim, sua alegria foi aos poucos renascendo, afinal, vira que a morte nada mais é que a transformação, que morre o corpo físico, mas, o espírito, este permanece vivo na eternidade. Então, depois de um período ele começou a trabalhar com o velho cacique em terreiros de Umbanda, fazendo a caridade aos que ali buscavam amparo. Seu cacique vendo a boa vontade com que Tupinambá atendia a todos, vendo sua dedicação à humanidade, e, após receber autorização de Oxalá Maior, lhe disse: “a partir de agora, terá sua própria falange para continuar ajudando aos humanos, poderá escolher sete espíritos e com eles dar início a sua nova vida, pois Oxalá assim permitiu. Tupinambá não se conteve de alegrias.
Ele comunicou ao espírito de seu cacique que desejava encontrar primeiro o espírito da cobra que o acompanhou durante tantos anos, e eles partiram para o local. Mas, lá, outra surpresa o aguardava: ao invés de encontrar o espírito da cobra, encontrou uma linda Cabocla, e ficou sem nada entender.
Então, ela passou a lhe explicar: em sua vida era ela, uma linda índia que ainda muito jovem havia sido
estuprada por caçadores, e jogada para morrer nas matas. Ali ficou jogada, com
feridas em todo o corpo, e as cobras vendo aquilo, começaram a passar por cima
dela como outros animais faziam e, usando de sua magia, elas a curaram. Porém,
as feridas da alma, estas não podiam ser curadas, e ela acabou morrendo. Mas,
seu espírito ao invés de ir embora, preferiu ficar ali com os répteis.
Durante o dia, ela em espírito,
cantava e dançava no meio da mata seduzindo os homens que por ali passassem e os
atraía levando-os para o centro da mata de onde não mais poderiam sair, e
culminavam por serem comidos por animais, esta era sua vingança. Então, ela,
após concluída sua vingança, voltava a ser cobra. Foi quando ela conheceu o
índio que lhe ensinara a amizade, carinho e respeito, fazendo assim com que deixasse
de lado aquela vingança que somente a mantinha presa. Assim quando ela morreu
junto dele embaixo daquela árvore, foi despertada de tudo de ruim e seu
espírito seguiu o caminho da luz, afinal, aquele índio também a havia lhe
mostrado todo amor que havia em seu coração.
Tupinambá então lhe explicou a sua
intenção de trabalhar com sua falange nos terreiros de Umbanda, o que ela
prontamente aceitou. Mas, devido a sua experiencia, ela trabalha na limpeza do
campo energético dos seres humanos, descarrego, e ele, Tupinambá faria os
demais trabalhos.
Ele então a chamou de Cabocla
Currupira e quando chega nos terreiros costuma soltar o mesmo pio da cobra que
ela assumira depois de morta, demonstrando assim o amor que sente por Tupinambá
e este, costuma soltar um som como o da cobra coral, mostrando o desafio que teve
com ela enciumada por sua cobra.
Tatetú N’Inquisi Lambanranguange,
Odé Mutaloiá
segunda-feira, outubro 24, 2022
Caboclo Pena Branca
Hoje quero convidar você para aprendermos
um, pouco sobre essa grande entidade da Umbanda Sagrada, quem foi, como viveu e
como é esse guia de luz. Sabemos que, quando manifestado sem seus médiuns, é um
caboclo sério e que não gosta de conversas, mas, não significando que seja
bruto. Ao contrário, tão somente deixa de lado as conversas pois tem ciência da
grande responsabilidade que lhe foi incumbida por Oxalá.
Ele nasceu na região central do
Brasil nos idos de 1425, na tribo dos Tupis, ali, onde hoje se localiza
Brasília e Goiás, era filho do cacique de sua tribo, e, por ser o filho mais
velho, desde cedo sentiu o peso da responsabilidade nos ombros, afinal teria
que um dia substituir seu pai no comando da aldeia. Destacava-se dos demais pela
exuberante inteligência, não havendo nas matas, segredos que não conhecesse.
Vivia em uma época em que, o
intercambio entre as tribos. Mas, ele já como cacique, foi um dos primeiros a
incentivar esse ato, bem como, a troca de alimentos entre as aldeias como forma
de garantir a subsistência das aldeias, entre os povos que ele negociava,
estavam os Proto-Jee os Karib
, entendia o valoroso cacique que, somente assim poderia sobreviver com mais dignidade. Em uma de suas peregrinações pelo Nordeste
brasileiro, conheceu uma linda índia, flor da manhã, que viria a ser sua esposa
e passaria com ele, seu amado, toda a sua vida. Mesmo sendo muito respeitado
por todas as nações indígenas, não parou em momento algum seu trabalho
itinerante, sempre buscando formas de fortalecer a cultura indígena. Era um
visionário!
Certa feita, estava o cacique
Pena Branca no alto de um monte onde hoje situa-se o Estado da Bahia, e notou
barcos vindo em direção à costa, e ali ficou observando aqueles barcos, e, ao chegarem
mais perto, percebeu grandes cruzes vermelhas, era ele, o primeiro a ver a
chegada dos portugueses no Brasil! Também esteve presente na primeira missa
celebrada nessa Terra. Ele então, passou a ser uma espécie de porta voz entre
os nativos e o homem branco, mas, não confiava nesses, ao contrário, mantinha
reservas com relação a eles pois que, desconfiava de suas ações ao chegarem
distribuindo presentes. Dado a sua inteligência, aprendeu rapidamente o português
e a religião cristã que eles traziam.
Também, entabulou diálogos com
corsários franceses, que, sem que notassem os portugueses, entravam no Brasil,
e isso muito antes das invasões de 1555, assim sendo, Pena Branca também aprendeu
a falar o francês.
Os escambos entre índios e
portugueses com o pau-brasil era visto com muita desconfiança por ele, afinal,
começara a era de escravizar os índios, o que, para ele, era uma tristeza, pois
tão somente desejava o progresso cultural com aqueles homens brancos, os quais
tinha como amigos, mas, sabemos hoje que, a única intenção dos portugueses eram,
escravizar os nativos para que pudessem assim depauperar a nação que
consideravam sua, não tendo a mínima complacência com os que aqui estavam desde
sempre.
Este valente índio, viver então toda
a sua vida buscando formas de promover a cultura indígena, buscando sempre as
melhores formas de fazer com que seu povo pudesse melhorar suas condições de
vida. Morreu em 1529 aos 104 anos de idade. Seu falecimento deixou grande
tristeza entre todas as tribos brasileiras, afinal, o Cacique Pena Branca era
na verdade, o maior índio que já havia existido. Chegando no mundo espiritual, foi
reconhecido por seus grandes trabalhos quando encarnado e assim, junto com outros
espíritos como o cacique Cobra Coral, iniciou um trabalho grandioso em prol dos
índios brasileiros.
Hoje em dia, podemos ainda notar
a presença deste grande guerreiro por vários templos de Umbanda pelo Brasil
afora. Ele protege esses terreiros da investida dos espíritos inferiores,
trabalha chefiando uma grande falange de guias curandeiros, e ainda, atua dando
passes, descarregos, nas pessoas que ali estão, como profundo conhecedor de
todos os mistérios da Natureza, Seu Pena Branca, age na transmutação das
energias dos consulentes, promovendo a cura de seus corpos físicos e
espirituais. Também comanda uma imensa falange, onde trabalham os caboclos,
Pena Vermelha, Pena Azul, Pena Verde, Penacho Roxo, Pena Preta, entre outros.
Tatetú N’Inkisi Lambanranguange,
Odé Mutaloiá.
quinta-feira, outubro 20, 2022
Oração São Miguel Arcanjo
quarta-feira, outubro 19, 2022
Quem foi Tranca Ruas
Grande Exú, subordinado ao Orixá
Ogum, em sua vida aqui na Terra, era um curandeiro que usava os medicamentos da
Natureza, como ervas, casca de árvores, enfim, todos os recursos que esta o
emprestava, atuando também na extração de dentes. Seu nome de batismo era
Geraldo Branco Compostella.
Descendente de uma família
abastada, seu maior sonho quando ainda rapaz era ser padre, em um determinado
mosteiro na Cidade de Galícia, Espanha, Cidade esta onde nasceu. Mas, como todo
jovem, ele teve seu sonho desviado ao sentir a chama do amor. Ocorre que, em
determinado dia, ao assistir a missa, deparou-se com uma linda senhora que ali
estava para se confessar, e desde aquele dia, seu rosto não saía mais de sua
mente. Para onde quer olhasse, se deparava com a visão daquele rosto que, com
certeza era o mais belo que ele já havia visto.
Por mais que tentasse, não conseguia
esquecer aquele rosto esplendoroso, ela não lhe saía da mente. Então tomou uma decisão
e começou a ir em todas as celebrações como forma de assim, tentar se encontrar
novamente com a linda mulher. Passaram-se 30 dias e nada de ela reaparecer, a
inquietação tomava conta de seu espírito, quando, de repente, enquanto estava
na antessala da igreja, ouviu uma suave voz chamar pelo padre, e ao observar
escondido, viu que se tratava daquela que não sía de sua mente.
Pessoa de pensamento rápido,
Geraldo, não titubeou e fingiu ser o padre, e assim a linda senhora beijou-lhe
a mão, dizendo que gostaria de se confessar pois necessitava do perdão. Ele não
conseguia entender que pecados poderia ter uma mulher que em sua visão, mais se
parecia com um anjo, e pôs-se a ouvir seus pecados. Ela lhe confessou que fazia
parte da bruxaria, e por mais que tentasse não conseguia se livrar deste
caminho, e assim sendo, estava decidida a abandonar a Cidade temendo a
inquisição. Sua cabeça então entrou em desespero, todos os nervos de seu corpo
se abalaram, ela, a sua amada iria embora! Assim, sem mais pensar confessou-lhe
que desde que a vira pela primeira vez ali em uma missa, não conseguia pensar
em mais nada, e agora, não sabia se estava enfeitiçado, mas, independente de
qualquer coisa, o seu sentimento era maior, e sim, ela sairia da Cidade, mas
somente com ele.
Assim, ele voltou a seu castelo,
se desfez de tudo que possuía e sem pensar mais, deixou a Cidade com seu amor. Aos
poucos ele foi se envolvendo com os segredos da magia praticada por sua mulher
aprendendo a trabalhar somente para o bem, tendo conhecido o mal, mas, não aceitava
praticar essa área da feitiçaria. Mas, um dia sua esposa adoeceu, e a doença não
era física, natural, mas sim, provocada por feitiçaria de outras mulheres que
agiam somente no lado negro.
Geraldo que ainda não tinha
trabalhado no lado do mal, mas, conhecendo seus segredos, invocou uma força tão
grande das trevas que não mais tinha como desistir, então, em troca da saúde de
sua amada esposa ele daria sua alma para as trevas, o pacto foi feito e no dia
seguinte sua esposa estava curada, podendo então, o casal, viver felizes por
anos.
Certa noite, ele acordou com
gritos terríveis de sua esposa, ela mais uma vez era acometida por doença. Então,
ele lançou mão de todos os conhecimentos que tinha da magia, mas, nada
adiantava, então, seu único recurso era recorrer de novo às trevas, e assim o
fez, porém, nem mesmo as trevas puderam lhe ajudar desta vez, pois que, havia
chegado o momento de Deus par ela e nada mais poderia ser feito.
As trevas lhe disseram que a única
coisa que poderia ser feito, seria prolongar a vida dela por mais três dias,
nos quais viveria sem dor, sem sofrimento, mas, findo este prazo o destino
teria que se cumprir o destino, pois era chegado o momento do acerto de contas.
O casal, sabendo então que somente teriam mais três dias juntos, viveram-nos
intensamente e na noite do terceiro dia, Geraldo acorda no meio de chamas que haviam
sido provocadas por uma vela, ainda atordoado, viu aquela a quem amava mais que
tudo, caminhando em direção à rua e ele correu então para junto dela. Na rua,
os dois desmaiaram. Geraldo acorda na manhã seguinte, sozinho, e temendo o pior
ele adentra sua casa e ali encontra o corpo carbonizado de sua esposa deitado
ainda na cama, ela apenas o havia tirado dali pois não era sua hora.
Tomado pelo desespero, ele mais
uma vez invocou as forças das trevas pedindo que o levassem também para que
assim pudesse ficar junto dela, o que lhe foi respondido que, mesmo que ele
partisse naquele momento não poderia ficar junto dela, pois seu espírito estava
em revolta e teria ainda que pagar pelos erros cometidos, e, até que o espírito
se encontrasse, ficaria vagando. Mas, que, via que seu amor por ela era verdadeiro
e assim daquele dia em diante seria chamado de Tarchimache e seria o guardião dos
caminhos obscuros, cuidaria das almas revoltadas mostrando-lhes o caminho da
luz a fim de que pudessem reencarnar dando quitação de seus débitos, seria
ainda, responsável por trancar ou destrancar os caminhos do submundo, e, na
medida que fosse evoluindo, ficaria responsável pelos caminhos dos humanos
sendo a ligação entre estes e o mundo invisível, responsabilizando-se também por
entregar os pedidos a qualquer falange a que fossem dirigidos.
Então, decidiu-se que ele poderia
ir com as trevas dando início à sua missão e resgatar sua amada. Deu-se então,
o início da missão, mas, sua evolução foi tanta que em pouco tempo ele já
estava presente em todas as falanges existentes, tendo adotado o nome de Tranca
Ruas, obtendo também autorização para formar sua própria falange, como mais uma
força para colaborar com as demais falanges espirituais.
Tatetú N’Inkisi Lambranguange,
Odé Mutaloiá
Exú Marabô, o mago
Exú muito valoroso dentro da
Umbanda, não se nega a nenhuma batalha para ajudar aqueles que lhe pedem
socorro. Sua vida terrena foi baseada na baseada na magia e nos encantos. Diz seu
ponto: “exú tem chifre, Zambi tem coroa, seu Marabô não deixa sua banda à toa. E
sua história remonta a muito, muito tempo atrás:
Conta-se que, há séculos atrás
havia um reino que estava banhado pela tristeza, pois sua rainha havia sido
acometida por uma estranha doença. Seu esposo, o rei, muito apaixonado, não
negava esforços para ver sua amada rainha livre da doença, podendo assim voltar
a sorrir e preencher o reino com sua alegria. Médicos de vários locais haviam sido
chamados, mas, nada conseguiam fazer para livrar a soberana daquele mal que a
acometia.
O rei, certo dia, estava
pensativo, cabisbaixo em seu trono, quando lhe disseram que um homem negro
desejava lhe falar sobre a saúde de sua rainha, pois ele sabia o que lhe
ocorria e também, sabia o que fazer para resolver o problema. O rei, ficou muito
desconfiado, afinal, todos os médicos já a haviam visitado e nenhum de seus conhecimentos
conseguiram restaurar a saúde de sua amada. Mas, como ele não media os esforços
para que a saúde de sua esposa fosse restaurada, permitiu que o tal homem
entrasse, tudo valia à pena para não permitir que aquela que ele, o rei tanto amava
morresse.
O rei foi surpreendido com tal
homem: ele era negro, alto e forte, e vestia apenas um pano enrolado em sua
cintura sem nada mais a lhe cobrir o corpo, e no pescoço, usava como adorno, colares
feitos com ossos de animais.
Ele então se apresentou ao rei: “meu
nome é Perostino, majestade e eu sei o mal que aflige sua rainha. Me leve até
ela e eu irei curá-la. O rei então, perdeu-se dentro de seus pensamentos, não
se conformava em ter deixado aquele homem entrar, afinal como poderia aquele
maltrapilho curar sua rainha, sendo que todos os médicos de todos os reinos
conhecidos haviam falhado? Mas, o desejo de ver sua esposa curada era maior que
tudo, e, ele daria até mesmo seu reino pela plena restituição de sua saúde, e
assim, permitiu que aquele estranho homem, tão mal-vestido e adornado, entrasse
nos aposentos da rainha.
Aquele estranho homem permaneceu
no aposento da soberana por três noites, levando consigo ervas, pedras, aves,
animais, e tudo o mais que ele conseguiu encontrar na Natureza. Eis que no quarto
dia, a rainha, para surpresa de todos se levantou e foi caminhar pelo jardim,
com sua saúde plenamente recuperada, e com uma disposição que parecia que nada
havia lhe acontecido.
Então, o casal de tão felizes que
estavam com a cura, que tornaram Perostino um homem muito rico, dando-lhe livre
acesso a todo o castelo, e as pessoas que ficavam doentes, eram a ele
encaminhadas, pois ele conseguia curá-las.
Mas, a inveja chegou e logo
comentários maldosos começaram a surgir, alegando que Perostino seria nomeado primeiro-ministro,
apesar de sua cor e origem desconhecida para todos. O rei, ao saber de tal
conversa se sentiu indignado, afinal, um homem daquela cor, poderia sim, ser
rico, mas, jamais poderia se tornar uma autoridade, e determinou que ele
deixasse o castelo imediatamente.
Presotino então, foi tomado de ódio
dentro de coração, pois nem mesmo lhe deram o direito de ser ouvido, logo ele,
que havia curado a rainha, quando tantos outros falharam! E assim começou a
arquitetar sua vingança enquanto humildemente fingia que iria embora.
O rei, ficou tão feliz por haver
se livrado daquele incomodo, que determinou que um banquete fosse servido
naquela mesma noite. Porém, Perostino sem que ninguém visse, colocou veneno na
comida e assim, o rei e a rainha caíram mortos no chão perante o olhar cruel de
seu algoz. Sabendo que mais cedo ou mais tarde seria descoberto, Perostino
fugiu através das matas e depois arrependeu-se profundamente do mal que havia
feito. A dor tomou conta de sua consciência e de sua alma, e assim viveu muito
triste durante um ano, quando uma doença que cobriu seu corpo de feridas
tirou-lhe a vida. Passaram-se anos até que aquele espírito se recuperasse da
culpa que carregava e encontrasse os caminhos nos quais anda até os dias de
hoje, ajudando a todos que o buscam.
Depois de seu longo aprendizado,
ele foi colocado para trabalhar como Exú nas linhas mais inferiores, adotando o
nome de Marabô, tornando-se assim, um espírito muito sério e compenetrado,
atendendo a todos com dedicação e empenho.
Tatetú N’Inkisi Lambanranguange, Odé Mutaloiá
sexta-feira, outubro 14, 2022
Cabocla Jurema, sua lenda
Muito se escuta falar em Cabocla
Jurema dentro das casas de Umbanda, bem como, seus louvores são insubstituíveis
dentro dos ritos dessa religião. Mas, quem de fato é essa linda Cabocla?
Conta sua lenda que, ela foi
encontrada ainda bebê, com apenas sete meses de vida, pelo valente guerreiro Tupinambá,
abandonada aos pés da árvore chamada Jurema, e assim, ele lhe deu esse nome. Mas,
ela não foi adotada somente por ele, mas, por toda a tribo e consequentemente
por todas as nações indígenas da época. Ela foi criada dentro os princípios da
tribo Tupinambá e cresceu se tornando uma jovem forte, guerreira destemida,
aguerrida, que não temia nada. Além de, se tornar uma linda moça, tão linda que
encantava a todos que a viam. Por ser tão destemida, não demorou a se tornar a
primeira mulher guerreira daquela tribo, afinal, possuía grande força física e
moral, além de ter profundo conhecimento de toda a mata, não havendo ali,
segredo algum para ela, tendo também fácil manuseio do arco e flecha, transformando-se
em eximia flecheira, e logo viam que ela se transformaria em uma lenda não somente
para eles, mas para todo o continente.
Seus contemporâneos diziam que,
ela era a encarnação da mãe divina. Dado a ser totalmente destemida, não demorou
para que se fizesse presente em todas as guerras lideradas por seu pai, o também
valente e destemido, Tupinambá! E assim, ela, juntamente com seu pai, liderava
os guerreiros de batalha em batalha, até que um dia, ela que nunca havia conhecido
o medo, encontrou finalmente seu maior inimigo: o amor!
Ocorre que, estavam em guerra
contra uma tribo inimiga denominada Filhos do Sol, e um guerreiro havia sido
feito prisioneiro por seu pai, e este guerreiro se chamava Huascar. Seu pai, após levar os espólios de guerra de
volta para a tribo, notou que algo estava diferente em sua filha, pois que ela,
evitava permanecer junto aos prisioneiros, mas, ela sempre lhe dava uma
desculpa e tirava assim sua atenção. Mas, o amor aumentava a cada dia, e ambos
já não mais sabiam o que fazer.
Huascar, através do olhar,
confessava não somente para ela, mas, para todos que pousassem nele o olhar, o
quando seu peito ardia de amor por sua captora. Não conseguia mais disfarçar
seu encanto por ela. Jurema que aprendera a resistir aos maiores encantos da n
selva, como por exemplo, do boto, que superou com determinação todas as ciladas
armadas por tribos rivais, não conseguia mais resistir aos encantos de tão belo
guerreiro, e por vezes, se esquecia de que ele era seu inimigo, mas, o amor não
escolhe o terreno onde plantará sua semente.
De tanto observar aquele bravo
guerreiro, ela que conhecia também os segredos da magia, conseguiu ler em seus
olhos, todas as vidas que já haviam tido juntos. Conseguiu ver o imensurável amor
que os vinha unindo há séculos, e até mesmo os filhos que tiveram juntos, e então
passou a compreender, o porquê de somente ele ter sido mantido vivo.
Assim, após consultar
incansavelmente sua consciência, de buscar respostas em seus antepassados, ela
decidiu que iria ajudá-lo a fugir, mesmo sabendo que seu povo se voltaria
contra ela, a enxergando como traidora. Plano amadurecido, ela pôs em prática e
libertou aquele prisioneiro, mas, teria que fugir com ele, pois sabia que a
morte seria seu castigo, e também, não queria deixar aquele homem, seu companheiro
de tantas vidas, se perder para sempre de seus olhos.
Então após soltar seu
prisioneiro, puseram-se em fuga, com seu povo perseguindo aquela que era também
a cacique da aldeia por nomeação de seu pai Tupinambá. Durante a fuga, ela não era
mais a chefe tribal, mas, apenas uma traidora dos costumes e das leis daquele
povo. E então começou a chover flechas em direção a Huascar, seu amado, pois
eles a queriam viva, vendo que ele iria ser atingido, ela jogou-se entre ele e
a flecha, recebendo então a morte que era destinada ao mesmo, pois que, ela não
conseguiria viver sem seu amado.
Segundo a lenda, Huascar conseguiu
voltar para seu povo, na terra do sol, e
lá fundou um templo chamado Matchu
Pitcchu em homenagem a Jurema, sendo que nesse local, somente as mulheres
da tribo poderiam morar, e ali, aprenderiam as artes da guerra, transformando-se
assim em guerreiras, como homenagem a valorosa mulher que havia salvo sua vida.
Nas matas, no local onde Jurema caiu morta, nasceu robusta, que floresce todo o
ano, e, devido a sua coloração, chamou a atenção das tribos, e descobriram que
tudo dessa planta poderia ser utilizado, desde as sementes até o caule, e, como
ela sempre está voltada para o Sol, deram-lhe o nome de girassol. E assim,
Jurema mesmo com sua morte, mostrava sua grandeza e a que estava destinada.
Tatetú N’Inkisi Odé Mutaloiá
Imagem – cabocla Jurema Elo 7
A sagrada árvore chamada Jurema
Dentro dos cultos de Umbanda, e
principalmente no culto de Jurema, no Nordeste brasileiro, essa árvore é
venerada por todos, sejam caboclos, pretos velhos, enfim, nas raízes dessa
arvore está o fundamento destas entidades que trabalham de forma incansável em
prol da humanidade.
As histórias sobre essa árvore,
tem seu inicio ainda no Brasil colonial, onde já podiam ser observados os
rituais indígenas em torno dela. Ali eles se reuniam e através de suas ervas
sagradas, cânticos, danças e demais liturgias, e entravam em contato com o
Sagrado e consequentemente com seus antepassados, fossem para buscar ajuda para
uma batalha, fosse para pedir interseção para a colheita ou até mesmo para a
cura de um doente, segundo sua crença, através das raízes, galhos e folhas da
Jurema, seus antepassados podiam voltar ao mundo, trazendo seus conselhos,
curas e tudo o mais que se fizesse necessário.
Ocorre que, os índios do nordeste
brasileiro, principalmente de Pernambuco, sepultavam seus mortos, aos pés da
Jurema, pois acreditavam que, por ela ser muito alta, através de seus galhos, eles
poderiam alcançar o reino dos Céus, ou seja, a morada de Tupã. Mas, não somente para isso a Jurema tem
serventia para esses silvícolas.
O nome Jurema vem da língua Tupi yú-r-ema que significa espinheiro. Os índios nordestinos,
sabiam de suas propriedades e de sua fundamentação no culto a ancestralidade,
e, também, de sua grandiosa importância farmacológicas, sendo esses somente conhecidos
pelos índios.
Segundo pesquisadores, o culto a
essa árvore vem de datas longínquas, arremetendo aos tempos de Jesus Cristo
ainda menino: segundo eles, essa árvore teria sido usada para esconder a Sagrada
Família quando da perseguição dos soldados de Herodes, quando esses fugiam para
o Egito.
Assim sendo, temos aí a prova de
como essa árvore é sagrada e de como os índios souberam aproveitar todo o
misticismo da mesma. Observamos que esses povos nada faziam sem utilizarem a
Natureza, buscando nela toda a sabedoria armazenada desde os primórdios da
humanidade. Obviamente que a Jurema não poderia estar de fora dessa ciência.
Da mesma forma, seu culto, pois
que, somente através dos mestres juremeiros podemos ter acesso a tanta riqueza.
A árvore Jurema se divide em dois ramos:
a jurema branca ou Mimosa ophthalmocentra, e a jurema preta, Mimosa
hostilis.
Sua casca é utilizada para a
fabricação de uma bebida mística a qual, concede força, sabedoria e proporciona
contato com o mundo espiritual. O culto a Jurema, conquistou uma serie imensa
de adeptos em todo o Nordeste brasileiro e quem por lá passa, percebe que o nordestino
tem no culto a Jurema Sagrada a fonte para solucionar vários de seus problemas,
sejam eles, físicos ou espirituais. Mesmo
alguns babalorixás e ialorixás do Nordeste não abrem mão do assentamento da
Jurema, eu mesmo, conheço pessoas da Paraíba, Pernambuco entre outros, que,
mesmo praticando o Candomblé, mantém esse culto vivo.
Salve Jurema!
Tatetú N’Inkisi Odé Mutaloiá
Foto: jurema preta, portal Embrapa
domingo, outubro 09, 2022
Ibeji
No Brasil, Ibeji é sincretizado
com São Cosme e São Damião e, erroneamente em algumas casas de Umbanda, são identificados
como a falange de erês. Mas, quem é Ibeji?
Vejamos primeiro na mãe África:
A palavra Ibeji no dialeto Yorubá,
é traduzia como gêmeos. Assim então na verdade, Ibeji são dois. São os
protetores das crianças, principalmente dos gêmeos. Lá na África, a representa
a certeza da continuidade, a perpetuação daqueles pais, então, elas são consideradas
por seus pais, como sendo sua maior riqueza nesse mundo, não havendo ouro ou
outra joia que possa substituir seu valor único.
Dentro do panteão africano, Ibeji
indica a contradição, os opostos que caminham junto, assim como Exú, são a
dualidade, não que eles sejam comparados com o Orixá Exú. Também Ibeji é
considerado na África como uma entidade da justiça, pois que, em sua visão,
todas as ocorrências possuem dois lados e consequentemente, a justiça somente poderá
realmente ser feita, após serem ouvidos ambos os lados, após as ações de ambos
os lados da demanda serem pesados. Dentro deste senso de justiça, ninguém erra
sozinho, mas, teria que ser avaliado o que realmente levou a tal ação.
Para a cultura africana, Ibeji é
uma deidade indispensável nos cultos aos Orixás, assim sendo, merece o mesmo
respeito, amor e dedicação dispensados aos demais Orixás, sendo desta forma
cultuado no dia a dia. Em seus rituais, não exige oferendas demasiadas, sendo
seus pedidos sempre modestos, mas, o que desejam realmente, assim como qualquer
outra deidade, é ser lembrado e cultuado. Para os africanos, seu poder não deve
de forma alguma ser negligenciado pois que, o que um outro Orixá puder fazer,
ele pode desmanchar, porém, o que ele faz, Orixá algum tem o poder para desmanchar.
Ele ainda se considera o dono da verdade.
O animal associado a ele na África
é o macaco colobo, não significando que seja sacrificado, seria a representação
de sua energia na natureza. Esta espécie de macaco também conhecido como colobo
real, é acompanhado de grande misticismo pelas culturas africanas. Eles possuem
uma cor preta com alguns detalhes brancos. Todas as manhãs eles ao acordarem,
eles ficam em silencio no alto das árvores, como se estivessem em oração ou
mesmo em contemplação da Natureza, do próprio Deus e das deidades. Dado a esse
ritual, esses macacos são considerados como mensageiros destes, ou, que possuem
o lindo dom de escutar o que eles falam, afinal, dentro do culto afro, a
natureza é regida pelos Orixás em nome de Olorúm.
As fêmeas destes macacos, quando vai
parir, se retira para o mais profundo lugar da selva, e ali, sozinha ele dá à
luz, seu filhote, e somente no dia seguinte ela retorna para o bando, trazendo
o mesmo nas costas. Estes filhotes são considerados como a encarnação dos gêmeos
que morrem, e, cujos espíritos são encontrados vagando pelas florestas,
No Basil:
Nos Candomblés brasileiros, Ibeji
é ligado a tudo que se inicia: a
nascente de um rio, o parto de uma criança, as sementes que brotam, enfim, tudo
aquilo que nasce está ligada a Ibeji. Mas, como disse anteriormente,
erroneamente são confundidos com os erês, as crianças. Dentro do Candomblé, os
erês são os mensageiros mais ligados ao nosso Orixá, sendo, segundo os mais
antigos, a única entidade da pessoa que conhece a face de seu Orixá, pois que,
Orixá não mostra a face.
Os filhos de Ibeji, são pessoas
que nunca perdem a criança que existe dentro de si. Costumam ser brincalhonas,
sorridentes, meigas, nos lembrando constantemente uma criança. Emocionalmente são
eternos dependentes na vida amorosa, obstinados e possessivos, não deixando, no
entanto, de manter a leveza que somente a criança possui.
Existe uma lenda no Candomblé que
nos ensina que os gêmeos são filhos de Oyá com Oxóssi. Oxóssi era um Rei caçador,
e seu reino farto, abundante em todos os sentidos. Porém, o reino de Xangô
estava passando por grande dificuldade e não tinha nem mesmo como alimentar seu
povo e seu exército. Oyá vendo toda aquela fartura no reino de Odé, se transformou
em Búfalo e foi para lá, a fim de caçar e levar a carne para o reino de seu
amado esposo. Então, ela tirou a vestimenta de búfalo, voltando a ser, um ser
humano e começou a preparar as iscas, uns bolinhos, que alguns acreditam ter
sido acarajés e com eles atraia os animais e os matava transportando para o
reino de Xangô.
Porém, Oxóssi começou a sentir
falta de seus bichos e colocou-se em vigília. Então, viu uma búfala imensa em
suas terras e viu quando ela tirou a pele e se transformou em uma linda mulher.
Oxóssi sorrateiramente se aproximou e pegou a pele que ela havia escondido em
um mato, e quando ela retornou, não a encontrou e assim não teria como se
transformar de novo. Assim foi aprisionada por Odé e viveu como sua prisioneira
sendo obrigada a aceitá-lo como seu marido, tendo assim gêmeos dessa união.
Ao completarem seus filhos, sete
anos, estavam brincando e encontraram a pele de búfala que Odé havia escondido
e Oyá por mais que procurasse não a encontrava. Então seus filhos mostraram a
ela a pele e ela não se conteve em lágrimas, pois poderia finalmente voltar para
sua casa e seu esposo. Porém antes de partir, ela deu aos filhos um par de
chifres de búfalo e disse-lhes que, em qualquer momento que precisassem dela,
bastaria baterem aqueles chifres que ela voltaria.
Ibeji, na nação Queto, ou Vunje,
na nação Angola, este Orixá representa a infância, sendo assim, o Orixá da
alegria e da descontração. Mas, assim como Exú, deve ser sempre presenteado
para que não venha com suas brincadeiras atrapalhar o dia a dia das pessoas e nem
mesmo, os trabalhos realizados nas “roças” de Santo.
Segundo a tradição, Vunje ou
Ibeji, irão reger um bebê desde o seu nascimento até os sete anos de vida,
podendo em alguns casos chegar até mesmo à adolescência, e isso não significa
que seja a pessoa filha dele. Por ser pequeno, ele cuidará daquela criança, não
importando qual seja o Orixá de sua cabeça. Tanto que, os mais velhos não jogavam
para ver Orixá de bebês pois Vunje ali estaria.
Nos cultos do Candomblé, este
Orixá é representado também pelo canto dos pássaros, no voo deles, na imensa
beleza e perfume das flores, afinal tudo isso são coisas lindas e maravilhosas além
de inocentes. Não deve ser confundido com erê, estes são os mensageiros dos
Orixás, que passam todo o tempo de reclusão do yawô, ou Muzenza, manifestados aprendendo
tudo o que se passa para levar para o Santo. Este ser, conhece toda a vida do Muzenza,
suas alegrias, tristezas, medos, enfim, tudo o que se passa em sua vida, o erê
é conhecedor. A palavra erê significa brincadeira.
Tatetú N’Inkisi, Odé Mutaloiá