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sexta-feira, novembro 23, 2007

SAUDOSOS TEMPOS

Lembro-me com freqüência dos tempos em que vivia na roça de Mametú Indembelouí, quem me iniciou na ciência do culto aos Orixás. Lembro-me de seus ensinamentos que eram passados a mim e aos meus irmãos, como gotas de água em um oceano, ou seja, aos poucos.

Hoje em dia, as pessoas ao pretenderem adentrar no culto, já nos chegam com uma ânsia de poder que jamais imaginei ver. E o que mais dói, é que essa ânsia é em ter poder para destruir a vida dos outros. Já outras pessoas já nos chegam com tanta vontade de saber, mas, sem se preocuparem se estão prontos ou não para adquirirem tais conhecimentos. E isso vem fazendo com que nossa religião cada vez mais tenha pessoas totalmente despreparadas para exercerem o sacerdócio.

Com saudades me lembro também de como eram feitas as coisas do santo dentro daquela casa. Por exemplo, se íamos apanhar ervar para fazer o abô, em primeiro lugar eram escolhidas as pessoas que participariam daquela cerimônia. Essas pessoas se resguardavam dentro da casa de santo, três dias antes do ritual, a fim de se purificarem de relações sexuais e uso de bebidas alcoólicas.

No dia do ritual, saíamos em jejum, e antes do sol nascer, levávamos oferendas para Agué, e após os ritos na entrada da mata, entrávamos nela e sem conversar íamos apanhando as folhas, ao som de cânticos e reza para as divindades. Íamos e voltávamos em silêncio, sendo que o mesmo só era quebrado pelo som das rezas e cantigas.

Após a colheita das INSABAS, retornávamos ao barracão e ali, em uma esteira previamente preparada, depositávamos as insabas e somente depois é que íamos ter direito ao café, um cigarrinho (escondido) para quem fumasse etc. e tal. Na caída da noite, após as ervas estarem plenamente descansadas da colheita e transporte, é que começávamos o preparo o banho de abô que serviria para purificar não somente aos filhos da casa, mas, a todos que necessitassem.

Hoje em dia, ao saírem para a colheita de ervas, sejam para o abô ou para a feitura de um Yawô, as pessoas mais parecem que vão para uma festa, tamanha a algazarra que fazem dentro e fora da mata.

Ao dar início ao preparo das comidas de santo, ou mesmo de ebó, jamais existia conversas na cozinha, as únicas palavras pronunciadas eram as rezas necessárias para aquele ritual. Já tive a oportunidade de ver em uma cozinha de santo, rádio tocando como se estivessem preparando qualquer coisa, menos comida a ser servida aos nossos Deuses.

Realmente, saudosos aqueles tempos, nos quais se faziam fundamentos de santo e não brincadeiras como se vê hoje em dia. E isso sem relatar o comportamento dos iniciados de hoje, que nada se parecem com os de outrora.

Será que estariam nossos orixás satisfeitos com essas mudanças em seus rituais? Creio que não, pois que me foi ensinado que candomblé é hierarquia e ancestralidade, assim sendo, jamais essas atitudes condizem com nossos antepassados que aqui viveram e deram suas vidas para que pudéssemos ter essa religião que tanto tem feito por quem a procure.

Se pudesse voltar ao tempo, com certeza seria muito mais feliz, pois teria a chance de ainda assistir a fundamentos ou ORÔS como chamamos, que nunca mais serão vistos na maioria das casas de santo deste milênio.

Sérgio Silveira, Tatetú “Inkisi Lambanranguange, Odé Mutaloiá”.

odemutaloia@hotmail.com

domingo, novembro 18, 2007

DISCRIMINAÇÃO CONTRA COR É CRIME, MAS, E CONTRA A RELIGIÃO?


Nos dias atuais muito temos visto em redes de televisão, jornais, rádios e na Internet, campanhas contra a discriminação e o preconceito racial. Políticos fazem barulho até demais, mostrando que em um país como o nosso é intolerável este ato horrendo. Mesmo entidades que se dignam a lutar pelos direitos dos negros, investem alto no combate a estes atos que realmente NÃO CONDIZEM COM O MUNDO ATUAL EM QUE VIVEMOS.

Mas, me pergunto apenas, o porquê de nós, praticantes do Candomblé, ÚNICA RELIGIÃO QUE ESSES MESMOS NEGROS, trouxeram para o Brasil, somos perseguidos e nem políticos nem ninguém tem coragem de mostrar a cara e defender nossos direitos. Até mesmo negros, nos condenam por serem membros de outra religião.

Será que discriminar a religião que os negros plantaram aqui no Brasil, não poderia ser incorporado na lei que combate a discriminação racial? Em meu ver sim. Pois da mesma forma que todos, pagamos impostos, votamos, mas ninguém coloca nossos direitos na cara de pastores que manipulam seus fiéis, jogando-os contra nós e nossa fé.

Até mesmo ex sacerdotisas (seriam mesmo sacerdotisas?) vão a programas de televisão se intitulando EX MÃE DE ENCOSTO, e falam o que querem, denigrem nossa imagem, nossa religião e os governos nada fazem para coibir essa coisa ridícula. Mas basta chegar o período eleitoral e lá vêm eles, nos chamando para pedir votos, mentindo descaradamente que são contra essa prática, e nós bobos damos nosso voto a eles. Se o que dizem é verdade, por que então que ao nos apresentarmos nas Assembléias Legislativas como praticantes desta religião, nunca conseguimos nada?

Concordo em grau gênero e número com o combate a discriminação racial, ou seja lá quaisquer que forem, mas penso que temos nossos direitos e que eles deveriam sim, serem respeitados e que as entidades de consciência negra deveriam olhar com mais atenção. Ou será que esses mesmos negros que aqui chegaram em navios negreiros, não trouxeram esta religião? Seria ela por acaso fundada aqui pelos europeus? Com certeza que não.

Somente me pergunto se em breve não seremos queimados em praça pública, a exemplo do que faziam os padres com os negros que não se rendiam a religião por eles imposta.

Amor e tolerância não deveriam ser os lemas principais de qualquer religioso? Creio que sim, mas, o que vemos é totalmente contrário a tudo isso. Quem de nós nunca foi constrangido tão somente por causa de nossa opção religiosa?


Temos que nos empenhar mais como religiosos, em exigir que os governos obriguem a respeitarem-nos, afinal na Carta dos Direitos Humanos da ONU, e até mesmo em nossa constituição, rezam o direito a livre prática religiosa. Sinceramente, acho muita mesquinharia tanto barulho por conta da discriminação racial, e a plena tolerância com a discriminação religiosa.

Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi Lambanranguange: Odé Mutaloiá. Babalorixá, Escritor e Pesquisador.

odemutaloia@hotmail.com

odemutaloia@pop.com.br


sexta-feira, novembro 09, 2007

QUAL NOSSO ERRO?

A cada dia que passa mais me assusta a situação na qual nos encontramos como praticantes das religiões afro-descedente. Temos sido massacrados dia após dia, sem que nada seja feito realmente por parte de nossos representantes, para coibir tais males que tanto denigrem o nome de nosso país.

As igrejas evangélicas, vêm se destacando cada vez mais, pela prática de denegrir nosso nome, nossa fé. Basta que assistamos a seus programas de televisão para termos consciência de tal situação. Ainda outro dia, se não me falha a memória, Quarta Feira, dia 7 de Novembro, estava a procurar algo interessante nos canais de t.v quando deparei-me com uma senhora que se dizia EX MÃE DE SANTO, ou melhor, EX MÃE DE ENCOSTO, relatando fatos que com certeza jamais existiram em casas de verdadeira fé e culto aos nossos ante passados.

Segundo ela, “O ENCOSTO QUE NELA SE MANIFESTAVA, ENGANAVA AS PESSOAS, POIS PEDIA MATERIAIS E DINHEIRO PARA RESOLVER ALGO, MAS QUANDO O SERVIÇO NÃO DAVA RESULTADO, ELES PEDIAM VALORES CADA VEZ MAIS ALTOS, LEVANDO A PESSOA A GASTAR CADA VEZ MAIS SEM QUE NADA FOSSE RESOLVIDO”.

Queridos, dentro de minha vida espiritual, mesmo antes de me tornar sacerdote, nunca vi em casas sérias, espíritos que pedissem quantias em dinheiro para resolverem os problemas dos consulentes. Vi sim, pedirem materiais, e indicarem que a pessoa conversasse com seu médium, quando era um serviço mais complicado para saber se ele cobraria por tal, e se assim fosse, as pessoas JAMAIS tinham que gastar exorbitâncias alguma.

Só me pergunto se esta senhora realmente foi algum dia uma Zeladora mesmo, pois que ao que parece, era dessas pessoas que usam de má fé, e quando são descobertas pelas pessoas que freqüentavam suas casas, simplesmente saem da religião e começam a se dedicarem a difamar a anterior.

Tenho visto até mesmo filhos que simplesmente ignoram seus pais biológicos, quando estes praticam o candomblé ou umbanda, e eles, os filhos são freqüentadores de igrejas evangélicas. Seria isso uma prática condizente com quem se diz seguidor da doutrina de Jesus Cristo?

Posso afirmar que essa prática em nada condiz com as normas de Cristo, uma vez que ele pregou a união entre todos sem discriminação, pregou a tolerância e pediu: “faça a teu próximo somente aquilo que gostaria que ele lhe fizesse”. Vemos nesta passagem a maior clareza de amor e pedido de perdão e tolerância entre a humanidade em geral.

A revolta vem crescendo dentro de muitos praticantes de nossa religião e isso pode culminar com ações gigantescas na justiça, basta para isso que nos unamos independente de sermos ou não de nações semelhantes de candomblé, se somos umbandistas somente ou não. Temos que nos conscientizar de que antes de tudo somos irmão de fé, e se juntarmos nossas forças poderemos sim, exigir na justiça que nos respeitem em nossa crença, pois que vivemos em um país livre e a constituição e até mesmo a carta dos direitos humanos da ONU, garantem a todos o direito de professar sua fé sem sofrerem qualquer tipo de constrangimento ou impedimento.

Afinal o que fizemos de tão grave contra essas igrejas e seus sacerdotes? Qual nosso erro? Nunca queimamos pessoas em fogueiras, não saímos por aí invadindo templos cristãos, não patrocinamos guerra a fim de ficarmos com parte do botim. O que fizemos para sofrer tanto na mão dessas pessoas que se dizem seguidores de Cristo, mas que agem como se fossem Pôncius Pilatos ou seus carrascos?

Unamos-nos irmãos antes que eles, os verdadeiros FALSOS PROFETAS, culminem por transportarem-se e a nós também em uma viagem no tempo, e retomem as fogueiras em praça pública.

Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi Lambanranguange: Odé Mutaloiá. Escritor, pesquisador e babalorixá.

odemutaloia@hotmail.com

odemutaloia@pop.com.br