Temos dentro dos Templos de
Umbanda, essa entidade maravilhosa que tanto se dedica a resolver os problemas
de todos que o buscam, independente da causa, por mais difícil que seja.
Cacique de sua tribo, pai de
criação da Cabocla Jurema, sua vida é uma história muito bonita:
Conta-se que, em determinado dia,
ele saiu para caçar, e culminou por receber uma pancada na cabeça, não se tem
notícia de como ocorreu, mas, o fato é que ficou desacordado por um longo
tempo. Ficou ali, caído no meio da mata sozinho, e insetos estavam lhe picando
e isto fez que ele despertasse. Porém, debilitado, não conseguia se levantar e
um mau cheiro começava a exalar, o que atraiu predadores. Um desses predadores,
foi direto para o corpo do índio caído, mas, para surpresa do animal, uma
serpente o atacou, e no meio dos gritos do predador ele recobrou os sentidos. Então,
pegou uma faca que sempre trazia em sua cintura e golpeou o animal ceifando
assim sua vida.
Olhando para a serpente, ele rapidamente
se afastou, fato esse imitado pela cobra, acontece que, estavam um, com medo do
outro. E esta reciprocidade de medo,
durou horas de caminhada dentro da floresta até que Tupinambá muito observador,
notou que aquela cobra havia salvado sua vida, então, seguiram a caminhada
dentro da selva, com o medo superado. Quando em determinado momento ele se
sentia assustado, a cobra ia em sua frente se colocando como isca e se porventura,
algum animal atacasse o réptil ele com sua faca matava o mesmo. E assim seguiam
pela mata, e se tornaram tão íntimos que ele passou a usar a cobra enrolada em
seu punho, como se essa fosse um bracelete.
Mas, a pancada na cabeça havia
sido demasiadamente forte, e ele, Tupinambá terminou se perdendo dentro da
mata. Dentro do tempo em que ficou desacordado, a vegetação rasteira cresceu e assim
não conseguia mais ver as pegadas que deixou junto com os membros da tribo, não
conseguindo encontrar o caminho de volta para sua casa. Após percorrerem longa distância,
a cobra conseguiu o levar no local onde moravam as cobras daquela floresta e
lhe foi ensinado todos os segredos delas culminando por subirem por todo o seu
corpo dando-lhe a cura dos ferimentos que os insetos haviam causado. Muito agradecido,
ele passou a viver no meio das cobras, mas, havia ali uma cobra que não aceitava
muito bem aquele convívio harmonioso, mas, a causa era o ciúme, e essa cobra
era justamente a coral. Esta o atacava constantemente o que criou uma querela
entre ele e a serpente. Ele, para provocar a cobra a imitava em seus botes, até
que determinado dia, ela o atacou de verdade, e, para se defender, Tupinambá
matou-a, retirou sua pele e adornou sua testa com ela, firmando assim a perpetua
união entre os dois.
As demais serpentes entenderam
que ele tão somente defendeu sua vida, mas, as demais corais não viam as coisas
assim e a rixa entre ele e as cobras coral somente se solidificou. As demais
cobras começaram então a lhe desvendar todos os mistérios da mata. Aquela mesma
serpente que salvara sua vida, foi mostrando para ele as sete matas, e ele
inteligente como era, passou a conhecer todas elas como as palmas de suas mãos.
Aprendeu que cada mata possuía seus próprios segredos, e que, elas por mais que
se parecessem umas com as outras, não formavam uma mata apenas, mas sim, várias,
até chegar ao centro da mata virgem local de onde poucos conseguem voltar, e
nessas andanças ele terminou por se lembrar do caminho de volta para sua aldeia,
para lá se dirigindo, mas, uma surpresa muito triste o aguardava.
Eis que, ao chegar lá, constatou
que nada mais existia. Durante o longo período que esteve perdido dentro da mata,
sua tribo havia sido atacada por caçadores, estes incendiaram tudo, matando sua
mãe. Ela antes de ser morta foi abusada pelos
caçadores e isso tudo causou muita revolta dentro de seu peito. Os demais
membros de sua família haviam ido embora junto com os remanescentes de seu
povo. Ele, no entanto, não quis ir atrás deles, preferiu permanecer ali com sua
amiga a cobra. Ele então montou uma cabana e ficou morando nela com a serpente
por um bom tempo.
Certo dia, umas índias que por
ali passavam ao verem aquele índio tão bonito e só, se compadeceram e quiseram
ficar naquela aldeia tão pequena. Tal fato logo se espalhou pela mata e outros índios
foram atraídos para aquele lugar, formando famílias inteiras. Mas, o valoroso
Tupinambá, havia se transformado em uma pessoa de poucas palavras, solitário, não
se dando conta de como sua aldeia crescera. As enfermidades que ali se
instalavam eram curadas por eles mesmos com os abundantes recursos da mata.
O carinho entre ele e a cobra aumentava
cada vez mais, e isso fez com que aprendessem a se comunicarem mentalmente,
então ela o disse que o havia denominado de Tupinambá das sete matas, afinal
era ele o único que conhecia os segredos de toas elas, assim sendo, ele
dominado pela emoção, reuniu todo o seu povo e comunicou a homenagem que o réptil
havia lhe feito.
Passados os anos, ele se percebeu
que sua hora chegara. Então, ele que não queria se despedir, recolheu-se para dentro
da mata se isolando embaixo de uma árvore e ali sentado, aguardou o dia de sua morte,
porém sua cobra que permanecia enrolada em seu braço, morreu pouco antes de seu
amigo humano.
Após anos de sua morte, ele se reencontrou com outro índio que havia sido cacique em sua aldeia, aquela onde ele havia sido criado com amor e carinho, onde vivia amparado pelo amor de sua mãe.
Assim, sua alegria foi aos poucos renascendo, afinal, vira que a morte nada mais é que a transformação, que morre o corpo físico, mas, o espírito, este permanece vivo na eternidade. Então, depois de um período ele começou a trabalhar com o velho cacique em terreiros de Umbanda, fazendo a caridade aos que ali buscavam amparo. Seu cacique vendo a boa vontade com que Tupinambá atendia a todos, vendo sua dedicação à humanidade, e, após receber autorização de Oxalá Maior, lhe disse: “a partir de agora, terá sua própria falange para continuar ajudando aos humanos, poderá escolher sete espíritos e com eles dar início a sua nova vida, pois Oxalá assim permitiu. Tupinambá não se conteve de alegrias.
Ele comunicou ao espírito de seu cacique que desejava encontrar primeiro o espírito da cobra que o acompanhou durante tantos anos, e eles partiram para o local. Mas, lá, outra surpresa o aguardava: ao invés de encontrar o espírito da cobra, encontrou uma linda Cabocla, e ficou sem nada entender.
Então, ela passou a lhe explicar: em sua vida era ela, uma linda índia que ainda muito jovem havia sido
estuprada por caçadores, e jogada para morrer nas matas. Ali ficou jogada, com
feridas em todo o corpo, e as cobras vendo aquilo, começaram a passar por cima
dela como outros animais faziam e, usando de sua magia, elas a curaram. Porém,
as feridas da alma, estas não podiam ser curadas, e ela acabou morrendo. Mas,
seu espírito ao invés de ir embora, preferiu ficar ali com os répteis.
Durante o dia, ela em espírito,
cantava e dançava no meio da mata seduzindo os homens que por ali passassem e os
atraía levando-os para o centro da mata de onde não mais poderiam sair, e
culminavam por serem comidos por animais, esta era sua vingança. Então, ela,
após concluída sua vingança, voltava a ser cobra. Foi quando ela conheceu o
índio que lhe ensinara a amizade, carinho e respeito, fazendo assim com que deixasse
de lado aquela vingança que somente a mantinha presa. Assim quando ela morreu
junto dele embaixo daquela árvore, foi despertada de tudo de ruim e seu
espírito seguiu o caminho da luz, afinal, aquele índio também a havia lhe
mostrado todo amor que havia em seu coração.
Tupinambá então lhe explicou a sua
intenção de trabalhar com sua falange nos terreiros de Umbanda, o que ela
prontamente aceitou. Mas, devido a sua experiencia, ela trabalha na limpeza do
campo energético dos seres humanos, descarrego, e ele, Tupinambá faria os
demais trabalhos.
Ele então a chamou de Cabocla
Currupira e quando chega nos terreiros costuma soltar o mesmo pio da cobra que
ela assumira depois de morta, demonstrando assim o amor que sente por Tupinambá
e este, costuma soltar um som como o da cobra coral, mostrando o desafio que teve
com ela enciumada por sua cobra.
Tatetú N’Inquisi Lambanranguange,
Odé Mutaloiá