Eis um Orixá de grande complexidade dentro do Candomblé. Ewá seria uma virgem de beleza raríssima que reside no rio Yweá, que deu origem a seu nome. Para algumas tribos da África, ela seria uma yabá dos Mahi, qualidade de povos Gês, que habitavam o antigo Daomé, hoje a atual república de Benin.
Segundo essas tribos, ela teria sido introduzida no culto Yorúba, pois esses a identificaram como uma “similar” de Oxum Marê.
Existem aqueles que defendem a filosofia de que Ewá sempre pertenceu aos Nagôs, e seria originaria de Abeokutá, que se traduz como a cidade em baixo da pedra. Sua existência assim como seu culto mantém-se envolto em um mistério, e sua origem muito mais.
Senhora de magnífica beleza encantou Xangô que por ela se apaixonou e não deu tréguas até que ela se entregasse a ele, mas, sua esposa Oyá, descobriu o romance entre eles e assim passou a perseguir Ewá, o que a deixou muito assustada, amedrontada, afinal todos conheciam a ira da senhora dos raios, do fogo e das guerras.
Em uma coisa todos são concordantes. Ela domina a vidência, uma vez que essa, foi-lhe concedida por Orumilá, o Deus supremo de todos os oráculos.
Com o passar do tempo, Oyá ia aumentando cada vez mais a perseguição contra ela, e, sem mais ter como se esconder da fúria da guerreira, Ewá optou por fugir para as matas, em local mais inacessível e lá conheceu Odé, o grande caçador, guerreiro e feiticeiro. Esse a amparou e a escondeu para que a fúria de sua rival não a alcançasse.
Assim, Ewá passou a morar nas matas e com a proteção de Oxossi, pode andar livremente por seus domínios e mais tarde começou com ele a aprender a arte da caça, todas os mistérios que envolviam esse oficio. Primeiro ela se interessou em aprender dada a necessidade de se alimentar, pois como Oxossi passasse muito tempo embrenhado em outros locais da mata, ela precisava se alimentar e assim deu inicio a seu aprendizado.
Mais tarde, quando já se tornara uma exímia caçadora, ela se interessou pela arte da guerra e deu mãos à empreitada e logo se transformou em grande guerreira. Assim ela se tornou em eximia caçadora e excelente guerreira.
Dado a sua decepção com Xangô, ela pediu a seu pai, Obatalá, o direito de sair do mundo, e ele prontamente a atendeu, enviando-a para o reino dos mortos, onde ela passou a governar, esse local era temido por todos que viviam na terra. Assim, seu domínio passou a ser o cemitério, e lá ninguém ousa incomodar a bela ninfa.
Ela se encarrega de entregar os mortos a Oyá que por sua vez juntamente com Obaluayê, os mantém até que chegue o dia de seu julgamento.
Dado a sua decepção com Xangô, Ewá segundo as lendas, nunca mais quis contato com homens, e passou a ser a protetora das virgens, bem como de todos os elementos da natureza que se conservam intocados como, mata virgem, rios e lagos onde o homem não consegue entrar ou navegar, incluindo em seus domínios, segundo as lendas, a pororoca, o encontro violento das águas doces e da salgada.
Alguns zeladores acreditam que Ewá não tome a cabeça de mulheres que não sejam virgens, mas isso é contestado por outros. As lendas africanas nos ensinam que ela tornou-se a virgem cujos lábios são de mel e assim sendo a virgem das matas.
Ewá é também em outras lendas, filha de Nanã e consequentemente irmã de Bessém, Omulú e Ossanha.
Ela representa o horizonte, o encontro da terra e do céu. Bem como, do oceano com a terra, perpetuando nessa fase, o eterno amor entre Oxalá e Yemanjá os grandes pais de todos os seres humanos e de todas as divindades africanas.
Nessas lendas, vemos que Ewá era a virgem solitária. Sua mãe preocupada com essa solidão, e com seu jeito calado, pediu a Orumilá que arranjasse um casamento para sua filha, pois achava que assim ela se alegraria. Mas, ela ao contrário do esperado, não se preocupava com isso e preferia manter-se em sua tarefa de criar a noite no horizonte, e assim mandando o sol com sua energia a cada manhã para que esse provesse a terra com sua força revitalizadora.
Como sua mãe insistia que ela devia se casar pediu a seu irmão Bessém, que a escondesse, e como ele é o arco íris, atendeu o pedido de sua irmã e a escondeu em baixo dele, na parte onde termina seu corpo. Assim sendo, ela ficou escondida por baixo do imenso horizonte sua mãe nunca mais a viu.
Desde esse tempo Ewá e seu irmão Oxum Maré, passaram a viverem juntos, lá no lugar longínquo onde o céu se encontra com a terra.
Em uma outra lenda, Orumilá que era um grande babalaô, ou seja, aquele que lê o futuro nos oráculos, estava com um grande problema, ele fugia de Ikú, a morte, pois esse queria por fim a sua vida.
Então, Orumilá fugiu de sua casa, mas por mais que ele corresse, Ikú o seguia de forma incansável. Em sua fuga desesperada, chegou a um rio, e lá viu uma ninfa de beleza inigualável, e ela lavava roupas, era Ewá.
Ao ver que aquele senhor corria tanto, ela perguntou o motivo de tamanha corrida, afinal somente quem tentasse fugir de uma perseguição correria tanto.
Porém, como estava ofegante devido a tamanha corrida ele apenas respondeu: “há, há”, e ela imediatamente adivinhou que ele fugia da morte.
Ela então, compadecida de ver aquela pessoa com tamanho sofrimento, pediu que se acalmasse e disse que o ajudaria, e assim sendo, escondeu-o em baixo de sua tábua de lavar, que era nada mais que um tabuleiro de Ifá, cujo fundo estava colocado para cima.
Após escondê-lo em baixo do mesmo, ela voltou a lavar sua roupa e cantando alegremente. E, em dado momento chega à morte, desarvorada, causando náuseas a quem a visse, pois que moscas cobriam seu corpo inteiro.
Ao ser indaga por Ikú se tinha visto Orumilá, ela respondeu que ele atravessara o rio e naquelas horas já devia estar longe demais, longe mesmo dos quarenta rios que banhavam todo aquele país. Com a desistência de Ikú, Ewá, retirou Orumilá de debaixo da tábua e o levou para sua casa.
Depois desse socorro, os dois se apaixonaram e se casaram, e Ewá, fez várias oferendas para Ifá, pois que o mesmo tinha lhe mostrado o que estava acontecendo e solicitou que ela levasse o tabuleiro e escondesse a pessoa em baixo dele.
Contam que após o casamento e como Ewá estava já, grávida, houve uma grande festa e nela Ewá cantava: Orumilá me deu um filho. Orumilá cantava: Ewá me livrou da morte. E todos os presentes cantavam: Ewá livra da morte, Ewá nos livra de Ikú.
Assim se completam as lendas de Ewá.
Sua saudação no Candomblé: Ri, Ro, Ewá.
Seu dia é o Sábado.
Suas cores são: Vermelho vivo, Coral e Rosa.
Seus domínios são: Florestas, Céu, Astros e Estrelas, e as Águas dos Rios e Lagoas.
Suas comidas são: Cabras, Galinhas, Frutas, Acaçás e outras.
Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi, Odé Mutaloiá.