Muitas pessoas buscam os Templos
de Umbanda e Candomblé, apenas como forma mágica para resolver seus problemas e
se esquecem de que ali tão somente existe a religião. Teimam em afirmar que,
mesmo que sua vida não se resolva completamente, mas, sua fé é inabalável.
Porém, ao menor sinal de que as
coisas não sairão da forma que se deseja, começam a enfraquecer na fé. Isso ocorre
porque esta nunca existiu. Quem realmente tem fé, não a condiciona a nada.
Frequentam nossas casas, buscam
auxílio, isso está certo. Mas, o erro é nos verem como mágicos, como Merlin da
atualidade. Quantas vezes nós vamos para o Ifá, tão repletos de problemas muito
maiores que os daquela pessoa? Mas, não existe interesse em nada que não seja
sua individualidade.
Por sermos
sacerdotes e sacerdotisas, nossos problemas muitas vezes são muito maiores que
os de nossos consulentes. Pois, temos que cuidar de suas vidas, e deixar a nossa
a mercê da sorte. Não temos o direito de desabafo, pois a primeira coisa que
dizem: “mas, não é pai de santo? Por que não resolve suas coisas”?
Porém eles se
negam a enxergar que somos seres humanos antes de tudo, e que temos problemas
como qualquer um! Sofremos, choramos e entristecemos como qualquer pessoa! Somente
porque somos zeladores não temos o direito de sofrer?
Vivemos em um
mundo onde a dor a tristeza e a angústia, fazem parte do cotidiano. O próprio
Cristo sofreu e foi humilhado! Por que então, que por sermos zeladores seria
diferente? Partamos do início de que:
somos pessoas e como tais, somos falhos. Não possuímos a força de mudar o
destino.
Mágica? Somente
em filmes e livros. Nunca em momento algum, podemos prometer às pessoas, uma
vida sem dor, pois que não somos Deus. Ele sim é perfeito e insubstituível. Nós?
Reles seres humanos.
Não adianta
pensarem que ao buscarem nossas casas, iremos tocar em sua destra com uma
varinha mágica e eliminar seus problemas. O Orixá é uma religião, e como tal,
existe para nos dar forças para caminharmos por esse mundo e cumprirmos nossa missão.
Antes de desejarem algo dos Orixás, busquem dentro de si se são merecedores
daquilo que pedem. Pois que, se aos olhos do Criador, não formos merecedores,
muito pouco poderão os Orixás nos ajudar, pois não são Deus, e somente a ele
cabe a decisão final.
Precisam as
pessoas de entender que, se o Orixá, pudesse atender nossos pedidos sem
merecermos, ou seja: fazer o impossível, tão somente para atender nossas
súplicas eles seriam mais que Deus, e isso jamais acontecerá.
Olorúm, existe
somente um, e nunca existirá outro. Não importa se damos uma galinha ou um boi,
não importa se damos uma vela ou toda uma fábrica. Somente teremos aquilo que
merecemos, e ainda mais: corremos o risco de perder tudo, se não andarmos e
agirmos com cautela em nosso dia a dia.
Não adianta nos
procurarem, como fórmulas mágicas, pois que, elas não existem. Temos que
cumprir nossa missão independente de nosso credo. Se somos zeladores, é tão somente
porque Orumilá nos deu essa missão, que posso garantir: muitos não queriam
estar nela tamanha a gama de sofrimento.
Mas, abraçamos
nossa fé acima de tudo, e buscamos sempre resolver os problemas daqueles que
buscam nossos humildes conhecimentos. Dependemos de o Orixá atender ao pedido,
e eles por sua vez, dependem de Deus nos achar merecedores.
Por nada desse
mundo teremos aquilo que não merecermos. Temos que nos contentar e saber que
Olorúm, preside o destino da humanidade. E através de seus Ministros, nossos
Orixás, faz valer suas vontades, pois essas são as leis que imperam no
Universo.
Sermos sacerdotes
é antes de tudo, sermos servidores dos Orixás e com isso, passarmos por provas
que bem poucos aceitariam. Nunca em nossas vidas passamos por nada que se
compara a dor de perdermos, por exemplo, um ente querido, e mesmo nessa
situação temos que nos ater a guardar nossa dor, para socorrer a quem nos
procure.
Outro fator
muito importante que existe, é as pessoas buscarem na nossa religião, fórmulas
para enriquecerem. Oras, se essas existissem, não usaríamos primeiro para nós?
Orixá, não é riqueza, pois se assim o fosse, nossa mãe de origem, a África não teria
tantos pobres, miseráveis absolutos.
Falta para
essas pessoas que pensam em enriquecimento, a humildade para aceitar seu destino,
e em algumas vezes a coragem para trabalhar. Quantas vezes um sacerdote ou uma
sacerdotisa, não foi atender a uma pessoa que passasse pelo mesmo problema que
ele (a) não estivesse passando? Mas, ocorre que nem sempre temos a quem
recorrer em nossas aflições, seja pelo fato de nossa zeladora morar longe, ou
mesmo porque perdemos nosso Pai ou Mãe para a morte. Porque não somos imunes a
ela.
Temos que
entender que algumas coisas, são carmas de outras vidas e assim sendo, muito
pouco podemos fazer. Ter fé queridos, não é crer que seremos ganhadores na
loteria, porque somos do Santo, ou frequentamos sua casa. Mas sim, é termos
dentro de nós a certeza de que nossos Orixás nos ajudarão dentro de nosso
merecimento.
Sérgio
Silveira, Tatetú N’Inkisi Odé Mutaloiá. Presidente do Conselho religioso da
UNESCAP.