No Brasil, Ibeji é sincretizado
com São Cosme e São Damião e, erroneamente em algumas casas de Umbanda, são identificados
como a falange de erês. Mas, quem é Ibeji?
Vejamos primeiro na mãe África:
A palavra Ibeji no dialeto Yorubá,
é traduzia como gêmeos. Assim então na verdade, Ibeji são dois. São os
protetores das crianças, principalmente dos gêmeos. Lá na África, a representa
a certeza da continuidade, a perpetuação daqueles pais, então, elas são consideradas
por seus pais, como sendo sua maior riqueza nesse mundo, não havendo ouro ou
outra joia que possa substituir seu valor único.
Dentro do panteão africano, Ibeji
indica a contradição, os opostos que caminham junto, assim como Exú, são a
dualidade, não que eles sejam comparados com o Orixá Exú. Também Ibeji é
considerado na África como uma entidade da justiça, pois que, em sua visão,
todas as ocorrências possuem dois lados e consequentemente, a justiça somente poderá
realmente ser feita, após serem ouvidos ambos os lados, após as ações de ambos
os lados da demanda serem pesados. Dentro deste senso de justiça, ninguém erra
sozinho, mas, teria que ser avaliado o que realmente levou a tal ação.
Para a cultura africana, Ibeji é
uma deidade indispensável nos cultos aos Orixás, assim sendo, merece o mesmo
respeito, amor e dedicação dispensados aos demais Orixás, sendo desta forma
cultuado no dia a dia. Em seus rituais, não exige oferendas demasiadas, sendo
seus pedidos sempre modestos, mas, o que desejam realmente, assim como qualquer
outra deidade, é ser lembrado e cultuado. Para os africanos, seu poder não deve
de forma alguma ser negligenciado pois que, o que um outro Orixá puder fazer,
ele pode desmanchar, porém, o que ele faz, Orixá algum tem o poder para desmanchar.
Ele ainda se considera o dono da verdade.
O animal associado a ele na África
é o macaco colobo, não significando que seja sacrificado, seria a representação
de sua energia na natureza. Esta espécie de macaco também conhecido como colobo
real, é acompanhado de grande misticismo pelas culturas africanas. Eles possuem
uma cor preta com alguns detalhes brancos. Todas as manhãs eles ao acordarem,
eles ficam em silencio no alto das árvores, como se estivessem em oração ou
mesmo em contemplação da Natureza, do próprio Deus e das deidades. Dado a esse
ritual, esses macacos são considerados como mensageiros destes, ou, que possuem
o lindo dom de escutar o que eles falam, afinal, dentro do culto afro, a
natureza é regida pelos Orixás em nome de Olorúm.
As fêmeas destes macacos, quando vai
parir, se retira para o mais profundo lugar da selva, e ali, sozinha ele dá à
luz, seu filhote, e somente no dia seguinte ela retorna para o bando, trazendo
o mesmo nas costas. Estes filhotes são considerados como a encarnação dos gêmeos
que morrem, e, cujos espíritos são encontrados vagando pelas florestas,
No Basil:
Nos Candomblés brasileiros, Ibeji
é ligado a tudo que se inicia: a
nascente de um rio, o parto de uma criança, as sementes que brotam, enfim, tudo
aquilo que nasce está ligada a Ibeji. Mas, como disse anteriormente,
erroneamente são confundidos com os erês, as crianças. Dentro do Candomblé, os
erês são os mensageiros mais ligados ao nosso Orixá, sendo, segundo os mais
antigos, a única entidade da pessoa que conhece a face de seu Orixá, pois que,
Orixá não mostra a face.
Os filhos de Ibeji, são pessoas
que nunca perdem a criança que existe dentro de si. Costumam ser brincalhonas,
sorridentes, meigas, nos lembrando constantemente uma criança. Emocionalmente são
eternos dependentes na vida amorosa, obstinados e possessivos, não deixando, no
entanto, de manter a leveza que somente a criança possui.
Existe uma lenda no Candomblé que
nos ensina que os gêmeos são filhos de Oyá com Oxóssi. Oxóssi era um Rei caçador,
e seu reino farto, abundante em todos os sentidos. Porém, o reino de Xangô
estava passando por grande dificuldade e não tinha nem mesmo como alimentar seu
povo e seu exército. Oyá vendo toda aquela fartura no reino de Odé, se transformou
em Búfalo e foi para lá, a fim de caçar e levar a carne para o reino de seu
amado esposo. Então, ela tirou a vestimenta de búfalo, voltando a ser, um ser
humano e começou a preparar as iscas, uns bolinhos, que alguns acreditam ter
sido acarajés e com eles atraia os animais e os matava transportando para o
reino de Xangô.
Porém, Oxóssi começou a sentir
falta de seus bichos e colocou-se em vigília. Então, viu uma búfala imensa em
suas terras e viu quando ela tirou a pele e se transformou em uma linda mulher.
Oxóssi sorrateiramente se aproximou e pegou a pele que ela havia escondido em
um mato, e quando ela retornou, não a encontrou e assim não teria como se
transformar de novo. Assim foi aprisionada por Odé e viveu como sua prisioneira
sendo obrigada a aceitá-lo como seu marido, tendo assim gêmeos dessa união.
Ao completarem seus filhos, sete
anos, estavam brincando e encontraram a pele de búfala que Odé havia escondido
e Oyá por mais que procurasse não a encontrava. Então seus filhos mostraram a
ela a pele e ela não se conteve em lágrimas, pois poderia finalmente voltar para
sua casa e seu esposo. Porém antes de partir, ela deu aos filhos um par de
chifres de búfalo e disse-lhes que, em qualquer momento que precisassem dela,
bastaria baterem aqueles chifres que ela voltaria.
Ibeji, na nação Queto, ou Vunje,
na nação Angola, este Orixá representa a infância, sendo assim, o Orixá da
alegria e da descontração. Mas, assim como Exú, deve ser sempre presenteado
para que não venha com suas brincadeiras atrapalhar o dia a dia das pessoas e nem
mesmo, os trabalhos realizados nas “roças” de Santo.
Segundo a tradição, Vunje ou
Ibeji, irão reger um bebê desde o seu nascimento até os sete anos de vida,
podendo em alguns casos chegar até mesmo à adolescência, e isso não significa
que seja a pessoa filha dele. Por ser pequeno, ele cuidará daquela criança, não
importando qual seja o Orixá de sua cabeça. Tanto que, os mais velhos não jogavam
para ver Orixá de bebês pois Vunje ali estaria.
Nos cultos do Candomblé, este
Orixá é representado também pelo canto dos pássaros, no voo deles, na imensa
beleza e perfume das flores, afinal tudo isso são coisas lindas e maravilhosas além
de inocentes. Não deve ser confundido com erê, estes são os mensageiros dos
Orixás, que passam todo o tempo de reclusão do yawô, ou Muzenza, manifestados aprendendo
tudo o que se passa para levar para o Santo. Este ser, conhece toda a vida do Muzenza,
suas alegrias, tristezas, medos, enfim, tudo o que se passa em sua vida, o erê
é conhecedor. A palavra erê significa brincadeira.
Tatetú N’Inkisi, Odé Mutaloiá