Algumas pessoas têm o costume de
se achar acima das leis do Orixá, dado a sua posição social. Seja ela devido a
bens materiais, como dinheiro, outros por títulos, e assim por diante. Mas, é importante
frisar que nada disto vale dentro de uma casa de Santo.
Quando alguém entra para os
preceitos do Candomblé, tem que entender que, sua posição social ficou lá fora.
Ali dentro ele tão somente é um adepto e a ele, compete somente aquilo que tem
direito dentro dos limites das obrigações que possui.
Nos ritos, nada substitui a
hierarquia que existe na Religião, e nós, sacerdotes, não estamos neste mundo
para sermos coniventes com erros, em troca de favores financeiros, nem mesmo de
favorecer a quem quer que seja tão somente pelo seu dinheiro ou sua posição por
mais privilegiada que seja.
Não podemos colocar tais
assuntos, acima dos assuntos dos Orixás, uma vez, que são Eles, os Verdadeiros
donos da religião. A eles, e tão somente a eles, pertence o direito de dar
cargos, de escolher ou não, quem vai herdar, por exemplo, um trono. E nunca a posição
social de uma pessoa.
Se vamos dar uma obrigação em
alguém que tenha uma situação financeira privilegiada, é importante que esta
pessoa saiba que, mesmo assim será apenas um iniciante e que seus bens
materiais nada significam ali dentro. Não podem corromper os Orixás e suas
leis. Ao contrário: são seres que não se importam com nada disso, tanto é que,
aquela pessoa, dormirá sim, na esteira como outra qualquer e não terá regalias
alguma.
Alguns se acham no direito de
exigir isso ou aquilo, tão somente porque estão em uma situação privilegiada e
até mesmo ajudam o sacerdote e o Templo. Porém, devem entender que isso por
mais que seja bem vindo não está, nem nunca estará acima das leis do Santo,
pois que são leis que existem há séculos.
Em uma “roça” de Santo, não existe
separação de classe. Todos são iguais perante o Sagrado. Todos são filhos do
mesmo Pai e da mesma Mãe. Os mais humildes possuem o mesmo direito que os ditos
“ricos”.
Juízes, médicos, advogados,
artistas, músicos, pedreiros, lavadeiras, diaristas, secretárias, enfim: todos,
são iguais e assim sendo, usam sim, calçolão, camisú, andam descalços, e
prestam reverência aos Orixás e às pessoas que possuem cargos hierárquicos mais
elevados. Não adianta pensar que, tão somente pelo fato de ser, por exemplo, um
advogado, a pessoa tem direito a tratamento diferencial porque está enganado.
Aqueles mais humildes costumam
sim, ter mais liberdade junto aos verdadeiros sacerdotes, pois sabem o quanto são
massacrados no mundo exterior. Mas, o aconselhável é que todos tenham o mesmo
tratamento e não sintam de forma alguma o constrangimento de serem mal
tratados.
O amor entre pais e filhos, irmãos,
deve ser trabalhado noite e dia, porque somos uma família e como tal, devemos
seguir diretrizes que nos levem ao caminho do bem, sem, no entanto, humilhar a
quem quer que seja.
União, submissão ao Orixá e às
leis que regem o Universo, estes são alguns dos segredos para se manter uma
casa funcionando em perfeita condições para que os Orixás atuem nela e em prol
dos que ali vão em busca de soluções para seus problemas.
Soberba, prepotência, inveja,
ódio, vingança, devem ser deixado para trás juntamente com outros sentimentos tão
nocivos a nosso espírito. De que nos vale a cura, as velas, os clamores, se
vivemos em desarmonia com essas leis?
Saibamos todos, que: de nada
serve nossa posição social dentro de um templo, pois, somente as vontades dos
Orixás prevalecem no mesmo.
Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi:
Odé Mutaloiá. Presidente do Conselho Religioso da UNESCAP.