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terça-feira, novembro 26, 2013

EKEDI SUSPENSA



Existem inúmeros cargos dentro de uma “roça” de Santo e todos possuem valor e são dignos de respeito. Algumas pessoas insistem em dizer que não batem cabeça para uma determinada EKEDI, pelo fato de ser ela, apenas suspensa e não feita.

Bem, sou de uma nação onde os cargos são respeitados independente de a pessoa ser feita ou não. Ocorre que quando uma pessoa é suspensa como Ekedi, foi porque o Orixá da casa, ou seja, o DONO VERDADEIRO DA CASA, viu que aquela pessoa tem o cargo e deseja que ela faça parte de seu Axé. Muitas vezes porém, a pessoa não tem condições financeira de ser iniciada, ou mesmo não o pode devido a assuntos além de nossa alçada, mas, isso não significa que ela não seja digna de respeito, ao contrário.

Uma mulher não ocupa esse cargo porque deseja apenas. Ela traz consigo desde seu nascimento, e se o traz é porque seu Orixá o traz antes dela, então porque não respeitaremos essa mulher?

Ekedi, é antes de tudo, mãe e como tal deve ser respeitada. Não fazemos as coisas sozinhos dentro de nossa casa, precisamos de pessoas que nos auxiliem e cuidem dos Orixás que estão virados enquanto alimentamos outro, ou mesmo fazemos qualquer outro fundamento dentro do Santo. Um yawô não pode nos auxiliar, por exemplo, em uma feitura, em uma matança ou mesmo dentro dos ritos fúnebres. Quem então, poderá nos ajudar? As Ekedis e os ogãs. Sem eles, quase nada podemos fazer, afinal são eleitos pelos Orixás para nos auxiliarem naqueles momentos mais complicados, quando realmente estamos impossibilitados, afinal, quem consegue assoviar e chupar cana ao mesmo tempo?

Não escolhemos as Ekedis de nossa casa, porque nos encantamos com seus olhos. É nosso Orixá quem escolhe, assim como é ele quem dançará com ela e para ela, então, como não respeitarmos essa pessoa? Pode sim, uma Ekedi nos auxiliar mesmo que não seja ainda confirmada, ou feita. Ekedi é traduzida como: mãe que o Orixá escolheu, isso devido a correspondência desse nome dentro do dialeto ioruba. Então se ela é a mãe que nosso Orixá escolheu, o fato de não a respeitarmos, não seria também o fato de faltarmos o respeito com quem a indicou e/ou escolheu?

Temos que aprender muito com nossos antepassados, que por sua vez, respeitavam os cargos das pessoas dentro do Santo e com isso, valorizavam muito mais os fundamentos e preceitos das “roças” de Santo.

Eles, não tinham muito o conhecimento escrito, era mais oral, e mesmo assim, respeitavam e guardavam os preceitos e as hierarquias do Santo. Oras, se um yawô não respeita uma pessoa que tem um cargo mais elevado que ele, como poderá ser um zelador ou zeladora de Orixá no futuro?

Ao vermos uma Ekedi e ela nos toma a benção, temos a obrigação de trocar de benção com ela, ou seja: a abençoamos, mas também pedimos sua benção, porque se não agirmos assim, estamos dispensado a benção de um Orixá e posso garantir, que essa faz muita falta em nossa vida. Da mesma forma que a benção de nossa mãe carnal nos faz falta, a de um Santo nos faz também, porque quando abençoamos alguém, na verdade, estamos abençoando em nome de nosso Orixá.

Porém, é importante que da mesma forma que nós rodantes, respeitemos uma EKEDI, que ela também nos respeite porque o sentimento recíproco é a verdadeira essência do Candomblé. Não podemos somente respeitar sem sermos respeitados, como não podemos ser respeitados e não respeitarmos. Dentro das funções de um barracão, a Ekedi é de suma importância, afinal, é ela quem nos auxilia, isso pelo fato de precisarmos de uma pessoa que não “rode de Santo” quando em fundamentos.

Existem no entanto, alguns ritos que não pertencem às Ekedis, e esses são: jogar búzios, borizar e/ou raspar uma pessoa, dar ebós entre outros. Alguns desses atos no entanto, são liberados para que elas realizem, mas, somente o zelador que as iniciou poderá dar-lhe esse direito.

Não cabe a uma Ekedi jogar búzios para clientes. Isso pertence aos sacerdotes e sacerdotisas de Orixá, porque, da mesma forma que a Ekedi é preparada para nos auxiliar em todos os rituais, somos preparados para essa função e cabe somente aos rodantes, com obrigação em dia, jogar búzios, dar de comer a Orixás entre outros. Temos sim, que saber o que nos cabe dentro de uma casa de Santo e agir com sensatez, respeitando os limites que cada um tem.

Mas afirmo que: uma Ekedi, tem sim, que ser respeitada, pois que, mesmo sendo suspensa, mas o foi por um Orixá e a eles devemos carinho, amor, respeito e submissão às suas leis, que são na verdade as Leis de Olorúm.

Portanto, se tem uma ou várias Ekedis em sua casa, mesmo que seja apenas suspensa, respeite-a, pois elas são as mães que nossos Orixás escolheram para zelar deles e de nós. Ame sua mãe Ekedi da mesma forma que ama seu zelador, porque ela com certeza, representa a mão que o iniciou.

Sua benção minhas mães Ekedis.

sábado, novembro 23, 2013

SALVE O GLORIOSO SÃO JORGE GUERREIRO, OGUM IÊ MEU PAI!



“Quem está de ronda é São Jorge, meu pai me diga o que é, quem está de ronda é São Jorge, velando os filhos de fé. Quem está de ronda é São Jorge, toda noite e todo dia, quem está de ronda é São Jorge, Jesus, e a Virgem Maria”

Ponto muito antigo da Sagrada Umbanda, e que me recordo dele no Terreiro de Caboclo Treme Terra no Bairro de Caratoíra, Vitória E.S. Esse ponto nos traz a grandeza desse Santo guerreiro que padeceu sob as ordens do Imperador Diocleciano em 23 de Abril de 303 na Nicomédia, Ásia Menor. Mas, o que Diocleciano não poderia imaginar era que estava construindo o culto mais aclamado em todo o mundo: o culto a São Jorge, o Santo Guerreiro. E tantos são os povos que o cultuam, que não existe a mínima chance de dizer que esse Santo não existiu.

Mas, quem é São Jorge e qual sua história afinal?

Segundo pesquisas, Jorge teria nascido na Capadócia, região central da Anatólia que hoje faz parte da Turquia. Era filho de Militar e seu pai segundo as pesquisas teria morrido em batalha. Após a morte de seu pai, Jorge ainda criança, mudou-se com sua mãe para a Palestina e ali viveu em Lida Cidade de sua mãe, que segundo a Bíblia, foi fundada por um membro da tribo judaica de Benjamim chamado Samed (1Cr 8:12). No Novo Testamento, foi cenário da cura de um paralítico efetuada por Pedro (At 9: 32-35). Como sua mãe era abastada, Jorge foi criado com esmero, nada faltando para a educação de um jovem de seu tempo. Mas, como era um jovem de temperamento forte, se identificou com a carreira militar, afinal, era ele por natureza um combatente, e tamanho foi empenho que não demorou a ser nomeado Capitão do Exército Romano pelo Imperador. Nota-se que tudo isso se deu ainda em sua juventude, tanto que pelos idos de seus vinte anos Jorge foi condecorado com o título de Conde da Capadócia.

Tinha apenas 23 anos de idade quando se deu o falecimento de sua mãe, então, foi residir na corte de Diocleciano o Imperador de Roma, mais precisamente na Nicomédia e ali exercia a função de Tribuno Militar.

Todos sabemos, baseados na história, que Diocleciano, foi quem mais perseguiu os cristãos e pôs fim à vida de muitos, inclusive de outros mártires do cristianismo. Este Imperador, possuía um ódio mortal tanto pelos cristãos, como pelo próprio Cristo, mesmo tendo sua vida antecedido em séculos a de Diocleciano, mas, esse via em Cristo Jesus, uma ameaça a seu reinado bem como a seus deuses. E não media esforços para perseguir e massacrar os cristãos e sua fé.

Tanto que em 302 publicou um édito que mandava prender todo soldado romano cristão e que todos os outros deveriam oferecer sacrifício aos deuses romanos. Cristão que era, Jorge foi ao encontro do Imperador a fim de objetar essa ação, e para espanto de todos e principalmente de seu Imperador, declarou-se perante aos que ali estavam, como cristão. Porém Diocleciano não queria perder Jorge de suas fileiras e prontamente começou a tentar de todas as formas fazer com que seu capitão, tribuno e Conde, abandonasse sua fé, renegando ao Deus cristão e declarando amor e culto aos deuses romanos.

Porém, Jorge não aceitou nada que o Imperador lhe ofereceu como “pagamento” por sua renúncia, mesmo sendo terras, dinheiro e escravos, e manteve-se fiel à sua fé, possuído de ódio, Diocleciano mandou então que o torturassem para que ele através da dor, abandonasse a fé, e Jorge foi torturado de todas as formas mais terríveis que puderam lançar mão. Mas, depois de cada tortura, quando era levado de novo à frente do Imperador e esse lhe perguntava se renegava a Jesus em prol dos deuses romanos, Jorge reafirmava sua fé com mais ardor ainda. Seu martírio no entanto, foi ganhando notoriedade e muitos romanos culminaram por tomar as dores daquele jovem, inclusive, contam fatos históricos, que até mesmo a mulher de Diocleciano se comoveu com a forma com a qual o bravo e valente soldado era torturado e ela então se converteu ao cristianismo. Além disso, outras pessoas se comoveram com seu martírio, como os mulçumanos, por exemplo.

Vendo Diocleciano que nada do que fazia tinha o poder de persuasão com Jorge, culminou por mandar que fosse degolado e o fato se deu em 23 de Abril de 303, na cidade de Nicomédia na Ásia Menor.

Estudiosos dão conta de que um dos primeiros lugares de devoção teria sido na Síria, onde inclusive existem sepulturas que fomenta-se terem sido os primeiros locais de descanso final de seus restos mortais, o que é confirmado pela Enciclopédia Católica, onde podemos assim ler: Las narrativas de los antiguos peregrinos, Teodosio, Antonino, y Arculfo, desde los siglos sexto al octavo, todos hablan de Lydda o Dospolis como el asiento de la veneración de San Jorge, y como el lugar de descanso de sus restos (Geyer, “Itinera Hierosol.”,139, 176, 288)”. E seguindo lemos assim: “La antigua fecha de las devociones al santo es atestiguada por las inscripciones existentes en ruinas de las iglesias en Síria, Mesopotamia, y Egipto y la iglesia de San Jorge en Tesalónica es también considerada por algunas autoridades como perteneciente al siglo cuarto.”

Como podemos observar, São Jorge tem seu culto bem estruturado e arraigado em povos antigos, que viam n’ele a verdadeira expressão da fé em Jesus Cristo e seus ensinamentos. Viam um jovem que mesmo com pouca idade, sabia dar combate nos campos de batalha como sabia defender sua fé com a mesma valentia.

Após sua morte, seus restos mortais foram transferidos para Lida, antiga Dóspolis, local onde crescera com sua mãe. Mais tarde o Imperador cristão Constantino, mandou erguer um suntuoso oratório aberto a todos os fiéis fazendo assim, com que a devoção a Jorge, se espalhasse por todo o Oriente.

Pelos idos do século V. haviam cinco igrejas dedicadas a ele. Apenas no Egito, nos primeiros séculos após sua morte foram construídas quatro igrejas e quarenta conventos e dedicados ao mártir Jorge. Em alguns lugares como Armênia, Império Bizantino, Estreito de Bósforo e na Grécia, São Jorge sempre foi inscrito como um dos maiores Santos do catolicismo.

Dentro dos termos eclesiásticos, o dia de São Jorge, 23 de Abril era mantido com um feriado menor. Quando em 1415, a Constituição do Arcebispo Chicele, trouxe mais luz a esse dia e o transformou em uma das maiores festas cristãs, e ainda ordenou que fosse observado como Dia de Natal.

Seu sincretismo com Ogum, deu-se ainda com os escravos que aqui viviam, e por ser Ogum, caçador, agricultor e guerreiro destemido e valente, esses escravos oriundos de vários locais da África, viram no Santo Católico, uma figura similar a Ogum, que sempre venceu as batalhas onde quer que estivesse. E com esse sincretismo, Ogum que sempre fora cultuado como protetor das colheitas e caçador, juntamente com seu irmão consanguíneo, Oxossi, passou a ser somente o guerreiro, cabendo ao segundo, toda a consagração de caçador e agricultor.

Mas, o sincretismo tomou conta no Brasil, pois que, eram os negros, proibidos de praticarem sua religião, que segundo a Igreja de Roma, “era um culto a satanás”, e como todos que praticassem outra filosofia que não a romana eram torturados e mortos, viram os negros, a única saída possível: sincretizar seus Orixás com os Santos permitidos por Roma.

A forma que mais firmou esse sincretismo, foi quando na Guerra do Paraguai, o Brasil entrou com seus soldados. Temos que nos lembrar de que a grande maioria dos marinheiros daquela época eram negros, e com isso, Ogum passou definitivamente a ser correspondido com São Jorge, tanto que durante aquela Guerra, os Santos, Jorge e Antônio de Pádua, seus correspondentes no Rio de Janeiro e Bahia, respectivamente, chegaram a ter patentes de Oficial e receber soldo, isso tanto no Exército como na Marinha, conforme nos relata a história, e ainda o ponto: “Ogum já jurou bandeira, nos campos do Humaitá…”, é uma alusão à localidade de Humaitá, onde se travou a batalha mais importante dessa guerra.

Com os escravos, apreendemos que Ogum guerreia ferozmente contra seus inimigos, que destrói todas as forças que tentam tirar seu reino e a paz de seu povo. Aprendemos ainda que é um Orixá muito justo e que somente não teve seu reino destruído como pedira Nanã, pois Orumilá via em Ogum um homem honrado, valente, que não mentia e respeitava seus pais.

Com os europeus, aprendemos que Jorge era valente, destemido, guerreiro martirizado em nome de sua fé. Então se formos analisar, a correspondência entre eles é algo certo e inquestionável. Mesmo hoje com a modernização e as leis que amparam nossa religião, o que fez com que o sincretismo deixasse de existir praticamente, entre os adeptos de Ogum, São Jorge continua mais fidedigno que nunca a seu título.

Nos seus pontos na Umbanda, temos constantemente a exaltação dos campos de batalha, o que leva católicos e evangélicos e dizerem que Ogum é demônio sim, pois que, veneramos a violência dos campos de batalha. Mas isso é um erro incomensurável. Ao exaltarmos os campos de batalha, exaltamos na verdade, as batalhas vencidas na guerra do Paraguai e outras, sob a proteção de São Jorge/Ogum, e nos dias de hoje, exaltamos a mesma ajuda mas na batalha do dia a dia, onde temos que vencer constantemente pois vivermos em um mundo globalizado e com isso a concorrência ficou ainda mais acirrada. É também à batalha travada pelos pequenos e médios empresários que tentam sobreviver em um verdadeiro campo minado, onde o imperialismo da grandes empresas massacram a quem ousar entrar em seu caminho.

Assim como São Jorge, Ogum é tão somente nosso defensor e abre as portas para que possamos entrar, abre os caminhos para que possamos passar.





                                                                    
                                                                        FOTOS:
                                                                  enciclopédia católica

quarta-feira, novembro 20, 2013

A VERDADEIRA VISÃO DA MORTE



Desde que o mundo é mundo, desde que a primeira vida foi criada, a morte faz parte desta, da mesma forma que o nascer. Todos nós pregamos o desapego, o consolo, mas, quando ela visita nossa família, quando vemos àqueles que amamos serem levados desse mundo, muito do que pregamos desaba. Todos nós já perdemos alguém, e nem sempre mostramos que estamos verdadeiramente prontos para o momento fatídico.

As religiões, todas elas, cada uma de sua forma, mostra-nos que a morte nada mais é, que o retorno da alma para junto de Deus. Cada uma com sua linguagem, mas, todas pregam no fundo a mesma verdade. Porém, quem realmente se consola ao ver um ente querido, inerte, frio e sem respiração? Muito poucos na verdade se consolam com esse momento. Sempre nos abatemos seja de uma forma ou de outra.

Mas, o que é realmente a morte?

A resposta para essa pergunta varia muito de cada religião. Para os cristãos evangélicos, é ela, o salário do pecado, ou seja: é o que recebemos como soldo após uma vida de erros e pecados. Para os japoneses, a morte nada mais é que o livramento da alma, de um mundo de lutas e dissabores que é o que vivemos. E assim por diante. O mesmo ocorre com o destino na alma após o desencarne do invólucro que ela aqui usava, ou seja: o corpo físico. E as mesmas variantes encontramos no tangente à resposta para tal.
Mas, e para nós; o que é a morte e para onde vai nosso espírito?

Dentro dos preceitos do Candomblé, acreditamos que a morte nada mais é que uma transformação, ou seja: passamos do estado físico para o de espírito. Não temos nada contra a morte, até mesmo porque, segundo nos ensina Nanã Burukê, “é necessário que morra um, para que possa nascer outro”. E assim encaramos a morte. Temos a convicção de que um dia partiremos desse mundo, e nesse momento, nosso espírito será levado pelos Orixás a um local onde esperará o julgamento de seus atos aqui na Terra. Cremos ainda, que nos unimos aos nossos antepassados e vivemos à partir de então, no gozo pleno da felicidade que somente as graças de Olorúm, podem nos conceder.

Não cremos na morte como fim, mas sim como recomeço. Vejamos bem: quando viajamos para outro lugar, passamos lá o tempo necessário para resolvermos nossos assuntos ou mesmo para o descanso que precisa nosso corpo, mas, um dia retornaremos para nosso lar, junto de nossos familiares. O mesmo ocorre com a morte: nosso espirito passa aqui, o tempo imprescindível para suas conquistas, para seu aperfeiçoamento, mas, depois ao morrer o nosso corpo físico, ele volta para sua casa, onde estão à sua espera, familiares, amigos queridos, que anseiam o dia de seu retorno. Isso para nós é a morte.

Não cremos com isso, que nossos atos são simplesmente apagados porque Deus perdoa, afinal é essa sua função. Não! Cremos que ao morrer nosso corpo, nosso espírito dará contas de tudo que fez quando aqui encarnado, cremos ainda que, ao criar o espírito, Olorúm cria uma mente para ele, e essa mente é quem vai nos condenar ou não.

Sabemos que existem os Orixás e eles são os Ministros de Deus, e servem à Ele somente, e sempre que precisam, aplicam o rigor de suas Leis em nós seres humanos. Pois bem: se Olorúm é a perfeição, suas Leis não podem ser diferentes, então não tem como um ladrão, estuprador, assassino, simplesmente ficar impune de tudo que cometeu aqui na Terra. Pois se assim o fosse, de nada adiantariam suas Leis e sabemos que Ele é a perfeição acima de tudo.

Da mesma forma que precisamos nos preparar para o nascimento de uma criança, precisamos nos preparar para a morte, pois que, essa é inevitável. Se por uma lado, ao nascer uma criança, ou nascermos de novo para o Orixá, quando somos feitos existem os ritos a serem seguidos, depois da morte existem os ritos próprios, e temos que estar preparados para eles, por mais que nos doa.

Ao nascer uma criança, festejamos, e depois providenciamos seu batizado. Quando somos feitos, existem tanto os rituais para nossa iniciação, como existe a festa, onde nosso Orixá dará seu nome para os que ali estiverem.

Quando uma pessoa morre, temos que nos entregar aos rituais que irão amparar aquele espírito em sua nova jornada. Desde tempos imemoriais, as tribos mantinham seus rituais fúnebres. Uns, queimavam seus mortos mediante determinados cânticos que eram próprios para a ocasião, e assim faziam para que aquele que os deixava, pudesse se encontrar com seus antepassados. Depois com a criação do Cristianismo, passou a Igreja Católica a celebrar o velório, que significa exatamente: queimação de velas. Pois viam nesse rito, a forma mais correta para encaminhar aquela alma. E não podemos dizer que estejam errados, basta nos lembrarmos que, em tempos atrás, o velório era sinônimo de silencio em respeito ao morto, e durante seu acontecimento eram recitadas várias preces e de forma incansável para que aquela alma pudesse se confortar e ascender aos Céus.

Já outras religiões apenas velam o morto durante umas horas, sem velas, pois não creem nelas e dão sepultamento ao cadáver. Mas e como devemos proceder, nós que somos do Santo?

Muito simples:

Ao recebermos a notícia do falecimento de alguém de nossa casa, a primeira coisa a fazer é esvaziarmos as quartinhas de água, suspender todas as comidas que estiverem arriadas para que possamos então, dar por iniciada a cerimonia, que quem é Zelador sabe o que fazer. E enquanto a casa estiver nessa cerimonia, todos os filhos devem se resguardar, afinal temos que respeitar àquele que deixou esse mundo. E enquanto seguem as cerimônias no corpo, somente os mais velhos podem ficar presente, e depois que se encerram, entrega-se o corpo para o velório.

Mesmo depois de sepultado o cadáver, temos outras cerimonias que deverão ocorrer com no mínimo sete dias do falecimento, e todos da casa seguem de preceito. Fazemos esses ritos, pois são de suma importância para que nosso espírito possa seguir em paz, para junto dos Orixás e esperar pelo julgamento de seus atos aqui na Terra. Oras, se sabemos entregar uma pessoa para a vida, temos que saber como entregar para a morte, e, temos que entender que, tudo isso faz parte dos mistérios de Deus para nós.

Em toas as épocas, em todas as religiões, sempre existiram os rituais fúnebres e eles são de importância primordial para o espírito que se vai desse mundo. Não podemos simplesmente permitir que uma pessoa vá para o mundo astral, sem seu reconhecimento. Se esses rituais não fossem necessários, não existiriam desde tempos imemoriais, pois sabemos que os antigos, sempre foram dotados de uma sabedoria que nos surpreende ainda hoje.

Em nosso meio, temos o direito de chorar o morto sete dias e depois disto, temos a obrigação de deixá-lo em paz para que siga seu novo caminho. Não temos o direito de perturbar a paz daqueles que são chamados de volta para o Céu. Temos sim, que respeitar a vontade do Pai que tudo criou e de tudo sabe. 

Entendemos dentro de nossa fé, que a morte é apenas a passagem da alma deste mundo para o outro, e que mais dia menos dia, todos faremos essa passagem. Nada nos impedirá, nem ninguém irá em nosso lugar, afinal, quando nascemos, já temos marcado o dia de nossa morte.

Embarcamos no trem da vida, mas, com a passagem de volta no bolso. E isso queridos, faz parte dos mistérios de Deus. Entendamos que Ele somente é quem sabe de tudo e que nada podemos fazer sem sua permissão. Se somos verdadeiros com aqueles com os quais convivemos, entenderemos o momento de sua passagem de volta. O que nos faz chorar muito, é na verdade o nosso egoísmo, pois queremos a pessoa para nós para sempre, e isso não acontece. Também o nosso egoísmo faz com que pensemos que nunca mais veremos aquela pessoa, mas isso também está errado. Se Deus nos concedeu a morte, com certeza concede o reencontro de todos nós um dia.

Por que então, nos desesperarmos pela morte de alguém? Chorar, chorar é válido, afinal somos seres humanos e temos esse direito. A dor da perca não cala dentro de nós, e por mais que saibamos que é errado chorar, choramos sim, e em meu ver, é saudável, porque damos vazão a um sentimento que poderá colocar em risco nossa saúde. Mas, o que não precisamos é do desespero, pois este sempre é mal conselheiro.

Não nos percamos então diante da morte, pois ela é tão somente uma transformação, e se por acaso perdeu alguém de sua família ou mesmo que não seja seu sangue, mas alguém que amava, saiba que na verdade não perdeu, mas sim, ganhaste uma flor nos jardins de Deus, e Ele saberá permitir o momento de esta flor vir te visitar. Chore, mas não se desespere, sinta sua dor, mas não permita que ela atrapalhe sua jornada, nem a de quem se foi. Nada, isso posso garantir: nada passa desapercebido aos olhos de nosso Pai e Ele saberá nos mandar o conforto de que precisamos.

 A morte, essa não é fim, mas o começo de uma outra etapa. Quem de nós quando em viajem, não deseja voltar para casa? O mesmo acontece com o espírito encarnado, que anseia pelo seu retorno para junto dos seus, em seu mundo. Morrer faz parte do viver, assim como o nascer, não podemos é nos deixar abater ao ponto de abdicarmos de nossas tarefas, pois que, aquele espírito sofrerá ainda mais.

Eu como todos, já perdi pessoas que amava, mas sei, que estão juntos de Deus e no momento certo, nos encontraremos. Queridos, nada é mais importante que a fé, e esta não nos permite titubear nem mesmo quando o inevitável acontece, porque fé é antes de tudo a certeza daquilo que pregamos, estudamos e praticamos. Assim sendo, não se abata em demasia, lembre-se de que outros ficaram e dependem de ti.