Algumas pessoas se arrepiam e sentem pavor quando se fala em egum, ou babá egum. Isso se deve ao fato de, algumas vezes ouvirem dizer que babá egum serve somente para o mau, e que, pode até matar as pessoas da casa. Toda energia do Cosmo tem seu lado positivo e negativo, isso todos nós sabemos, e o mesmo ocorre com babá egum. Agora, se sua energia é usada para o bem ou para o mau, isso é problema de quem a usa. Sempre afirmei, por exemplo, que, Exú nada tem a ver com o demônio do cristianismo, afinal ele é uma energia como outra qualquer, e, o mesmo ocorre com babá egum. Mas, se são usados para o mau, então quem é o demônio afinal? Posso assegurar que não são essas entidades.
A palavra egum em sua origem, significa ossos, ou seja, os ossos dos que estão mortos, afinal, no que nos tornamos após a morte, senão ossos em baixo da Terra? Essa palavra é usada como referência para a entidade citada, como forma de se citar os entes queridos que se foram desse mundo. Quando falamos em egum, nos referimos antes de mais nada, aos nossos entes que se transladaram para o Orúm, Céu, isso na visão dos antigos africanos.
Lá na mãe África, era comum as pessoas cultuarem a alma de seus parentes mortos, como os católicos, por exemplo, cultuam aqui no Brasil. Porém, como na África tudo era energia, não acreditavam que as pessoas ao morrerem simplesmente sumiam. Acreditavam e ainda acreditam, que a morte é apenas uma transformação, e que, a alma de seus ancestrais vivia em um mundo diferente do nosso, mas, vivia e se, precisassem de sua ajuda, eles voltariam para interceder a seu favor.
Lembremo-nos de que, falamos de uma cultura muito, mas, muito antiga, que a exemplo de outras culturas, cultivavam a memória de seus mortos oferecendo-lhes tudo que gostavam quando aqui na Terra. Ofereciam bebidas e comida, em suas sepulturas, ofertavam de tudo que boca come e bebe, como forma de reverenciarem seus entes, e outros povos até mesmo tesouros deixavam na sepultura de seus entes.
Quando ofereciam comida e bebida para seus mortos, era com, a explicação de que, tanto a comida, quanto o vinho ou a cerveja era essenciais para manter as pessoas vivas, assim sendo, nada mais justo que ofertarem a seus mortos, o essencial para a vida. O vinho e a cerveja, lembremo-nos eram o que mais se bebia, devido a não terem água potável.
Os africanos sempre imolaram animais e aves para seus deuses, como forma de aplacarem sua ira e/ou de conseguirem favores dos mesmos. (Lembremos porém, que, outros povos faziam isso, como os romanos, por exemplo). Se iam à guerra, eles indicavam Ogum e a ele ofereciam sacrifícios como forma de saírem vitoriosos nas batalhas, outra hora invocavam Exú, se sentissem a necessidade de magia ou mesmo se uma mulher não conseguia engravidar, para que, suas colheitas fossem abundantes e a caça também, presenteavam Odé, e assim consecutivamente. Então, nada mais justo que oferecessem presentes a seus mortos, afinal, dividiam eles, o Orúm, Céu, com os Orixás.
Tinham até mesmo o egum, como forma de os livrarem de doenças, de feitiços, e quaisquer outras coisas que seus inimigos os enviassem. Hoje em dia, assentamos babá egum, com a finalidade de ajudar tanto na saúde, como para atrair clientes, e demais assuntos que se fizerem necessários dentro da casa do Santo. Não temos com isso, a intenção de matar ninguém, até mesmo porque, o verdadeiro candomblecista, não deseja a morte nem de seu pior inimigo, ao contrário, entregamos tudo nas mãos de Olorúm, Deus, e de seus Ministros, nossos Orixás.
Quando assentamos babá egum, a finalidade é buscar o equilíbrio da casa, pois bem sabemos que, devemos dar satisfação a nossos antepassados, de tudo que fazemos no mundo. Até mesmo para auxiliarem no jogo de Búzios quando se fizer necessário. Babá egum, é para a proteção e não para a morte das pessoas onde foi assentado. É ele quem vai para a rua buscar clientes, buscar notícias de alguém desaparecido, por exemplo, e, assim por diante.
Egum = ossos, ou seja, um culto às almas daqueles que se foram desse mundo. Como podemos ver, é apenas mais uma energia na casa, e seu uso depende muito de quem o cuida. Algumas pessoas insistem em nos chamar de adeptos do capeta, mas, em nome de “seu” Deus, cometem as maiores atrocidades e, se julgam perdoados, afinal “essa é a função de Deus “. Posso falar de cadeira, uma vez que tenho em minha casa dissidentes de outras religiões e muito já presenciaram essa frase.
Mesmo não concordando eu, com as disputas religiosas, acho que cada um come do que gosta, não posso deixar de relatar isso, pois, dentro de nossas casas, impera a fé em Deus e nos Orixás e assim sendo, o amor e o perdão.
Egum, nunca foi, nem nunca será coisa do diabo, como também nada dentro do Candomblé o é. Apenas vemos as coisas de outra forma, e, essa forma existe há mais de 8.000 anos. Somos descendentes de Reis e Rainhas, que aqui viveram e hoje, reinam na Natureza em nome de Olorúm, Zambiapongo, Olodumarê, ou seja, Deus. Afinal, são apenas nomenclaturas para o mesmo Ser.
Antes de se assentar babá egum no entanto, existem regras que devem ser observadas e analisadas, e somente o jogo de búzios poderá apontar a direção certa, porque devemos consultar Ifá antes de tudo que formos fazer. Não podemos mexer com uma força sem que Ifá determine, afinal ele é o mensageiro ,dos Orixás e a ele devemos recorrer para sanar quaisquer dúvidas a fim de, evitarmos complicações sérias na vida das pessoas.
Babá egum, é sim, uma ferramenta para o bem, e, nunca irá maltratar os que habitam a casa onde ele mora. Se deseja ter egum assentado em sua casa, procure saber com seu zelador (a) se sua casa pede tal ato, e se pedir, trate com atenção seus assuntos, pois são sérios como tudo dentro do Axé Orixá.
Não basta ter a pessoa, vontade de assentar babá egum, é preciso que o Orixá da casa assim o determine. Geralmente são feitas as consultas pertinentes ao Orixá da casa, bem como, Exú e demais entidades a fim de que, essa força venha se juntar as demais para o crescimento espiritual daquele Templo. Ifá é quem determinará tudo, nada podemos fazer sem antes irmos a ele buscar suas orientações.
Babá egum, é muito sério, e não se deve brincar com ele. A seriedade é quem nos garante no futuro, que determinada energia irá realmente prover a casa de tudo de bom que precise. Ele cuidará do zelador, de seus filhos de Santo, de sua família carnal, bem como, das famílias de seus filhos de Santo. Quando a morte se mostrar e levar algum membro da casa, ele também estará presente a fim de auxiliar aquele espírito em sua nova jornada. Assentar babá egum, não se trata de roubar crânios em cemitério ou coisa parecida, ele é como o nome diz, pai ancestral, ou seja, é um ancestral também dos Orixás e a ele devemos respeito e zelo.
Cemitério é local sagrado, local de descanso dos mortos, e não compete a quem quer que seja, adentrar nesse solo para se apoderar do que ali está. Devemos respeitar os mortos, afinal, cumpriram sua missão nesse mundo e hoje pertencem a outra esfera onde não temos o direito de entrar.