O culto Sagrado dos Orixás
resume-se nessas palavras: Hierarquia e Ancestralidade. Muitas pessoas se dizem
adeptas deste sagrado culto, mas, pouquíssimos são os que realmente se dedicam
a ele como determina suas leis.
Sermos do Santo, como se diz
popularmente, é respeitarmos leis severas, que nos são impostas por Olorúm,
para que possamos seguir nossa vida com dignidade. Algumas pessoas, no entanto,
preferem fazer-se de cegas para não enxergarem e respeitarem essas leis.
Muito comumente, vemos pessoas
procurarem outras com menos tempo de feitas para tomarem obrigações. Isso
contaria as leis. Sabemos que somos vistos conforme as obrigações que temos,
assim sendo, podemos ter 30 anos de feito, mas, se temos a obrigação de 03
anos, esta é nossa idade para nosso Orixá.
Acontece que, ao procurar uma
pessoa mais nova e com as obrigações em dia, esse mais velho encontrará um
problema muito sério: por exemplo: a pessoa tem 30 anos de Santo, com apenas a
obrigação de 07 e o outro mais novo, com, por exemplo, 25 anos de Santo, tem a
obrigação de 21. Certo, toma-se a obrigação de 14, mas com o passar do tempo,
terá esta pessoa que tomar a de 21, então ela passará a ser mais velha que seu
zelador atual.
Eis aí uma questão que ninguém
responde: o que fazer depois de suas obrigações em dia, e com um zelador mais
novo de feitura que esta?
Temos que nos atermos para esses
detalhes que muitas vezes passam despercebidos. Temos que seguir as leis que
nossos antepassados aqui deixaram.
Nunca uma pessoa mais nova pode
fazer algo para um mais velho. Sou do tempo em que, nem mesmo um banho de ervas
ou de abô, um mais novo jogava no mais velho.
Outra questão que muito se vê
hoje em dia são pessoas com apenas 01, 03 anos de santo, recolhendo Yawô,
jogando búzios e por aí vai.
Bem; ao que me consta, apenas
pessoas com obrigação de sete anos tem o direito de jogar búzios, isso se tiver
o dom, pois sem este, pode-se ter até mesmo obrigação de 21 anos, que não
conseguirá enxergar os preceitos que Ifá orienta. A feitura de Yawô, somente após os sete anos,
com a obrigação em dia e isso se o Orixá trouxer o Balaio de Axé, caso
contrário, será apenas um Ebomi, poderá participar de todos os rituais,
pertinentes as suas obrigações, mas jamais poderá ter uma casa aberta.
Os sacerdotes antigos, quando a
pessoa ia jogar búzios para entrar para a feitura, já viam se a pessoa trazia
ou não o Balaio de Axé, pois, se o trouxesse, todas as suas obrigações eram
feitas de forma a prepara-lo para a abertura de sua casa.
Para cada cabeça existe um
problema e para cada problema existe diferença na solução, mas o que não muda
nunca são as bases de nossa religião: a ancestralidade e hierarquia, assim
sendo, devemos nos ater a assuntos que realmente sejam de nosso alcance para
que não caiamos no erro e provoquemos assim a ira de nossos Orixás.
Algumas pessoas atrevem-se a
desobedecerem a esses preceitos e com isso, mais dia, menos dia terão ajustes
de contas a fazerem com seu Orixá, então, começa outra etapa muito discutida por
pessoas que não conhecem os mistérios da religião: se ele é pai de Santo, por
que passa por tanta dificuldade?
Acontece que ao ferir as leis de
Orumilá, a pessoa paga um preço alto, e na grande maioria das vezes este
preço
se reflete nas dificuldades que lhe são impostas, em doenças ente tantas
outras.
É imprescindível que respeitemos
a hierarquia pois sem ela nada nesse mundo funciona, muito menos uma casa de
Santo. Somente pessoas mais velhas sabem realmente discernirem os problemas
variados que acumulamos em nossa vida, e assim sendo, somente eles podem nos
orientar a encontrarmos a solução correta e definitiva.
Se desencarnar, por exemplo, uma
pessoa do Santo, muitos são os preceitos que devem ser feitos em seu cadáver,
mas, somente pessoas que tenham idade e conhecimento suficiente para isso,
podem realizar os preceitos para dar sepultamento àquela pessoa desencarnada.
Mesmo para rituais mais simples,
somente zeladores com tempo de Santo, podem praticar, pois tudo que vamos fazer
dentro do Axé Orixá, requer sabedoria e esta, somente com os anos passados
dentro de nossa casa, junto de nosso zelador para adquirirmos a mesma.
Acontece que muitas pessoas, sem
o mínimo preparo, saem por aí, jogando búzios, se atrevendo a se alto
denominarem sacerdotes, porém, quando encontram certos obstáculos é que mostram
que realmente não possuem nenhum atributo para o exercício.
Pé de dança, dialeto, não mostram
sabedoria nos preceitos do Orixá, somente dentro do quarto sagrado, o Ronkó, é
que podemos avaliar se a pessoa tem mesmo o conhecimento que diz ter.
Assim, devemos observar os
mínimos detalhes ao entrarmos em um Templo, pois muitos são os enganadores e
poucos os que realmente sabem o que fazem.
Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi:
Odé Mutaloiá.