Lembro-me com freqüência dos tempos em que vivia na roça de Mametú Indembelouí, quem me iniciou na ciência do culto aos Orixás. Lembro-me de seus ensinamentos que eram passados a mim e aos meus irmãos, como gotas de água em um oceano, ou seja, aos poucos.
Hoje em dia, as pessoas ao pretenderem adentrar no culto, já nos chegam com uma ânsia de poder que jamais imaginei ver. E o que mais dói, é que essa ânsia é em ter poder para destruir a vida dos outros. Já outras pessoas já nos chegam com tanta vontade de saber, mas, sem se preocuparem se estão prontos ou não para adquirirem tais conhecimentos. E isso vem fazendo com que nossa religião cada vez mais tenha pessoas totalmente despreparadas para exercerem o sacerdócio.
Com saudades me lembro também de como eram feitas as coisas do santo dentro daquela casa. Por exemplo, se íamos apanhar ervar para fazer o abô, em primeiro lugar eram escolhidas as pessoas que participariam daquela cerimônia. Essas pessoas se resguardavam dentro da casa de santo, três dias antes do ritual, a fim de se purificarem de relações sexuais e uso de bebidas alcoólicas.
No dia do ritual, saíamos em jejum, e antes do sol nascer, levávamos oferendas para Agué, e após os ritos na entrada da mata, entrávamos nela e sem conversar íamos apanhando as folhas, ao som de cânticos e reza para as divindades. Íamos e voltávamos em silêncio, sendo que o mesmo só era quebrado pelo som das rezas e cantigas.
Após a colheita das INSABAS, retornávamos ao barracão e ali, em uma esteira previamente preparada, depositávamos as insabas e somente depois é que íamos ter direito ao café, um cigarrinho (escondido) para quem fumasse etc. e tal. Na caída da noite, após as ervas estarem plenamente descansadas da colheita e transporte, é que começávamos o preparo o banho de abô que serviria para purificar não somente aos filhos da casa, mas, a todos que necessitassem.
Hoje em dia, ao saírem para a colheita de ervas, sejam para o abô ou para a feitura de um Yawô, as pessoas mais parecem que vão para uma festa, tamanha a algazarra que fazem dentro e fora da mata.
Ao dar início ao preparo das comidas de santo, ou mesmo de ebó, jamais existia conversas na cozinha, as únicas palavras pronunciadas eram as rezas necessárias para aquele ritual. Já tive a oportunidade de ver em uma cozinha de santo, rádio tocando como se estivessem preparando qualquer coisa, menos comida a ser servida aos nossos Deuses.
Realmente, saudosos aqueles tempos, nos quais se faziam fundamentos de santo e não brincadeiras como se vê hoje em dia. E isso sem relatar o comportamento dos iniciados de hoje, que nada se parecem com os de outrora.
Será que estariam nossos orixás satisfeitos com essas mudanças em seus rituais? Creio que não, pois que me foi ensinado que candomblé é hierarquia e ancestralidade, assim sendo, jamais essas atitudes condizem com nossos antepassados que aqui viveram e deram suas vidas para que pudéssemos ter essa religião que tanto tem feito por quem a procure.
Se pudesse voltar ao tempo, com certeza seria muito mais feliz, pois teria a chance de ainda assistir a fundamentos ou ORÔS como chamamos, que nunca mais serão vistos na maioria das casas de santo deste milênio.
Sérgio Silveira, Tatetú “Inkisi Lambanranguange, Odé Mutaloiá”.
odemutaloia@hotmail.com
Hoje em dia, as pessoas ao pretenderem adentrar no culto, já nos chegam com uma ânsia de poder que jamais imaginei ver. E o que mais dói, é que essa ânsia é em ter poder para destruir a vida dos outros. Já outras pessoas já nos chegam com tanta vontade de saber, mas, sem se preocuparem se estão prontos ou não para adquirirem tais conhecimentos. E isso vem fazendo com que nossa religião cada vez mais tenha pessoas totalmente despreparadas para exercerem o sacerdócio.
Com saudades me lembro também de como eram feitas as coisas do santo dentro daquela casa. Por exemplo, se íamos apanhar ervar para fazer o abô, em primeiro lugar eram escolhidas as pessoas que participariam daquela cerimônia. Essas pessoas se resguardavam dentro da casa de santo, três dias antes do ritual, a fim de se purificarem de relações sexuais e uso de bebidas alcoólicas.
No dia do ritual, saíamos em jejum, e antes do sol nascer, levávamos oferendas para Agué, e após os ritos na entrada da mata, entrávamos nela e sem conversar íamos apanhando as folhas, ao som de cânticos e reza para as divindades. Íamos e voltávamos em silêncio, sendo que o mesmo só era quebrado pelo som das rezas e cantigas.
Após a colheita das INSABAS, retornávamos ao barracão e ali, em uma esteira previamente preparada, depositávamos as insabas e somente depois é que íamos ter direito ao café, um cigarrinho (escondido) para quem fumasse etc. e tal. Na caída da noite, após as ervas estarem plenamente descansadas da colheita e transporte, é que começávamos o preparo o banho de abô que serviria para purificar não somente aos filhos da casa, mas, a todos que necessitassem.
Hoje em dia, ao saírem para a colheita de ervas, sejam para o abô ou para a feitura de um Yawô, as pessoas mais parecem que vão para uma festa, tamanha a algazarra que fazem dentro e fora da mata.
Ao dar início ao preparo das comidas de santo, ou mesmo de ebó, jamais existia conversas na cozinha, as únicas palavras pronunciadas eram as rezas necessárias para aquele ritual. Já tive a oportunidade de ver em uma cozinha de santo, rádio tocando como se estivessem preparando qualquer coisa, menos comida a ser servida aos nossos Deuses.
Realmente, saudosos aqueles tempos, nos quais se faziam fundamentos de santo e não brincadeiras como se vê hoje em dia. E isso sem relatar o comportamento dos iniciados de hoje, que nada se parecem com os de outrora.
Será que estariam nossos orixás satisfeitos com essas mudanças em seus rituais? Creio que não, pois que me foi ensinado que candomblé é hierarquia e ancestralidade, assim sendo, jamais essas atitudes condizem com nossos antepassados que aqui viveram e deram suas vidas para que pudéssemos ter essa religião que tanto tem feito por quem a procure.
Se pudesse voltar ao tempo, com certeza seria muito mais feliz, pois teria a chance de ainda assistir a fundamentos ou ORÔS como chamamos, que nunca mais serão vistos na maioria das casas de santo deste milênio.
Sérgio Silveira, Tatetú “Inkisi Lambanranguange, Odé Mutaloiá”.
odemutaloia@hotmail.com