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segunda-feira, setembro 30, 2013

OYÁ MENSÁ ORÚM




“Yansãn, comanda os ventos, com a força dos elementos”. Assim começa a música, uma linda canção que Maria Bethânia gravou em homenagem a sua Mãe Oyá. Realmente, Oyá comanda os ventos, mas também os raios, o fogo em sua forma benéfica, comanda as tempestades, e ainda é a grandiosa Senhora dos mortos.

Em sua terra natal, África, ela é responsável por tudo isso. Segundo as crendices africanas, as tempestades são a fúria dela e de Xangô seu esposo. Dentro de uma casa de Santo, nada se faz durante uma tempestade, porque Oyá está despejando sobre o Planeta, sua fúria com aqueles que são injustos, que mentem, caluniam, enfim: sobre todos que agem de forma errada com seus semelhantes.

Seu culto é antigo, e grande seu poder e força. Também é associada a Justiça, sendo juntamente com Xangô, a justiça de Olorúm sobre nossas cabeças. Governa ainda o bambuzal, onde se recolhe em seus momentos mais íntimos, aqueles em que, está pronta para nos conceder o bem, como ainda, pronta para nos fazer calar a língua que fere a moral dos outros. De dentro do bambuzal, ela governa egum, e determina que este vá onde mandar para cumprir a missão que a ele determinou.

Mas, de onde vem seu culto afinal?

O culto a Oyá, tem seu inicio, no Rio Níger, o mais antigo da África. Torna-se o principal Rio pois que, através de seus afluentes, ele se espalha pelas principais cidades. Ali, naquele Rio, reside a mulher com maior poder de toda a África: Oyá. Por ser a moradora do rio de 09 braços como é chamado o Níger, além de ser a mãe desse rio, passou a ser também a mãe dos nove céus. Isso porque os africanos antigos, acreditavam que o céu se divide em nove e no nono céu é que se encontra a morada de Olorúm. Olô = Senhor, Dono, Orúm = Céu. Olorúm: senhor, dono do céu, ou seja: Deus.

Sua maior vocação é ser guerreira, combater incansavelmente os inimigos de seu povo, e como Orixá, dar combate também aos que tentam prejudicar seus filhos. Também tem gosto pela luta do dia a dia. Tais quesitos fizeram com que ela, não aceite a forma feminina de viver, ou seja: prefere ir à luta em prol do que deseja, a ter que ficar em casa, cuidando do lar, dos filhos e do marido. Oyá é representada pela mulher que de manhã após sua higiene e seu desjejum, sai de casa em busca do sustento para seus filhos e para si mesma. Não aceitando em hipótese alguma que seu homem a provenha de nada.

Mas, isso não a afasta de forma alguma dos encantos, e dos prazeres que somente uma mulher possui e sabe proporcionar ao homem amado. É sensual, possui uma feminilidade à toda prova e é muito fogosa também. Contam as lendas que Yansã, teve muitos homens e amou a todos de forma verdadeira e pura. E isso a fez transformar-se em um Orixá. Mas, o fato de ter tido vários parceiros, não significa em hipótese alguma que ela fosse traidora. Ao contrário, quando ama um homem, se dedica e vive somente para ele, ela é ainda possessiva e ciumenta aos extemos e ai do homem que a trair, pois ela o punirá severamente.

Os chifres de búfalo, quando postos em seu assentamento, significam a virilidade da mulher e sua fertilidade, isso porque, na África esse animal sempre foi visto como símbolo da fertilidade e da virilidade. Somente a Yansã, pertencem os chifres de búfalo, afinal foi ela quem conseguiu segurar esse animal e assim transformar-se em um, sendo à partir de então, conhecida como a mulher tanto da caça como da guerra.

Nada impede Oyá de conseguir o que quer. Lutará de todas as formas para ter aquilo que deseja. Heroína de Xangô, pelo fato de ter sido ela a defender seu reino, quando atacado por egum. Também, segundo algumas lendas, foi Oyá que conquistou sete reinos e deu de presente para seu amado, Xangô, fazendo dele Rei absoluto por onde passava.

Essa ação de deu por amar muito a Xangô e também pelo fato de preferir a vida livre, as andanças pelo mundo, pois que, como guerreira, sempre se sentiu atraída pelas batalhas e pelo desbravamento. Caráter forte, temperamental, Oyá nunca se curvou nem se curvará para ninguém, além de Olorúm. Busca sempre a vida em sua totalidade e não perde tempo com questionamentos que não a levarão mais alto e mais longe em sua imensa ânsia do saber. Tem sede pelo conhecimento e sempre que pode, se dedica a obtê-lo.

Apesar de guerreira, possui seus dotes femininos, e o maior deles é o encanto, devido a sua beleza que seduziu a todos que a conheceram. Como Senhora da tempestade, demonstra seu poder e sua fúria. Nada se compara ao poder destruidor de uma tempestade e aí está a demonstração de Oyá. Como dona do fogo, nos favorece no cozimento dos alimentos, pois guarda para si o segredo do fogo, mas em sua forma domesticada, ou seja: o fogo que cozinha os alimentos, que prepara nossa mesa e aquece nossa casa no inverno.

Oyá deseja um homem, mas para amá-la e respeitá-la e não para a sustentar como as outras mulheres. Afinal a sua busca constante por tudo, faz dela uma mulher independente e totalmente capaz de se sustentar e ainda mais: de sustentar seu amado. Não foge nunca de uma batalha, porém, a vende sempre utilizando a justiça como meta principal em sua vida.

Como Senhora dos mortos, é ela a principal guardiã de seus segredos, pois segundo as lendas, quando morremos, Oxóssi pega nosso egum e o entrega a Obaluayê e este por sua vez o entrega aos cuidados de Oyá para que ela o mantenha em uma cela à espera do momento de serem julgados seus atos aqui na Terra. Ainda dentro do preceito de egum, é Yansã quem determina quando e como ele pode atuar em nossa vida.

Sabemos que egum é alma de morto e como tal, nem sempre tem o discernimento do mal e do bem, compete a Oyá segurar seu poder, sua força e assim o manter sob seu domínio para que ele não saia a prejudicar os seres vivos.

Determinadas qualidades de Oyá, sequer são suspensas dentro de casa, isso porque, trazem consigo toda vez que vêm à Terra 21 eguns e esses não podem de forma alguma ficarem dentro de casa. E essas Oyás são feitas também de forma diferente em seus filhos, devido a seus fundamentos serem mais complexos que os de outros Santos.

Porém, independentemente de sua qualidade, Oyá é e sempre será a preferida de Xangô e de Ogum, dado que sua vocação a guerra, seduziu os dois. Mãe soberana, comanda as coisas com seu jeito ímpar de ver e de agir. Nunca se dá ao prazer do descanso, pois acredita que somente através da batalha podemos conquistar o que almejamos.

Essa grande Senhora, reina absoluta em muitas casas a ela dedicadas, mas, mesmo em outras casas onde o Santo padroeiro é outro, ela ali está presente, pronta para trazer para aqueles que nela buscam, o amparo o conforto e a vitória perante seus inimigos. Quando ama, ama profundamente e este amor é expresso de várias formas, porém, nunca com muito carinho porque como guerreira, não sente-se muito à vontade para acariciar e ser acariciada.

Não se engane no entanto, com ela. É mãe protetora e valente. Conta uma lenda que foi capturada por Odé quando este encontrou o par de chifres de búfalo que ela usava e com isso, foi obrigada a morar com ele e Oxum, sendo que esta dava para Oyá seus afazeres domésticos.

Mas, Oxum vendo a predileção de Odé por Oyá, orientou a mesma que engravidasse porque seu esposo 
tinha muita vontade de ter filhos, mas ela Oxum, não conseguia engravidar, e que com certeza ao dar à luz um filho seu, Odé a deixaria ir embora.

Então Oyá engravidou de Odé e como consequência dessa gravidez nasceram gêmeos, que aqui no Brasil são sincretizados com São e Cosme e São Damião. Ao nascer seus filhos ela, esperou em vão que Odé a libertasse, porque para isso tinha que lhe devolver seus chifres de búfalo. Passaram-se os anos, e quando seus filhos completaram sete anos de nascidos, foram brincar e encontraram dois objetos muito estranhos.

Pegaram-no e foram correndo mostrar para a mãe, pois nunca tinham visto aquilo. Então para sua surpresa, Oyá viu que eram os chifres que ela utilizava para se transformar em búfalo e disse aos filhos: “meus filhos amados, anos e anos esperei em vão que seu pai me devolvesse essas peças e agora vocês os encontraram. 

Preciso partir imediatamente mas vou deixar outros iguais a estes com vocês e quando precisarem de mim, por estarem em perigo ou qualquer outro motivo, basta que esfreguem os mesmos um no outro e virei 
imediatamente para seu socorro.

E feito isso, Oyá partiu e deixou seus filhos aos cuidados de Oxum e Odé. Como podemos ver, grandes foram as dores que suportou. Ocorre que quando foi capturada, ela estava no reino de Odé caçando sem que esse soubesse, porque o reino de Xangô esta pobre e as pessoas passavam fome. Ao ver que em um reino vizinho a caça era farta, ela prontamente se disfarçou em búfalo e foi caçar para alimentar seu esposo e seus súditos. Sendo assim, precisava de todas as formas voltar para seu amado, afinal tinham já, mais de sete anos que era escrava de Odé.  

Até hoje quando seus filhos estão em perigo grande e iminente, existem certos fundamentos que se faz para que ela venha imediatamente prestar socorro àqueles que a cultuam e amam. Mas somente quem realmente sabe o que está fazendo pode usar desses recursos, pois que, se Oyá chegar e não encontrar motivo verdadeiro para ter sido chamada se volta contra quem a chamou sem precisão.

Assim é Oyá: grandiosa, guerreira, temperamental, batalhadora e justa. Aquela que não se nega a socorrer quem dela precise, mas que, esteja com a razão acima de tudo.

EPARREI OYÁ!