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quarta-feira, maio 25, 2011

SER DO SANTO

Muitas são as pessoas que se dizem do santo. Anunciam aos quatro ventos que são raspados, que fazem parte desse maravilhoso Universo chamado Orixá. Outros propagam que são Sacerdotes e Sacerdotisas de nossa Religião.

Mas, a verdade, é que de inúmeras pessoas que se iniciam em nossos preceitos, muitos poucos podem se considerar verdadeiramente parte do Mundo do Santo.

Isso porque sermos parte desse Universo não é fácil, pois, implica em uma série de fatores que em sua grande maioria as pessoas não estão preparadas para encarar e uma delas é o afastamento da vida mundana.

Um verdadeiro filho de Santo, não tem vida social. Por maior que seja o evento que pretende participar, sempre terá que abrir mão do mesmo para se dedicar aos assuntos do Orixá, pois como seres que governam a natureza, não compactuam com atos como: bebida, sexo e outros.

Sempre que uma “roça” entra em função, é de suma importância que seus filhos, ali estejam presentes de corpo e mente limpos para que possam dar sua contribuição nos afazeres que aquele Orixá solicita para que possa assim a pessoa que está passando pelo processo e até mesmo os que ajuda, receber as dádivas daquela entidade.

O mesmo ocorre e de forma muito mais rigorosa com os sacerdotes e demais pessoas que possuam cardo de alta hierarquia dentro de uma “roça” de Candomblé.

Como sacerdotes, não temos direito a festas, sexo, bebidas e muitos outros prazeres da vida com abundância, pois que nunca sabemos quando seremos chamados para praticarmos nosso sacerdócio. É uma missão árdua e em sua grande maioria as pessoas fracassam.

Para que possamos nos dedicar literalmente ao sacerdócio temos sim, que estar prontos para abrir mão de muita coisa em nossa vida. Quantas vezes somos chamados, por exemplo, em plena comemoração do ano novo para intercedermos na vida de alguém?

Quantas vezes estamos nos preparando para uma festa, um jantar e nosso telefone toca, e um consulente nos requisita para algo?

E, nos negarmos a atender é sermos negligentes com nosso Santo. Temos que estar prontos sempre, não importa a hora, o dia ou mesmo o momento. E se formos conclamados a parar um ato por mais prazeroso que seja, temos a obrigação de atender, pois assim desejou nosso Orixá.

Como pode, por exemplo, um médico, se negar a atender um paciente seu que sofre um acidente e está muito mal em um hospital?

Como pode um obstetra se negar a atender uma parturiente na sua hora? O mesmo acontece conosco!

Ser do Santo, não é somente sair por aí propagando aos quatro ventos que somos. Mas sim, ter uma vida de reclusão em sua grande maioria. Uma vida de sacrifício, de doação onde muito pouco recebemos.

É preciso termos em nossa consciência de que, nada podemos fazer esperando receber em troca.

Nosso Pai ou Mãe saberá nos compensar se assim formos merecedores. O mesmo ocorre com um ogã, uma ekédi. É de suma importância que estejam prontos sempre, para abrir mão de sua vida particular em beneficio dos assuntos do Santo.

Muitos batem no peito e se dizem ogã, mas pouquíssimos são os que realmente fazem jus ao cargo que receberam, porque preferem a vida do mundo do que se recolherem em clausura, em benefício de outro quando são solicitados pelos Orixás.

As pessoas precisam entender de que se, receberam um cargo, é porque aquele Orixá confiou nele para os momentos em que mais precisasse. E esses momentos são justamente as funções que existem em um Templo, pois, como pode um zelador sozinho se dedicar a tanta coisa?

Ser do Santo, não é festa, mas sim, uma vida de dedicação e submissão.

Sérgio Silveira. Tatetú N’Inkisi: Odé Mutaloiá.