Muitos sonham em ser do Santo, e
os feitos sonham em ter sua casa aberta. Mas, o que poucos sabem é que se
precisa de muito mais que vontade para se ter uma “roça” aberta.
Todos podem se iniciar para o
Santo, mas, muito poucos são os que carregam o “balaio de axé”, que é o cargo
que seu santo traz para ter-se o direito de abrir um Templo.
Os zeladores mais antigos
costumavam observar se a pessoa tinha ou não, o dom para ter casa aberta,
durante seu processo de iniciação e muitas vezes antes mesmo do rito inicial.
Tomava-se todo o cuidado para não cair no erro de dar casa para quem não
tivesse direito a isso.
Porém, mesmo com o cargo de
zelador e com as obrigações em dia, era um costume dos mais antigos, não permitirem
que as pessoas com menos de 48 ou 50 anos de idade, abrisse sua casa.
Este ato devia-se tão somente à
maturidade que requer o sacerdócio.
Para se ter uma casa aberta,
temos que entender antes de tudo, estamos assumindo responsabilidade não somente
com nosso Santo, mas, também, com os Orixás que nos buscam e com a vida das
pessoas que confiam seu destino em nossas mãos.
Como ouvi de meu Pai, meu Amigo,
o Alabê, Orlando Santos: "Temos que ter responsabilidade primeiro com
nossa vida, para depois assumirmos compromisso com a vida de terceiros”. E isso
ele me disse, confirmando a informação de que pessoas como a saudosa Mãe
Menininha, o saudoso Luís da Muriçoca, não permitiam que as pessoas abrissem
seus Templos antes do amadurecimento imprescindível para o lido com os assuntos
da Religião.
Encontramos hoje, pessoas que além
de serem novas no Santo, não possuem o mínimo discernimento necessário para
terem uma casa aberta. E essas pessoas se auto intitulam zeladores e zeladoras
de Orixá, mas nem mesmo sabem o significado de certas rezas e cantigas que usamos
em nossos rituais.
Encontramos outros, que dizem aos
quatro cantos do mundo: “eu mesmo corto para meu Orixá”! Oras se é tão fácil assim, porque temos que
ter um zelador que cuide de nossa cabeça?
Não importa o tempo de Santo que
temos, a lei determina que tenhamos alguém para cortar para nosso Santo. Esta é
uma forma de Olorúm, mostra que ninguém é alto suficiente nesse mundo, e que
sempre precisamos um do outro, assim como os Orixás, que precisam uns dos
outros. A prova disso, é que: Todos dependem de Exú, e este depende, por exemplo,
de Ogum de Odé e dos demais.
Os demais precisam de Ogum que é
a estrada, os caminhos, e ele juntamente com os demais Santos depende de Odé
para caçar e alimentar as tribos.
Ogum e Odé dependem de Oxum que é
o rio, o leite da Terra, e esta depende de outros. Todos dependem de Agué por
causa das folhas, mas ele depende dos demais, inclusive de Obaluayê que é o
dono do chão, e assim consequentemente, nossos Orixás, uns vão dependendo dos
outros, mas todos são irmãos e dependentes do único que não depende de nada:
Olorúm Deus.
Bem, se assim o é no reino dos
Orixás, por que nós, pobres, fétidos seres humanos não dependeremos de ninguém?
Já encontrei nessa minha humilde
jornada, pessoas que mesmo novas de Santo, buscam um conhecimento que não lhes
pertence ainda, e ao nos negarmos a passar, pois seguimos ordens, somos até
mesmo espraguejados.
Já vi pessoas que solicitam
fundamentos até mesmo de como assentar sua cumeeira, mas se negam a serem
filhos de Santo, pois dizem que os zeladores são um bando disso ou daquilo. Mas,
o engraçado é que ninguém se raspa no Santo.
Se desejamos ter fundamentos, é
de suma importância que tenhamos um zelador ou zeladora e este sejamos fiéis. Antigamente
as pessoas obedeciam a seus zeladores, pois estavam obedecendo a seus Orixás,
mas hoje, menosprezam os mais antigos e se auto intitulam pais e mães de Santo,
mas não enxergam o primeiro erro: somos zeladores e não pais e mães de Santo,
até porque se estes possuem um Pai, este é Deus que a tudo criou.
Por esses e muitos outros motivos
é que os mais antigos na Religião não permitiam que as pessoas abrissem suas
casas antes do amadurecimento necessário.
Quantos não cometeram erros, pois
não tinham ainda o tempo ideal para assumirem o sacerdócio?
Encontramos sempre, pessoas as
mais humildes e bem antigas no Santo, que se orgulham de abaixar-se para um
Orixá, mas, os de hoje, se negam aos preceitos e se acham acima de tudo e de
todos.
Quando encontramos uma pessoa do
Santo, sofrendo em demasia, não nos enganemos, ela está apanhando do Santo,
pois este bate sim, sem dó naqueles que não seguem seus preceitos.
A hierarquia é tão séria, que mesmo
Olookê, dependeu de outros Orixás para vir para a Terra. Mas poucos são os que
o conhecem e sabem de seus preceitos. Santo, queridos irmãos, é devoção, amor e
submissão a leis muito sérias que regem o Universo, pois este é regido por
Olorúm.
Assim, se você tem cargo para
zelador, tenha calma, espere a hora que lhe for autorizado abrir seu Templo e
verá que da mesma forma que a fruta só é saborosa colhida no tempo certo, assim
nós, seres humanos, somente poderemos ser bons sacerdotes dentro do hábil de
Deus e dos Orixás.
Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi
Odé Mutaloiá, Presidente do Conselho religioso da UNESCAP.