Peço licença a Zambi, a Oxalá e a todos os antepassados para falar um pouco deste maravilhoso Orixá. Muito difundido no Brasil, tanto no Candomblé como na Umbanda, porém muitas vezes incompreendido.
Conta sua lenda que ele nasceu da união entre Oxalá e Nanã Buruquê. Porém tinha uma doença grave, a lepra, o que o fez ser rejeitado por sua mãe que o abandonou no mato para que os bichos o comessem, uma vez que naquela época, esta doença era vista até mesmo como uma praga dos deuses e quem a tivesse, dificilmente seria curado. Aliás, nunca era curado, estava condenado à morte.
Ao ser abandonado no mato, começou a sentir fome e frio, e seu choro foi ouvido por Yemanjá que passava nas redondezas. Ela compadeceu-se dele e o levou para sua casa onde o tratou com folhas de bananeira curando suas feridas. Porém o tempo foi passando e ele já não mais aceitava o seio que sua mãe adotiva o oferecia, pois deseja comer.
Daí veio para ela uma questão difícil: com o que alimentar a criança? Então teve a idéia de apanhar um pouco de areia da praia e nela estourar um milho que existia fazendo o doburú, pipocas, que é seu alimento favorito até hoje.
Ao tomar a idade adolescente, como ainda tinha feridas horrendas em seu corpo, passou a se vestir do azê, espécie de roupa confeccionada com palha da costa. E assim andava por todos os lugares e as pessoas diziam que seu rosto era terrível de ser visto dado a sua doença, o que lhe revoltava.
Ele cresceu, tornou-se um grande guerreiro, caçador, feiticeiro, e descobriu os segredos da morte. Sua mãe biológica então, passou a sentir vontade de ver seu filho, mas ele a rejeitava, pois sabia de sua história. Yemanjá, sempre matriarca, amorosa, o aconselhava a aceitar sua mãe, pois ela o tinha parido. Ele dizia então que a única mãe que conhecia era ela, pois que o alimentou, e curou suas feridas horrendas.
Porém mesmo depois de crescido, não retirava aquela roupa de palha, o que fez com que Oyá, muito curiosa, esperasse atrás de umas árvores por onde ele passaria. Ao vê-lo se aproximando ela ordenou ao vento que soprasse com toda força possível, e este assim fez, levantando sua roupa e então Oyá contemplou o rosto mais lindo que já vira em sua vida.
Ele se revoltou.com sua atitude e depois de longa conversa fez com ela prometesse que não contaria para ninguém como ele era, pois se revoltava em saber da discriminação que sofria.
E assim foi se criando a história de um dos Orixás mais amados no panteão afro. Ao se trasladar de volta ao Orúm, Céu, ele foi incumbido por Olorúm, Deus, de ser o Orixá da varíola, da bexiga e de todas as doenças que atingiam e matavam os povos das várias nações africanas e do mundo.
E esta incumbência ele traz até os dias de hoje, sendo conhecido como o médico dos pobres. Muito embora seu poder seja ilimitado, sua humildade o distingue de todos os demais seres existentes. Não carrega nem suporta a soberba, é desapegado de bens materiais, pois sabe dos mistérios que envolvem a morte, porém jamais deixa um filho seu ou quem o cultue, passar por dificuldades. Sempre providenciando para que a pessoa tenha tudo àquilo que lhe é necessário a uma vida confortável.
A única coisa que pede em troca, é que a pessoa por ele agraciada, não deixe de atender a quem passe por privações independente de qualquer coisa. Sua vestimenta espelha bem sua humildade: enquanto outros orixás se vestem com luxo, dado aos elementos por eles governados, este maravilhoso orixá, veste-se até os dias de hoje com palha da costa, usa guizos, e sua comida preferida é o doburú, pipoca feita na areia.
Seu nome quando traduzido mostra toda a sua importância e magnitude: Obá – Rei, Ilú – Céu, Ayê – Terra. Ou seja: Rei do Céu e da Terra. Mas a humildade que expressa é muito mais elevada que qualquer ato cerimonial ou até mesmo os títulos que recebeu de Olorúm, Deus.
É comum nos terreiros de Candomblé, as festas em sua homenagem. E a principal delas é o Olubajé. Olú, aquele que, Ba, aceita Jé, comer. Aquele que aceita comer. Nesta festa são servidas todas as suas comidas, juntamente com as comidas de seu irmão Oxum Marê.
Mas, é comum nos candomblés, serem oferecidos presentes para ele toda segunda feira, que é seu dia, a fim de pedir que ele ajude tanto ao zelador da casa quanto aos filhos e demais clientes que ali freqüentam. Alguns fazem o tabuleiro de Obaluyê, par descarregar a casa e abrir caminhos, outros optam por uma cerimônia simples na qual apenas ofertam seu doburú e de joelhos pedem por todos.
Também é deveras invocado quando existe algum problema de doença, feitiço ou mesmo praga em alguém. Senhor da desintegração, governante dos cemitérios, local que passou parte de sua vida estudando este mistério e também onde teve contato com seu antecessor, Omulú, é o responsável por nossas almas e tem na morte sua regência maior, porque existe a necessidade de morrer um para nascer outro, garantindo assim a continuação de nossa espécie.
Sua cor é, vermelho, preto e branco. Sua comida é o doburú, feijão preto cozido, acarajé, frutas, peixe, e seu sacrifico é de cabrito, em algumas casas porco, frangos, pombo, pato e galinha de angola.
Sempre que precisamos dele, ali está, pronto a nos socorrer e nos purificar tanto das doenças quanto de feitiços, pragas, perseguição de egum, e outros males que afligem tanto nosso corpo material como o espiritual.
Louvemos este senhor com a mesma humildade que ele tanto pratica. Mas nos lembremos de sua suma importância no panteão afro, e de sua magnitude entre os nossos antepassados.
ATOTÔ AJUBERÚ, BALÉ, BALÉ.
MISERICÓRDIA DE NÓS MEU PAI!
Texto de Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi Lambanranguange, Odé Mutaloiá. Escritor, pesquisador e babalorixá.
Conta sua lenda que ele nasceu da união entre Oxalá e Nanã Buruquê. Porém tinha uma doença grave, a lepra, o que o fez ser rejeitado por sua mãe que o abandonou no mato para que os bichos o comessem, uma vez que naquela época, esta doença era vista até mesmo como uma praga dos deuses e quem a tivesse, dificilmente seria curado. Aliás, nunca era curado, estava condenado à morte.
Ao ser abandonado no mato, começou a sentir fome e frio, e seu choro foi ouvido por Yemanjá que passava nas redondezas. Ela compadeceu-se dele e o levou para sua casa onde o tratou com folhas de bananeira curando suas feridas. Porém o tempo foi passando e ele já não mais aceitava o seio que sua mãe adotiva o oferecia, pois deseja comer.
Daí veio para ela uma questão difícil: com o que alimentar a criança? Então teve a idéia de apanhar um pouco de areia da praia e nela estourar um milho que existia fazendo o doburú, pipocas, que é seu alimento favorito até hoje.
Ao tomar a idade adolescente, como ainda tinha feridas horrendas em seu corpo, passou a se vestir do azê, espécie de roupa confeccionada com palha da costa. E assim andava por todos os lugares e as pessoas diziam que seu rosto era terrível de ser visto dado a sua doença, o que lhe revoltava.
Ele cresceu, tornou-se um grande guerreiro, caçador, feiticeiro, e descobriu os segredos da morte. Sua mãe biológica então, passou a sentir vontade de ver seu filho, mas ele a rejeitava, pois sabia de sua história. Yemanjá, sempre matriarca, amorosa, o aconselhava a aceitar sua mãe, pois ela o tinha parido. Ele dizia então que a única mãe que conhecia era ela, pois que o alimentou, e curou suas feridas horrendas.
Porém mesmo depois de crescido, não retirava aquela roupa de palha, o que fez com que Oyá, muito curiosa, esperasse atrás de umas árvores por onde ele passaria. Ao vê-lo se aproximando ela ordenou ao vento que soprasse com toda força possível, e este assim fez, levantando sua roupa e então Oyá contemplou o rosto mais lindo que já vira em sua vida.
Ele se revoltou.com sua atitude e depois de longa conversa fez com ela prometesse que não contaria para ninguém como ele era, pois se revoltava em saber da discriminação que sofria.
E assim foi se criando a história de um dos Orixás mais amados no panteão afro. Ao se trasladar de volta ao Orúm, Céu, ele foi incumbido por Olorúm, Deus, de ser o Orixá da varíola, da bexiga e de todas as doenças que atingiam e matavam os povos das várias nações africanas e do mundo.
E esta incumbência ele traz até os dias de hoje, sendo conhecido como o médico dos pobres. Muito embora seu poder seja ilimitado, sua humildade o distingue de todos os demais seres existentes. Não carrega nem suporta a soberba, é desapegado de bens materiais, pois sabe dos mistérios que envolvem a morte, porém jamais deixa um filho seu ou quem o cultue, passar por dificuldades. Sempre providenciando para que a pessoa tenha tudo àquilo que lhe é necessário a uma vida confortável.
A única coisa que pede em troca, é que a pessoa por ele agraciada, não deixe de atender a quem passe por privações independente de qualquer coisa. Sua vestimenta espelha bem sua humildade: enquanto outros orixás se vestem com luxo, dado aos elementos por eles governados, este maravilhoso orixá, veste-se até os dias de hoje com palha da costa, usa guizos, e sua comida preferida é o doburú, pipoca feita na areia.
Seu nome quando traduzido mostra toda a sua importância e magnitude: Obá – Rei, Ilú – Céu, Ayê – Terra. Ou seja: Rei do Céu e da Terra. Mas a humildade que expressa é muito mais elevada que qualquer ato cerimonial ou até mesmo os títulos que recebeu de Olorúm, Deus.
É comum nos terreiros de Candomblé, as festas em sua homenagem. E a principal delas é o Olubajé. Olú, aquele que, Ba, aceita Jé, comer. Aquele que aceita comer. Nesta festa são servidas todas as suas comidas, juntamente com as comidas de seu irmão Oxum Marê.
Mas, é comum nos candomblés, serem oferecidos presentes para ele toda segunda feira, que é seu dia, a fim de pedir que ele ajude tanto ao zelador da casa quanto aos filhos e demais clientes que ali freqüentam. Alguns fazem o tabuleiro de Obaluyê, par descarregar a casa e abrir caminhos, outros optam por uma cerimônia simples na qual apenas ofertam seu doburú e de joelhos pedem por todos.
Também é deveras invocado quando existe algum problema de doença, feitiço ou mesmo praga em alguém. Senhor da desintegração, governante dos cemitérios, local que passou parte de sua vida estudando este mistério e também onde teve contato com seu antecessor, Omulú, é o responsável por nossas almas e tem na morte sua regência maior, porque existe a necessidade de morrer um para nascer outro, garantindo assim a continuação de nossa espécie.
Sua cor é, vermelho, preto e branco. Sua comida é o doburú, feijão preto cozido, acarajé, frutas, peixe, e seu sacrifico é de cabrito, em algumas casas porco, frangos, pombo, pato e galinha de angola.
Sempre que precisamos dele, ali está, pronto a nos socorrer e nos purificar tanto das doenças quanto de feitiços, pragas, perseguição de egum, e outros males que afligem tanto nosso corpo material como o espiritual.
Louvemos este senhor com a mesma humildade que ele tanto pratica. Mas nos lembremos de sua suma importância no panteão afro, e de sua magnitude entre os nossos antepassados.
ATOTÔ AJUBERÚ, BALÉ, BALÉ.
MISERICÓRDIA DE NÓS MEU PAI!
Texto de Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi Lambanranguange, Odé Mutaloiá. Escritor, pesquisador e babalorixá.