Quero aqui reverenciar o
verdadeiro Rei de minha Nação, Angola, Tempo. Aquele que não tem casa, que mora
em todos os lugares, que nos socorre em todas as nossas angustias e necessidades.
Para nós, angoleiros, nada
podemos fazer sem prestarmos reverência a este grande Senhor, que reina
absoluto em nossa nação. É sincretizado com São Lourenço. Tem seu assentamento
do lado de fora em baixo de uma árvore e ali são postas suas oferendas, mas
somente os de idade de Santo suficiente, podem a ele se chegar e entregar-lhe
as oferendas necessárias.
É o Orixá mais antigo que existe.
Segundo as lendas angolanas, Zambiapongo (Deus), Lembá Furanga (Oxalufã) Lembá
Renganga (Oxaguiã), Zambira (Ifá) fazem reuniões e para ela são convocados
todos os Orixás e dentre eles, sentado em um canto, calado, sem nada dizer,
está o assessor direto de Zâmbi, anotando tudo o que foi dito, e quais os
caminhos que a humanidade deverá seguir. Este assessor é Tempo.
Muito pouco conhecido tanto pelos vivos como
pelos mortos, dos que nasceram como dos que estão por nascer, mas, toda a
criação está incluída em seus desígnios, pois que estes foram dados pelo Grande
Criador do Universo.
Dado a sua grande
responsabilidade junto a Deus, é este, um Orixá implacável em suas
cobranças. Governa todo o tempo e espaço, acompanha e cobra da humanidade o
cumprimento total de seus carmas, e é ele ainda quem determina o começo e o fim
de tudo nesse mundo.
Dentro do Candomblé de Angola, se
veste de branco, e quando sai na sala, todos os demais Orixás viram, ou seja,
se manifestam em seus filhos, afinal o Pai de todos os está ali presente.
Aquele que rege tudo, e todos na natureza, ali está para ser reverenciado por
seus filhos.
Como assessor de Zâmbi, ele
cumpre suas ordens e determinações, então, como não virem reverenciá-lo no
momento em que está presente na sala dançando?
Porém, se enganam aqueles que
pensam que Tempo somente é conhecido pelos candomblecistas. Ele já era
conhecido por outros povos, muito antes de nós, meros mortais, praticantes
desta maravilhosa religião existirmos.
Na Mesopotâmia e na Babilônia era
tido como Enki, o leão alado, que acompanhava a todos desde o dia de seu
nascimento, até o de seu retorno ao infinito. Já no Egito antigo, era chamado
de Anúbis, o Chacal, que determinava a caminhada de todos, desde o nascimento
até o dia em que tinham que atravessar o vale da morte, voltando assim para a
fonte da criação, ou seja; o Supremo Criador.
Até mesmo ente os Maias e os
Incas era Tempo conhecido, sendo que para os primeiros, seu nome era Teotihacan
e para o segundo era Viracocha. Ente os Maias, era ele o senhor do início e do
fim.
Temos ainda Tempo nas culturas
Grego e Romana onde era conhecido como Cronos, o senhor absoluto do tempo e do
espaço, aquele que abriga e conduz todos os humanos ao caminho da eternidade e
sem ele não poderiam alcançar o mundo dos mortos.
Como podemos ver, mesmo nessas
culturas, Tempo está relacionado diretamente à ancestralidade, o que não é
diferente para nós no Candomblé. Temos muito respeito por este Senhor, e os
verdadeiros iniciados, sabem que os resultados de nossas cerimonias, está
ligado diretamente a ele, pois que, sem ele não teríamos acesso ao seu domínio
que é justamente o tempo e o espaço, e assim sendo, não teríamos como entrar em
contato com nossos antepassados.
É ele quem nos facilita o
aprendizado, quem nos permite o aprimoramento através do tempo, é ele ainda
quem propicia o despertar do amor, a paz após uma tormenta, a tranquilidade em
uma angústia, quem nos traz enfim, todas as respostas que precisamos. Diz um
antigo ditado popular: “dê tempo ao tempo”. E quanta sabedoria. Pois se damos
tempo ao Orixá Tempo, é ele quem nos trará tudo que precisamos.
Devemos nos ater mais a essa
deidade, pois trabalha de forma ininterrupta, sempre nos auxiliando em nosso
crescimento espiritual. Cobra-nos nossas faltas, pois esta é sua missão para
com Zâmbi, mas também, nos alivia a dor, seja ela qual for. Traz-nos a calma
necessária para que possamos passar por nossa jornada aqui na Terra.
É ele que nos beneficia na
colheita para termos o alimento, nos aplaca o ódio, nos ensina a perdoar e a
amar. Temos que entender que sem ele, nada podemos fazer mesmo Oxalá precisou
dele para poder nascer.
Tão grande seu valor, e passa tão
despercebido na maioria das vezes. Para muitos é apenas mais um Santo no
panteão afro. Mas, é na verdade, o mais importante, pois se não fosse Tempo,
como nossos Orixás viriam até nós?
Graças ao poder dele podemos nascer
viver, e voltarmos para o Reino de Olorúm, onde vivem nossos antepassados, e,
se nos fizermos dignos aqui na Terra, poderemos usufruir de todas as glórias
que esses seres divinos gozam ao lado do Supremo Criador.
Tempo macura di lê. Tempo N’gana
Zambi, aê Tempo!