Muito se escuta falar em Cabocla
Jurema dentro das casas de Umbanda, bem como, seus louvores são insubstituíveis
dentro dos ritos dessa religião. Mas, quem de fato é essa linda Cabocla?
Conta sua lenda que, ela foi
encontrada ainda bebê, com apenas sete meses de vida, pelo valente guerreiro Tupinambá,
abandonada aos pés da árvore chamada Jurema, e assim, ele lhe deu esse nome. Mas,
ela não foi adotada somente por ele, mas, por toda a tribo e consequentemente
por todas as nações indígenas da época. Ela foi criada dentro os princípios da
tribo Tupinambá e cresceu se tornando uma jovem forte, guerreira destemida,
aguerrida, que não temia nada. Além de, se tornar uma linda moça, tão linda que
encantava a todos que a viam. Por ser tão destemida, não demorou a se tornar a
primeira mulher guerreira daquela tribo, afinal, possuía grande força física e
moral, além de ter profundo conhecimento de toda a mata, não havendo ali,
segredo algum para ela, tendo também fácil manuseio do arco e flecha, transformando-se
em eximia flecheira, e logo viam que ela se transformaria em uma lenda não somente
para eles, mas para todo o continente.
Seus contemporâneos diziam que,
ela era a encarnação da mãe divina. Dado a ser totalmente destemida, não demorou
para que se fizesse presente em todas as guerras lideradas por seu pai, o também
valente e destemido, Tupinambá! E assim, ela, juntamente com seu pai, liderava
os guerreiros de batalha em batalha, até que um dia, ela que nunca havia conhecido
o medo, encontrou finalmente seu maior inimigo: o amor!
Ocorre que, estavam em guerra
contra uma tribo inimiga denominada Filhos do Sol, e um guerreiro havia sido
feito prisioneiro por seu pai, e este guerreiro se chamava Huascar. Seu pai, após levar os espólios de guerra de
volta para a tribo, notou que algo estava diferente em sua filha, pois que ela,
evitava permanecer junto aos prisioneiros, mas, ela sempre lhe dava uma
desculpa e tirava assim sua atenção. Mas, o amor aumentava a cada dia, e ambos
já não mais sabiam o que fazer.
Huascar, através do olhar,
confessava não somente para ela, mas, para todos que pousassem nele o olhar, o
quando seu peito ardia de amor por sua captora. Não conseguia mais disfarçar
seu encanto por ela. Jurema que aprendera a resistir aos maiores encantos da n
selva, como por exemplo, do boto, que superou com determinação todas as ciladas
armadas por tribos rivais, não conseguia mais resistir aos encantos de tão belo
guerreiro, e por vezes, se esquecia de que ele era seu inimigo, mas, o amor não
escolhe o terreno onde plantará sua semente.
De tanto observar aquele bravo
guerreiro, ela que conhecia também os segredos da magia, conseguiu ler em seus
olhos, todas as vidas que já haviam tido juntos. Conseguiu ver o imensurável amor
que os vinha unindo há séculos, e até mesmo os filhos que tiveram juntos, e então
passou a compreender, o porquê de somente ele ter sido mantido vivo.
Assim, após consultar
incansavelmente sua consciência, de buscar respostas em seus antepassados, ela
decidiu que iria ajudá-lo a fugir, mesmo sabendo que seu povo se voltaria
contra ela, a enxergando como traidora. Plano amadurecido, ela pôs em prática e
libertou aquele prisioneiro, mas, teria que fugir com ele, pois sabia que a
morte seria seu castigo, e também, não queria deixar aquele homem, seu companheiro
de tantas vidas, se perder para sempre de seus olhos.
Então após soltar seu
prisioneiro, puseram-se em fuga, com seu povo perseguindo aquela que era também
a cacique da aldeia por nomeação de seu pai Tupinambá. Durante a fuga, ela não era
mais a chefe tribal, mas, apenas uma traidora dos costumes e das leis daquele
povo. E então começou a chover flechas em direção a Huascar, seu amado, pois
eles a queriam viva, vendo que ele iria ser atingido, ela jogou-se entre ele e
a flecha, recebendo então a morte que era destinada ao mesmo, pois que, ela não
conseguiria viver sem seu amado.
Segundo a lenda, Huascar conseguiu
voltar para seu povo, na terra do sol, e
lá fundou um templo chamado Matchu
Pitcchu em homenagem a Jurema, sendo que nesse local, somente as mulheres
da tribo poderiam morar, e ali, aprenderiam as artes da guerra, transformando-se
assim em guerreiras, como homenagem a valorosa mulher que havia salvo sua vida.
Nas matas, no local onde Jurema caiu morta, nasceu robusta, que floresce todo o
ano, e, devido a sua coloração, chamou a atenção das tribos, e descobriram que
tudo dessa planta poderia ser utilizado, desde as sementes até o caule, e, como
ela sempre está voltada para o Sol, deram-lhe o nome de girassol. E assim,
Jurema mesmo com sua morte, mostrava sua grandeza e a que estava destinada.
Tatetú N’Inkisi Odé Mutaloiá
Imagem – cabocla Jurema Elo 7