Em todas asa religiões, ao menos
naquelas mais antigas, existem os ritos fúnebres, a fim de darem seguimento ao
espírito do morto no além. Algumas tribos mais antigas, queimavam os corpos com
tudo que lhe pertencia: espada, utensílios etc., a fim de que o morto pudesse
ter no outro mundo, na outra vida, tudo o que necessitasse, pois que,
acreditavam que na vida pós morte, o espírito viveria de conformidade com a
Terra. Se era um guerreiro, como no caso dos Vikings, a espada acompanhava seu
dono, pois da mesma forma que tinha inimigos nessa vida, poderia ter na outra,
e como lutar sem sua espada?
Os católicos, usam o velório, que
traduzido ao pé da letra, significa, queimação de velas, pois naqueles
instantes que ali estão, são acesas velas de forma ininterrupta bem como rezam o terço e outras preces no
sentido de iluminarem a alma do defunto
com as velas, e que também seja sua chama, a luz que o guiará no outro mundo,
bem como a simbologia de sua fé, ou seja, a Luz de Deus em sua vida e as
orações são para pedir aos céus, que os Anjos recebam aquela alma e o
encaminhem para o paraíso onde Nosso Pai está.
Na Umbanda, temos o velório, só
que rezado em orações variadas a fim de que, aquele desencarnado, encontre seu
caminho, e que seja recebido pelos espíritos de luz, sejam, Caboclos, Pretos
Velhos e outros, para que o encaminhem para um local de descanso onde poderá se
redimir de seus erros, bem como, receber o auxílio tão imprescindível para os
que desencarnam.
Mas, todos os atos, são na
verdade, honras à memória do morto, bem como, súplicas para que seus erros
sejam apagados, uma vez que nesse mundo todos nós erramos e muito em nossa vida
em nosso dia a dia. Servem esses atos, para encomendarem o corpo à Terra, pois
o espírito já está encomendado, serve para que as últimas horas que passamos
com nosso ente, sejam de paz e conforto para os que ficam, mas, principalmente
para aquele que vai.
Dentro do Candomblé temos sim,
nossos rituais fúnebres e eles variam de cada pessoa e de seu cargo. Assim
sendo, os ritos daqueles que são borizados, são diferentes dos que são raspados,
e esses possuem a diferença entre sua idade de Santo e o cargo que possuem. Mas,
seriam esses nossos ritos realmente necessários? Sim. Pois sem eles, o
desencarnado não encontra a paz em sua vida pós túmulo.
Ocorre que, se não houvesse
necessidade desses ritos, os antigos não os teriam introduzido em nosso culto. Sabemos
que nós os seres humanos, somos descendentes de nossos ancestrais, e que em
algumas casas, os Orixás tiverem sim, vida terrena, sabemos ainda, que os que
se foram antes de nós, tiveram seus rituais e com eles, puderam ingressar no
local onde estavam os que os antecediam, e nossos rituais ainda hoje servem
para isso.
Raspamos nossos filhos, os
borizamos e assim os preparamos para a vida neste Planeta, então, temos que
saber o que fazer quando desencarnam para que tanto sua alma, quanto seu Orixá,
Guias, Exus, tenham a mesma liberdade, ou seja: dêm por completo o seu ciclo
terreno. Os atos que fazemos, são secretos, como tudo em nossa religião, e
somente aqueles que possuem a idade certa e o conhecimento para tal podem
participar. São ritos tristes, obviamente mas que, garantem que aquele espírito
seguirá sua nova jornada, mais tranquilo e mais feliz, pois cortamos seus vínculos
com tudo o que pertence a esse Mundo e o permitimos caminhar em sua nova etapa.
O que não podemos de forma
alguma, é deixar esses ritos esquecidos, nem mesmo ficar chamando o nome
daquela pessoa que se foi durante nossa vida.
Da mesma forma que, quando
fazemos uma viajem, ansiamos o momento de voltar para nossa casa, o espírito sente
desejo de se libertar desse mundo e voltar para sua verdadeira morada. A morte,
nada mais é que uma transformação, onde saímos dessa vida ilusória e
passageira, para voltarmos para nossa verdadeira vida, junto de Olorúm e de
todos os nossos antepassados.
Não existe o porquê de termos
medo da morte, nem mesmo dos defuntos, pois esses não nos fazem mal algum. Ao contrário,
tudo que desejam mesmo é ir embora e nem mesmo olhar para trás.
Mesmo quando morre uma pessoa em nossa
família e que não seja do Santo, é bom nos resguardamos uns dias, afinal, morte
é morte. Alguns insistem em dizer que se a pessoa não é do Santo, não existe
necessidade de se resguardar em nada e de nada. Mas eu, creio que temos sim que
nos resguardar, até mesmo para honrarmos a memória de quem se foi.
Sabemos que quando morre alguém
em uma casa de Santo, todas as comidas são suspensas e não acendemos velas que não
sejam para o defunto. Temos para isso nossos motivos, mas, se analisarmos bem,
mesmo que a pessoa não seja do Santo, devemos seguir alguns ritos, pois irão nos
garantir, por exemplo, que aquele espírito não nos incomodará.
Por que algumas casas são mal
assombradas? Porque o espírito que ali está, pode ser de uma pessoa que tenha
morrido com raiva, pode ser que tenha deixado algo para trás sem que ninguém
soubesse, enfim, são tantos os casos e motivos, mas o importante é que sejamos
conscientes de que temos rituais a serem feitos e que esses se estendem em
nossas casas e nos corpos daqueles que ficaram na Terra.
Os ritos fúnebres são tão
importantes como os que fazemos para alimentar um Orixá, pois os que se foram
precisam de se libertarem desse mundo de dor e sofrimento. Nada temos de melhor
para os que se foram, do que nossa oração, nossos ritos e a paz que os
transmitimos através de vibrações positivas na certeza de que ele se foi, nós
ficamos, mas um dia nos encontraremos de novo.