Como sabemos, o Candomblé se deu início, com a vinda para o Brasil, de vários africanos escravizados em sua terra natal. Junto traziam seus deuses, seu jeito de ver e viver a religião de seus antepassados. Assim o Candomblé, possui suas nações, que são as representações das terras de onde se originaram cada etnia negra que aqui viveu.
Hoje vamos falar um pouco da nação Jêje.
Essa ramificação do Candomblé cultua os Voduns, seres ancestrais do antigo Dahomey, que compõem a rica e elevadíssima cultura Fon. Os negros dessa região, ao chegarem ao Brasil, eram chamados de djedje, ou jêje, como ficou conhecido no português. Essa palavra se origina do Yorubá que significa estranho, estrangeiro. Os povos do antigo Dahomi, assim chamavam seus vizinhos.
Assim como os nagôs, os Jêjes, que possuem as línguas, ewe, fon, mina e ainda os fanti ashantis, formam na verdade, grupos de sudaneses que pertencem à África Ocidental, hoje conhecida como Benin e Togo. Esses negros chegaram ao Brasil, escravizados em meados do século XVII.
Aqui, a palavra djedje, ou seja: Jêje, passou a ser traduzida como inimigo, isso devido a existirem aqui, povos que foram conquistados pelo Rei de Dahomey. Esse Rei conquistava os demais povos e os vendia como escravos para os europeus.
Quando alguns nativos de uma determinada aldeia enxergavam seus conquistadores, gritavam imediatamente: “Pou okan, djedje hum wa”! Ou seja: “olhem, os jêjes estão chegado”! Esse era um alerta para que fugissem de sua aldeia evitando assim, seu aprisionamento e a escravidão.
Segundo alguns historiadores, a mesma frase era usada quando escravos de outras regiões viam os Jêjes chegando em navios, aprisionados e escravizados da mesma forma que colocavam os membros de outras aldeias, e assim eles ficaram conhecidos como Jêjes.
Com a escravidão, muitos reis, rainhas, príncipes e princesas foram levados de sua terra e transformados em seres sem direito algum que não fosse o árduo trabalho e a chibata.
Entre esses, muitos sacerdotes, sacerdotisas ou mesmo os que eram apontados como sucessores dos primeiros, e a esses grupos, a perseguição era ainda maior, pois segundo a igreja, praticavam o culto ao demônio e assim sendo, teriam que ser destruídos de qualquer forma.
Dentre os inúmeros sacerdotes que aqui aportaram, constava nas fileiras dos Jêjes, uma senhora cujo nome era Ludovina Pessoa. Esta era natural da cidade de Mahi, Marri no português.
Foi ela eleita pelos Voduns, para fundar três templos a eles dedicados, e esses templos foram edificados na Bahia, pois que lá ela vivia como escrava.
Os templos que ela fundou eram:
• Templo de Dan, batizado de Kwé Cejá Hundé,
• Templo de Heviossô, batizado como Zoogodo Male Hundô.
• E o último, porém nem por isso menos importante, que foi dedicado a Ajunssum, porém esse não chegou a ser concretizado e os historiadores não sabem apontar a causa.
Segundo pesquisadores, o templo de Ajunssum foi erguido bem depois, por uma africana chamada Gaiaku Satu, em cachoeira de São Felix, e esse templo recebeu o nome de Axé Kpó Egi.
Mais tarde, essa nação foi sendo perpetuada em outros estados brasileiros e hoje mantém as mesmas tradições de seus antepassados, sendo considerada pelo povo de santo, como a nação mais rigorosa, a mais difícil de ser praticada, pois que seus rituais seguem as mesmas diretrizes de seus antigos zeladores.
Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi: Odé Mutaloiá.