Obá= Rei, Ilú= Céu, Ayê= Terra,
esta é a tradução mais comum e mais próxima para o nome de nosso Grande e amado
Obaluayê. Mas, traduzimos ainda como: Rei dos espíritos do céu e da terra. Isso
porque esse grande e valoroso Orixá, além de guerreiro, caçador, e curandeiro,
é também o senhor absoluto da morte, ou seja: guardião dos cemitérios e dos
mortos que lá residem. É o nosso elo de ligação com nossa ancestralidade e nada
podemos fazer sem sua permissão, dentro do culto aos ancestrais.
Dentro da abrangência de seu
reinado, está o solo, o mesmo solo que pisamos, andamos, cuspimos, escarramos e
depositamos nossos mortos e tudo que não mais nos interessa, ou seja: mais dia,
menos dia, tudo volta para o mesmo local de onde saímos, a terra e este é domínio
de Obaluayê.
Do mesmo material que Olorúm usou
para nos criar, também lançou mão para criar várias outras espécies de vida e
de riqueza. E tudo isso pertence a Obaluayê que como seu guardião, divide com
quem achar merecedor, até mesmo as riquezas que surgem em baixo do solo. Que
somos oriundos do pó, disso não resta dúvidas e quem ousa duvidar, coloca em
xeque a existência do próprio Deus, esse mesmo que criou a tudo e todos, e que
nos provém, da mesma forma que provém aos pássaros, aos peixes, aos quadrúpedes
e todos os seres vivos. Então, não temos o direito de duvidar de nossa criação
e muito menos de nosso Criador.
Somos sim, feitos do pó e para o
pó voltaremos mais dia menos dia. Outros já foram antes de nós e esses são
nossos antepassados, e para que possamos render-lhes o culto necessário,
precisamos da permissão de Obaluayê, pois que, sem esta, não podem nem mesmo
nossos ancestrais virem receber as oferendas que lhes ofertamos.
Seu poder é incomensurável e
inenarrável, porém, mesmo com tanto poder em suas mãos, veste-se de chita e
palha da costa, tão somente para nos mostrar que nesse mundo nada somos, nem
nada seremos nunca, pois que, somente à Deus compete toda a sabedoria e glória
por tudo.
Como Ministro de Olorúm, Obaluayê
tem capacidade para fazer de nós, seres humanos o que achar necessário, mas,
passa seu tempo a nos dar exemplo de dignidade e humildade, pois quando sai em
nossas festas vestido de forma tão humilde, revela ali antes de tudo, o
verdadeiro sentido da vida: a humildade.
Como Rei dos espíritos do Céu e
da Terra, tem responsabilidade imensa sobre nós e nossos antepassados,
representa nosso elo de ligação direta com nossa ancestralidade, mas, nem por
isso, usa de tanto poder para satisfazer seus caprichos, pois em sua visão, bem
como na de todos os Orixás, a vontade suprema é de Deus e a eles, cabe somente
o respeito às suas leis.
Irmão de Oxum Marê, de Agué e
consequentemente, filho de Nanã Buruquê, tem seu culto nas segundas feiras,
pois sendo filho de sua mãe, governa com ela as almas e a morte. Senhor
absoluto dentro dos cemitérios, cabe a ele a permissão para que uma alma possa
voltar a esse mundo mesmo que para uma visita aos que aqui deixou.
Erroneamente vemos esse Orixá ser
associado a Exú. É ele na verdade, nossa ligação com nossos antepassados. Senhor
do culto a estes, somente através de oferendas a ele podemos entrar em conexão
com os espíritos daqueles que se foram desse mundo, seja para pedir um favor,
seja para matar a saudade que sentimos. Como médiuns, sabemos que a morte nada
mais é, que a transformação de uma energia que somos. Ou seja: deixamos de
existir na carne, e passamos a existir no mundo espiritual apenas. Nada é
finito naquele mundo, e à Obaluayê, compete tanto o zelo, quanto a guarda e
assim sendo, a manutenção dos segredos dos mortos.
Seu poder permite que nós que
ainda estamos habitando a esfera terrena, tenhamos através de seu Xaxará,
condições de termos a presença invisível de nossos entes queridos conosco. Não fosse
assim, não saberíamos dizer as proporções que poderíamos ter de caos no mundo
que conhecemos, pois que, inimigos da humanidade, poderiam ir e vir livremente
e causar danos irreversíveis em nosso meio.
Se precisamos de um favor de babá
egum, temos que agradar Obaluayê, para que aceite que aquele ser transpasse o
portal de seu mundo e venha até nós, receber sua oferenda e intervir em nosso
favor. Se temos uma pessoa sofrendo perseguição de um egum, ele da mesma forma,
se encarregará de por as coisas em seu devido lugar e devolver a paz para a
vida daquela pessoa. Afinal é ele o guardião dos mortos, e o elo de ligação entre
nós, nosso mundo e nossos ancestrais.
Não viveríamos pois não existiríamos,
se não fossem nossos ancestrais, e Obaluayê é a principal fonte de lembrança
que temos deste fato. Pois que, ali está, presente em todos os nossos rituais
com seu doburú, pipocas, tão utilizadas, tanto na vida, quanto nos ritos
fúnebres. Em praticamente todos os rituais que fazemos, temos a utilização
desta comida, e ai de nós se a deixarmos de fora, pois ele como Orixá
guerreiro, caçador, curandeiro e até mesmo, feiticeiro das tribos africanas,
nos cobrará por termos nos esquecido.
Ao louvarmos Obaluayê, louvamos também
toda a ancestralidade, seja nossa, como de toda a humanidade, afinal, tudo e
todos, possuem seu começo, nada nem ninguém, nasceu por si só. Atotô Ajuberú
Balé Balé, diz a sua saudação. Louva-se assim toda uma hierarquia, louva-se o
princípio de tudo, honremos pois este nome, e o saudemos com respeito, afinal,
grande é seu poder, mas maior ainda é sua humildade.