Algumas pessoas buscam as casas
de Santo na intenção de solucionar algum problema com certa urgência. Alegam
que não podem esperar que precisam daquele problema resolvido o mais rápido
possível. Seja ele, uma dívida contraída há tempos, um casamento desfeito há
meses, uma causa que anda na justiça sabe-se lá há quanto tempo. O fato é que
querem a solução imediata.
Mas, se esquecem de que, o Orixá
para trabalhar, precisa de tempo, e do tempo de Deus e não do tempo dos
homens. Quando entra em um problema, a pessoa deve se acreditar no Santo,
buscar sua ajuda imediatamente, e não esperar dias, meses ou mesmo anos, para
recorrer à ajuda espiritual.
Se a pessoa contraiu, por
exemplo, uma dívida e precisa pagar, mas, não quer que alguém saiba, ela não
deve esperar os últimos 05 minutos do segundo tempo para solicitar a
intercessão dos Orixás naquele caso.
Se ela realmente crê, deve buscar a ajuda
imediatamente, pois assim dará tempo para que a Deidade interceda por ela. Não
existe dentro do Axé Orixá, uma varinha mágica, como nos filmes de Harry Potter,
onde o sacerdote bate na destra da pessoa, e simplesmente seus problemas somem.
Ao contrário: tudo demanda tempo.
Orixá é como uma planta: temos que arar a terra, fazer a cova, plantar a
semente, e cuidar esperando que a mesma brote, e depois continuamos a cuidar
até que cresça e nos dê o fruto.
Quando damos um presente ao
Orixá, não basta irmos a uma casa, acendermos uma fábrica de velas e
sacrificarmos uma granja inteira. Nada disso adianta, se a fé não for nosso
principal ítem. Alguns professam fé. Mas, que fé é essa que a pessoa mal acaba
de fazer uma obrigação e quer o resultado para um problema que se arrasta há
tempos?
E por que ela não pensou duas
vezes antes de cometer determinado ato? Fácil não? Fazemos o que queremos e
depois o Orixá que se vire para nos ajudar! É como dizermos: Deus perdoa porque
esta é sua função! Oras! Temos que atentar para nossas ações! Existe uma lei da
física que se aplica bem em nossas vidas: “toda ação tem uma reação da mesma
intensidade ou maior”. E isso as pessoas
não querem ver.
Se assim o fosse, nós zeladores,
poderíamos sair por aí matando, que nada nos aconteceria, afinal bastaria fazer
um ebó, acender meia dúzia de velas e sacrificar uns pobres de uns frangos e
BINGO! Tudo resolvido.
Mas que nada. Se não andamos na lei, somos punidos como
qualquer um, afinal graças a Deus as leis existem e devem ser cumpridas.
Presenciei uma vez em determinado
barracão, uma pessoa dizendo para a sacerdotisa que ela tinha que ajudar, pois
estava sem pagar a prestação de sua casa e a mesma iria a leilão e ela não
poderia permitir que isso acontecesse. A sacerdotisa então disse: “o que posso
fazer é acender umas velas, dar um presente ao Santo, mas se você não pagou o
que quer que eu faça? Não sou mãe do Presidente do banco”! E a pessoa ainda se
achou no direito de ficar com raiva da sacerdotisa.
Bem, se a pessoa não paga, é
obvio que perderá seu bem. Se assim não fosse, não precisaríamos nós, que cuidamos de Santo, pagar a conta de luz,
água ou telefone, pois os mesmos não seriam cortados.
Entro nesses detalhes, porque
algumas pessoas chegam em nossas casas, achando que fazemos milagres, eu logo
digo: a universal é na outra rua. Aqui somente cuido de Orixá. Não
entendo o que pensam. Será que nos acham tão bons, ou pensam que somos burros?
Acho que a segunda hipótese é a mais certa.
Orixá é amor, fé, humildade,
sinceridade, honestidade, caráter, honra e outras coisas que faltam muito nas
pessoas hoje em dia. Pensam que por terem determinado poder, podem tudo, que
estão acima da lei dos homens e de Deus. Mas, se enganam, pois as leis existem
para serem cumpridas e mais dia menos dia, todos independente de quem somos,
teremos que dar conta de nossos atos.
Se não cumprimos com as leis,
obviamente que teremos que prestar contas à justiça, de nossos atos. Se
magoamos a quem amamos e vive ao nosso lado, é claro que a perderemos. O mesmo
ocorre com as Leis do Universo, pois elas são feitas para garantir que o
Universo gire em harmonia e paz, garantindo assim, as mesmas oportunidades para
todos. Não podemos culpar Olorúm por nossos erros e por nossas más ações.
Temos
sim, que nos curvarmos perante suas leis.
Temos que obedecer as leis dos
homens, pois nossos Orixás assim nos exigem, está escrito nas leis de Iká e essas
são os mandamentos de Olorúm para a humanidade. Nossos ancestrais, as Deidades,
sempre nos obrigarão a seguir essas leis, e a dos homens, porque nosso caráter
é que vai mostrar quem somos realmente. Se por um lado, a lei dos homens, nos
garante direitos, as Leis de Olorúm, nos garante que ao nos transladarmos de
volta ao Orúm, Céu, nosso espírito poderá usufruir de todos os gozos na Eterna
Morada de Nosso Pai.
Porém, se como filhos rebeldes,
não cumprimos suas leis, nem seguimos seus mandamentos, como Iká nos deixou,
teremos que nos contentar em viver na vida pós-túmulo em um mundo de ranger de
dentes e trevas, pois esta foi nossa escolha.
Olorúm não é de forma alguma,
vingativo e nem se trata de um justiceiro. Ele apenas criou Leis para que todos
possam se chegar a Ele e se sentirem seus filhos, e mais ainda: serem dignos
de ser chamados de seu filhos. Porém, quando somos levados deste mundo para
o outro, é nosso espírito que nos julga, porque segundo os espíritos nos
ensinam, Olorúm criou em cada espírito uma mente, e esta funciona como uma
espécie de cartório, e, este somente dará direito de descanso ao espírito,
depois que ele resgatar todas as suas dividas.
Não nos enganemos, pois, achando
que podemos isso ou aquilo. Porque na verdade, nada somos nem nada podemos.
Vivemos nesse mundo, tão somente pela vontade de Olorúm e saímos dele no dia e
hora marcados por Ele. Ao nascermos, temos duas passagens: uma de vinda para
esse mundo e outra de volta para o mundo espiritual. E nada nem ninguém poderão
impedir esse regresso.
Por isso e muito mais, é que
devemos nos ater em nossas ações e nossas atitudes, pois que, seremos cobrados
em cada tostão de nossos atos.
Não adianta andarmos errados, e
depois irmos a determinado Templo, onde descansam os objetos litúrgicos e os
antepassados aqui chamados de Orixá, pensando que eles simplesmente irão apagar
nossos erros, porque se assim agissem, não estariam de conformidade com as Leis
Divinas.
A sabedoria dos africanos antigos
nos mostrou que quando Olorúm se zanga, Ele tem seus Ministros os Orixás para
cobrarem para Ele nossas dívidas. Não pode uma pessoa simplesmente pensar que
com um presente, esta ou aquela Deidade fará com que seus erros não sejam
contabilizados na terra, e muito menos no espaço.
Um sacerdote, uma sacerdotisa,
são apenas instrumentos que seu Orixá usa conforme as determinações de Olorúm,
e não fadas ou duendes possuidores de varas mágicas que fazem com que seus
problemas acabem.
Muitas vezes um zelador ou uma
zeladora atende uma pessoa, mas, ela nem imagina o problema pessoal que aquele
Pai ou Mãe está passando, afinal a pessoa está ali como consulente e para ela
não interessa os problemas do dirigente do Templo. Posso garantir que em sua
grande maioria, possuem problemas muito mais graves do que os daqueles que os
buscam, mas a imparcialidade nos obriga a atender sem queixumes, sem a menor
demonstração de dor.
Se por acaso uma pessoa comete
algum ato errôneo, ela tem que entender que precisa pagar por ele, e que
nenhuma obrigação deste mundo lhe tirará isso. Pode sim, aliviar a carga, mas a
cobrança, essa não desaparece de forma alguma.
Ande certo em sua vida. Caminhe
no caminho da sabedoria, não cometa erros sérios com seu irmão, não adultere,
não roube, não deseje aquilo que não é seu, não use drogas, não abuse de
bebida, não cometa enfim, nenhum ato que seja criminoso aos olhos da justiça
terrena e de Olorúm e verá como sua vida prosperará cada vez mais.
Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi
lambanranguange: Odé Mutaloiá. Presidente do Conselho Religioso da UNESCAP.