Existem vários ebós dentro do Candomblé, e cada um tem uma finalidade, mas, o ebó que é bom para uma pessoa não significa que será bom para outro, pois como as cabeças são diferentes, os trabalhos também se modificam.
O ebó de misericórdia tem como finalidade o que sugere o próprio nome: a misericórdia. Ele geralmente é feito somente com alguns itens que são algumas comidas brancas.
Ele serve para afastar uma doença, para abrir caminhos em caso de desemprego, além da várias outras funções. Em sua grande maioria, os zeladores, optam por esse ebó, quando a pessoa passa por uma situação extrema e não tem a mínima condição de arcar com um trabalho mais complexo.
Alguns usam esse ebó, quando a pessoa corre risco de vida também. Ele pode ser usado sempre, mas, deve-se ater que a pessoa ficará com uma dívida para com seu Orixá ou mesmo com o exú ou com o egum daquele santo.
No geral esse ebó utiliza pouquíssimas coisas. É passado somente em circunstância séria, pois, conforme foi visto no jogo, a pessoa está com algum problema muito grave e sem condições para um ebó completo.
Após esse ebó, costuma-se dar um obi d’água na pessoa. Essa obrigação consiste em basicamente, se arriar uma canjica para Oxalá e um obi branco, acompanhado de uma quartinha com água e uma vela de sete dias, para que Oxalá tenha misericórdia daquele vivente, que sofre, e não possui a mínima condição para oferecer uma obrigação completa naquele instante de sua vida.
Comparando com termos médicos, essa obrigação é como uma pessoa que precisa de uma cirurgia, mas não tem condições de realizar naquele momento, então o médico, se utiliza de algum recurso que vai momentaneamente aliviar a dor daquele individuo, mas, ele terá que fazer a cirurgia mais dia menos dia para que possa continuar vivendo.
Assim como o procedimento clínico, a pessoa que passou por um ebó de misericórdia, deverá mais tarde retornar à mesma casa, para que seja feita uma obrigação maior, que irá livrá-lo de vez daquele problema.
É um procedimento de emergência e o consulente fica com uma dívida para com os Orixás, pois essa obrigação vai resolver por um determinado tempo seu problema, mas, ele pode voltar com força ainda maior.
Deve o consulente, ser fiel a quem o passou por essa obrigação, pois foi aquele socorro que o livrou quem sabe, até mesmo da morte iminente que seria causada por algum inimigo oculto. Quando um zelador usa desse tipo de trabalho, ele está automaticamente se comprometendo com o Orixá daquela pessoa, em seu nome, que tão logo seja possível a obrigação maior será realizada.
Se a pessoa, não procurar a mesma casa, para dar continuidade a seu trabalho, ela arcará com as consequências, pois foi o Orixá da casa que pediu a misericórdia para ele. Não adianta, por exemplo, fazer esse ebó com uma pessoa e procurar outra para terminar, pois será traição e o vinculo por si só cobrará a injúria. Obviamente que se a pessoa foi morar em outra cidade longe, se o zelador não mais está praticando a religião por qualquer motivo que seja, pode então a pessoa procurar outra casa e terminar seu trabalho, mas, deverão ser tomadas algumas medidas em prol do Santo que o acolheu.
Assim, se você precisa de um ebó e o mesmo foi feito como misericórdia, não se esqueça de que é apenas um socorro imediato e mais dia menos dia terá que terminar o que começou. E não se esqueça também de que a fidelidade é algo de muito valor.
Tatetú N’Inkisi: Odé Mutaloiá.