Muitas pessoas ainda por falta de
conhecimento, afirmam que Omolokô seria uma Umbanda, onde se cultuam Orixá.
Porém, este culto é sim uma nação de Candomblé, e como tal, tem seus preceitos
próprios e devemos respeitar seus Templos, pois que, são oriundos da mesma Mãe
África, de onde se originaram todas as demais nações que conhecemos.
Segundo pesquisadores, o nome
Omolokô, pode estar ligado ao povo de Loko, que por sua vez, fazia parte de uma
nação maior, os Manes. Este era um povo que vivia em Serra Leoa, e tinha como
governante o Rei Farma, tendo sido este, o Rei mais poderoso de todos os Reis
Mane.
A Sede de seu governo tinha o
nome de Lakoja e ficava à margem do Rio Mitombo, sendo este, um afluente do Rio
Benue que era um afluente do Rio Níger, sendo este o maior da África, berço de
muitas civilizações, inclusive dos Yorúbas. Assim sendo, Lakoja era vizinha do
Grande Reino Yorubá.
Outros nomes pelos quais o povo
Loko era conhecido eram: Lagos, Lândogo e Sosso. O primeiro registro do nome
Loko data de 1606, sendo que na mesma data consta ainda o registro deste mesmo
povo com o nome de Loguro.
Pesquisadores afirmam que esse
povo viveu até 1917 ao Oriente de Temnis de Scarcies, e que a tribo Loko era
dividida em outras, e que o filho do Rei Farma, teria sido batizado com o nome
Cristão de D. Felipe, o que prova a sincretização do cristianismo com as
religiões africanas, antes mesmo das mesmas se enraizarem no Brasil.
Isto serve para desmistificar o
fato de, a Nação Angola e outras falarem o Português e até mesmo terem cantigas
com essa língua em seus rituais. Para seguidores de Nações diferentes, e sem o
devido preparo, a Angola seria “uma Umbanda melhorada” isso mostra o quanto não
conhecem da história do povo que cultuam. Temos neste relato, a comprovação de que o português é muito mais
antigo em alguns povos africanos do que se pode imaginar.
Para os historiadores e
pesquisadores, os Lokôs, teriam feito parte de um grupo étnico denominado, Mane,
e todos os povos que compunham essa Nação teriam vindo para o Brasil, na
condição de escravos. E como ocorreu como os Jêjes, Nagôs e outros, criaram a
sua religião que foi chamada de Omolokô.
Os Mane eram um povo guerreiro e
consta em registros históricos que usavam flechas envenenadas e arcos curtos o
que causava um impacto ainda mais mortal em suas vítimas. Outras armas usadas
por eles eram as espadas curtas e largas, azagaias (lança curta e delgada, que
devido a seu pouco peso era muito usada como arma poderosa, tanto para caça
como para a guerra), além de dardos envenenados e facas que traziam amarrados
em baixo do braço.
Como usavam flechas envenenadas,
eram comuns acidentes com as mesmas envolvendo membros de sua tribo, assim para
não morrerem com o veneno impregnado em suas armas, eles carregavam sempre
consigo uma bolsinha com o antídoto.
Guerreiros e destemidos, tinham
por hábito avisar seus inimigos do ataque iminente em sua aldeia. E para tal,
usavam palhas. Conforme o número de palhas era a quantidade de dias que faltava
para a invasão. Eram ainda um povo de riqueza, tanto que ostentavam em seus
braços e pernas manilhos de ouro e prata.
Constantemente se aliavam aos brancos
que invadiam a África a fim de comercializarem os negros capturados em batalhas,
porém culminaram em também serem comercializados para o “novo mundo”.
Dentro de seus rituais religiosos
estavam os assentamentos de seus deuses e ídolos de madeira em figura tanto de
seres humanos como de animais. Ao saírem para a guerra, prestavam homenagens a
seus deuses para que pudessem sair vitoriosos. Mas, se acontecesse de, perderem
a batalha açoitavam-nos até a exaustão como forma de punição, pois não os
teriam ajudado na guerra.
Se saíssem vencedores, entregavam
oferendas de comida e bebidas como gratidão por terem vencido mais uma guerra e
assim terem expandido seu reino. Tratavam suas mulheres como cabondos. Uma
peculiaridade dessa tribo é que sua principal identificação era a falta de dois
dentes frontais de sua boca.
Como religião, o Omolokô se
instalou na cidade do Rio de janeiro, nos idos do Século XIX, se organizando
ali, de forma completa e se enraizando por outros Estados do Brasil. Graças ao
conhecimento que seus praticantes trouxeram da África, e, que foi passado de
forma oral para seus descendentes, ainda no Brasil colônia.
Porém, como todas as demais nações,
esta sofreu influência de outras vertentes africanas, afinal, dentro das
senzalas, os negros se amontoavam, e aquele que diz que sua Nação não possui
influência alguma, com certeza, não conhece a história de nosso País. Naquela época,
a predominância no Brasil eram os cultos aos Orixás Nagôs e aos Inkisis dos
Bantus, e assim os Lokôs sofreram a influência direta dessas duas ramificações
em seus cultos.
Obviamente que mantiveram todo o
arquétipo de seus rituais, mas, como a influência fora demasiada, culminaram
por introduzir alguns ritos de outras Nações, mas, com uma interpretação mais
contemporânea.
Isto fez com que a Nação Omolokô se
destacasse das demais, que mantinham em seus cultos a predominância de sua
terra natal. Outro fator muito curioso dentro do Omolokô, é que não possui a
iniciação como nos demais Candomblés, onde se tem umbigueira, akodidê, pois que
lá os Orixás não são iniciados.
Para muitos, a palavra Omolokô,
se traduz como: filho da gameleira branca, ou: filhos de Lokô, um grande Orixá
muito cultuado dentro dos Candomblés de Kêtu. O que faz com que muitos confundam seus ritos e assim o chamem
de Umbanda de Omolokô, é que teria sido ela, a primeira Nação a aceitar os
caboclos e demais mensageiros dos Orixás, isso devido talvez, a convivência desse
povo com os índios que existiam em nosso país na época da colônia.
Mas, de forma alguma essa abrangência
diminui sua imagem como Religião, porque tem suas raízes no mesmo povo que
fundou as demais matrizes, e assim sendo, possui sim, o direito de se denominar
Nação de candomblé, o que pode desagradar a muitos despreparados, que por arrogância,
pregam aos quatro ventos que somente os de sua casa são feitos de verdade.
Não devemos de forma alguma, subestimar seus
preceitos, nem mesmo seus conhecimentos, pois são de muita profundidade e
quando tivermos todos, um convívio mais harmonioso, e buscarmos um entendimento
maior entre as casas, veremos que na verdade, somos todos uma só Nação, uma só
Tribo e que pertencemos ao mesmo Rei: Olorúm.
Sérgio
Silveira, Tatetú N’Inkisi Odé Mutaloiá.
Presidente do Conselho Religioso
da UNESCAP