“Yansãn, comanda os ventos, com a
força dos elementos”. Assim começa a música, uma linda canção que Maria
Bethânia gravou em homenagem a sua Mãe Oyá. Realmente, Oyá comanda os ventos,
mas também os raios, o fogo em sua forma benéfica, comanda as tempestades, e
ainda é a grandiosa Senhora dos mortos.
Em sua terra natal, África, ela é
responsável por tudo isso. Segundo as crendices africanas, as tempestades são a
fúria dela e de Xangô seu esposo. Dentro de uma casa de Santo, nada se faz
durante uma tempestade, porque Oyá está despejando sobre o Planeta, sua fúria
com aqueles que são injustos, que mentem, caluniam, enfim: sobre todos que agem
de forma errada com seus semelhantes.
Seu culto é antigo, e grande seu
poder e força. Também é associada a Justiça, sendo juntamente com Xangô, a
justiça de Olorúm sobre nossas cabeças. Governa ainda o bambuzal, onde se
recolhe em seus momentos mais íntimos, aqueles em que, está pronta para nos
conceder o bem, como ainda, pronta para nos fazer calar a língua que fere a
moral dos outros. De dentro do bambuzal, ela governa egum, e determina que este
vá onde mandar para cumprir a missão que a ele determinou.
Mas, de onde vem seu culto
afinal?
O culto a Oyá, tem seu inicio, no
Rio Níger, o mais antigo da África. Torna-se o principal Rio pois que, através
de seus afluentes, ele se espalha pelas principais cidades. Ali, naquele Rio,
reside a mulher com maior poder de toda a África: Oyá. Por ser a moradora do
rio de 09 braços como é chamado o Níger, além de ser a mãe desse rio, passou a
ser também a mãe dos nove céus. Isso porque os africanos antigos, acreditavam
que o céu se divide em nove e no nono céu é que se encontra a morada de Olorúm.
Olô = Senhor, Dono, Orúm = Céu. Olorúm: senhor, dono do céu, ou seja: Deus.
Sua maior vocação é ser
guerreira, combater incansavelmente os inimigos de seu povo, e como Orixá, dar
combate também aos que tentam prejudicar seus filhos. Também tem gosto pela
luta do dia a dia. Tais quesitos fizeram com que ela, não aceite a forma feminina
de viver, ou seja: prefere ir à luta em prol do que deseja, a ter que ficar em
casa, cuidando do lar, dos filhos e do marido. Oyá é representada pela mulher
que de manhã após sua higiene e seu desjejum, sai de casa em busca do sustento
para seus filhos e para si mesma. Não aceitando em hipótese alguma que seu
homem a provenha de nada.
Mas, isso não a afasta de forma
alguma dos encantos, e dos prazeres que somente uma mulher possui e sabe
proporcionar ao homem amado. É sensual, possui uma feminilidade à toda prova e
é muito fogosa também. Contam as lendas que Yansã, teve muitos homens e amou a
todos de forma verdadeira e pura. E isso a fez transformar-se em um Orixá. Mas,
o fato de ter tido vários parceiros, não significa em hipótese alguma que ela
fosse traidora. Ao contrário, quando ama um homem, se dedica e vive somente
para ele, ela é ainda possessiva e ciumenta aos extemos e ai do homem que a
trair, pois ela o punirá severamente.
Os chifres de búfalo, quando
postos em seu assentamento, significam a virilidade da mulher e sua
fertilidade, isso porque, na África esse animal sempre foi visto como símbolo
da fertilidade e da virilidade. Somente a Yansã, pertencem os chifres de
búfalo, afinal foi ela quem conseguiu segurar esse animal e assim
transformar-se em um, sendo à partir de então, conhecida como a mulher tanto da
caça como da guerra.
Nada impede Oyá de conseguir o
que quer. Lutará de todas as formas para ter aquilo que deseja. Heroína de
Xangô, pelo fato de ter sido ela a defender seu reino, quando atacado por egum.
Também, segundo algumas lendas, foi Oyá que conquistou sete reinos e deu de
presente para seu amado, Xangô, fazendo dele Rei absoluto por onde passava.
Essa ação de deu por amar muito a
Xangô e também pelo fato de preferir a vida livre, as andanças pelo mundo, pois
que, como guerreira, sempre se sentiu atraída pelas batalhas e pelo
desbravamento. Caráter forte, temperamental, Oyá nunca se curvou nem se curvará
para ninguém, além de Olorúm. Busca sempre a vida em sua totalidade e não perde
tempo com questionamentos que não a levarão mais alto e mais longe em sua
imensa ânsia do saber. Tem sede pelo conhecimento e sempre que pode, se dedica
a obtê-lo.
Apesar de guerreira, possui seus
dotes femininos, e o maior deles é o encanto, devido a sua beleza que seduziu a
todos que a conheceram. Como Senhora da tempestade, demonstra seu poder e sua
fúria. Nada se compara ao poder destruidor de uma tempestade e aí está a
demonstração de Oyá. Como dona do fogo, nos favorece no cozimento dos
alimentos, pois guarda para si o segredo do fogo, mas em sua forma domesticada,
ou seja: o fogo que cozinha os alimentos, que prepara nossa mesa e aquece nossa
casa no inverno.
Oyá deseja um homem, mas para
amá-la e respeitá-la e não para a sustentar como as outras mulheres. Afinal a
sua busca constante por tudo, faz dela uma mulher independente e totalmente
capaz de se sustentar e ainda mais: de sustentar seu amado. Não foge nunca de
uma batalha, porém, a vende sempre utilizando a justiça como meta principal em
sua vida.
Como Senhora dos mortos, é ela a
principal guardiã de seus segredos, pois segundo as lendas, quando morremos,
Oxóssi pega nosso egum e o entrega a Obaluayê e este por sua vez o entrega aos
cuidados de Oyá para que ela o mantenha em uma cela à espera do momento de
serem julgados seus atos aqui na Terra. Ainda dentro do preceito de egum, é
Yansã quem determina quando e como ele pode atuar em nossa vida.
Sabemos que egum é alma de morto
e como tal, nem sempre tem o discernimento do mal e do bem, compete a Oyá
segurar seu poder, sua força e assim o manter sob seu domínio para que ele não
saia a prejudicar os seres vivos.
Determinadas qualidades de Oyá,
sequer são suspensas dentro de casa, isso porque, trazem consigo toda vez que
vêm à Terra 21 eguns e esses não podem de forma alguma ficarem dentro de casa.
E essas Oyás são feitas também de forma diferente em seus filhos, devido a seus
fundamentos serem mais complexos que os de outros Santos.
Porém, independentemente de sua qualidade,
Oyá é e sempre será a preferida de Xangô e de Ogum, dado que sua vocação a
guerra, seduziu os dois. Mãe soberana, comanda as coisas com seu jeito ímpar de
ver e de agir. Nunca se dá ao prazer do descanso, pois acredita que somente através
da batalha podemos conquistar o que almejamos.
Essa grande Senhora, reina
absoluta em muitas casas a ela dedicadas, mas, mesmo em outras casas onde o
Santo padroeiro é outro, ela ali está presente, pronta para trazer para aqueles
que nela buscam, o amparo o conforto e a vitória perante seus inimigos. Quando ama,
ama profundamente e este amor é expresso de várias formas, porém, nunca com
muito carinho porque como guerreira, não sente-se muito à vontade para acariciar
e ser acariciada.
Não se engane no entanto, com
ela. É mãe protetora e valente. Conta uma lenda que foi capturada por Odé
quando este encontrou o par de chifres de búfalo que ela usava e com isso, foi
obrigada a morar com ele e Oxum, sendo que esta dava para Oyá seus afazeres
domésticos.
Mas, Oxum vendo a predileção de
Odé por Oyá, orientou a mesma que engravidasse porque seu esposo
tinha muita
vontade de ter filhos, mas ela Oxum, não conseguia engravidar, e que com
certeza ao dar à luz um filho seu, Odé a deixaria ir embora.
Então Oyá engravidou de Odé e
como consequência dessa gravidez nasceram gêmeos, que aqui no Brasil são sincretizados
com São e Cosme e São Damião. Ao nascer seus filhos ela, esperou em vão que Odé
a libertasse, porque para isso tinha que lhe devolver seus chifres de búfalo. Passaram-se
os anos, e quando seus filhos completaram sete anos de nascidos, foram brincar
e encontraram dois objetos muito estranhos.
Pegaram-no e foram correndo mostrar
para a mãe, pois nunca tinham visto aquilo. Então para sua surpresa, Oyá viu
que eram os chifres que ela utilizava para se transformar em búfalo e disse aos
filhos: “meus filhos amados, anos e anos esperei em vão que seu pai me
devolvesse essas peças e agora vocês os encontraram.
Preciso partir
imediatamente mas vou deixar outros iguais a estes com vocês e quando
precisarem de mim, por estarem em perigo ou qualquer outro motivo, basta que
esfreguem os mesmos um no outro e virei
imediatamente para seu socorro.
E feito isso, Oyá partiu e deixou
seus filhos aos cuidados de Oxum e Odé. Como podemos ver, grandes foram as
dores que suportou. Ocorre que quando foi capturada, ela estava no reino de Odé
caçando sem que esse soubesse, porque o reino de Xangô esta pobre e as pessoas
passavam fome. Ao ver que em um reino vizinho a caça era farta, ela prontamente
se disfarçou em búfalo e foi caçar para alimentar seu esposo e seus súditos. Sendo
assim, precisava de todas as formas voltar para seu amado, afinal tinham já,
mais de sete anos que era escrava de Odé.
Até hoje quando seus filhos estão
em perigo grande e iminente, existem certos fundamentos que se faz para que ela
venha imediatamente prestar socorro àqueles que a cultuam e amam. Mas somente
quem realmente sabe o que está fazendo pode usar desses recursos, pois que, se
Oyá chegar e não encontrar motivo verdadeiro para ter sido chamada se volta
contra quem a chamou sem precisão.
Assim é Oyá: grandiosa,
guerreira, temperamental, batalhadora e justa. Aquela que não se nega a
socorrer quem dela precise, mas que, esteja com a razão acima de tudo.
EPARREI OYÁ!