Temos aqui uma das muitas formas de Oguns dentro da Umbanda, um de seus pontos assim nos diz:
“Ogum Iara, quando era menino, em seu cavalo branco ele foi guerrear, ele guerreou, lá na sua banda e na nossa banda ele venceu demanda”.
Vemos nessa entoação, toda a bravura desse guerreiro, sua forma destemida de encarar as demandas, sejam elas no plano espiritual ou material.
Mas, quem é Ogum Iara?
A palavra Iara em tupi guarani, se traduz segundo alguns estudiosos, como Senhor, Proprietário, e a palavra Ogum significa O Guerreiro, ou ainda Aquele que faz guerra. Assim sendo temos uma tradução lógica de Aquele que é senhor da guerra.
Muito se fala em Ogum como grande guerreiro, mas às vezes nos esquecemos de que ele também é ligado às irradiações femininas, como no caso de Ogum Iara, que trabalha com a radiação da deusa Oxum. Ele une suas forças, com as de Oxum e ainda segundo alguns mais velhos nos preceitos da Umbanda, seria ele, o guardião das cachoeiras de Oxum, juntamente com Ogum das sete cachoeiras.
Assim sendo esse Ogum trabalha com o poder de purificação e transformação do fogo, e com o encantamento das águas doces, que são capazes de nos livrar de todos os males.
Ogum Iara ainda é associado para alguns à Yemanjá, por ser ela, nas crendices africanas uma sereia, mas vale a pena lembrar que Iara é a sereia encantada de nossos índios, aquela que em noites de luar, vive a cantar nas margens dos rios e onde mora. Também é conhecida como mãe d’agua pelos nossos índios.
Conta sua história que antes de ser transformada em sereia, Iara era uma índia guerreira, a melhor que já tinham visto naquelas tribos. Porém, ela era invejada por seus irmãos, pois seu pai vivia cobrindo-a de elogios, tanto por sua beleza como por sua valentia.
Certo dia, cansados de tanto ouvirem elogios à sua irmã e desejando tomarem seu lugar, planejaram matá-la e logo puseram seu macabro plano em ação.
Certa noite adentraram em sua tenda logo após ela dormir para darem cabo de sua vida, mas, como ela tinha ouvidos aguçados, escutou-os e para que sua vida não fosse tirada, teve que matar seus irmãos, fato consumado, ela fugiu com medo de seu pai que era um valente pajé.
Tão logo soube da morte de seus outros filhos e do desaparecimento de sua filha, ligou os fatos e decretou uma caçada impiedosa a Iara.
Após sua captura, ela foi condenada, a morrer afogada e foi jogada no local onde os rios Negro e Solimões se encontram para que ali morresse. Mas, os peixes penalizados com sua situação, a trouxeram de volta para a margem poupando assim sua vida. Eis que era uma noite de lua cheia, e ao seu clarão, ela foi transformada em sereia.
Por ser guerreira, ela passou a caminhar juntamente com Ogum e assim este passou a ser conhecido como Ogum Iara. Como Ogum opera a força viva do fogo, e Iara comanda as forças do rio, passaram a juntos formarem essa qualidade de Ogum.
Vale a pena lembrar de que Ogum e Iara são seres distintos, não se fundindo como um só. Tão somente por ele caminhar junto dela, passou a ser chamado Ogum Iara, ou a União do fogo com a água.
Também é esse Ogum, que, juntamente com Ogum das sete cachoeiras, guardam as águas de Oxum, garantindo assim, que seu reino não sucumba perante a invasão de forças malignas.
Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi: Odé Mutaloiá.
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