Muitas pessoas se perguntam o por que de darmos oferendas aos Orixás e também por que temos que pagar o axé ou chão do zelador para que o mesmo possa nos preparar e entregar as oferendas aos Orixás quando são necessárias para resolver qualquer assunto em nossas vidas.
Pois bem, as oferendas o próprio nome já diz, são nada mais que presentes, que se constituem em comidas e sacrifícios prediletos de cada Santo do panteão afro. Para cada Orixá, existem comidas diferentes e as mesmas, são verdadeiras iguarias na culinária africana, o mesmo acontece com o sacrifício, muito embora sejam ofertados galos, galinhas, pombos, cabritos e outros para os Orixás, todos possuem formas diferentes de se sacrificar seus animais prediletos.
Em tempos remotos, parte da colheita era oferecida aos deuses como forma de agradecer pela fartura na mesma, e em tempos anteriores ao cristianismo, eram oferecidos holocaustos a Deus e mesmo parte da colheita era a ele ofertada como forma de agradecimento e pedido de prosperidade. A essa doação, ou oferta, dava-se o nome de dízimo.
Com os Orixás, o mesmo acontece, oferecemos presentes como comidas secas, e em alguns casos o holocausto como forma de agradecermos por sua ajuda em determinado assunto, ou para pedir que interfira na solução de problemas variados de nossas vidas.
Nada se faz dentro do Axé Orixá, sem que a eles, ofertemos esses “presentes”, afinal são deuses que governam a natureza e assim sendo, nada mais justo que ofertarmos as obrigações que nos solicitam.
Quanto ao pagamento do axé do zelador, também é algo muito justo por vários motivos: um templo não se mantém sem dinheiro, pois temos água, luz e outras coisas a serem pagas mensalmente e ninguém com certeza absoluta vai se comprometer a arcar com as mesmas.
Em segundo plano, porém não menos importante, está o trabalho realizado por aquele zelador. Nas igrejas, por mais que alguns teimem em dizer que não, mas se cobram pelas coisas sim, pois tem o dízimo que obrigatoriamente é pago pelos fiéis além das ofertas que são entregues todos os dias de culto. Então por que no Candomblé e na Umbanda, os sacerdotes teem a obrigação de realizar as coisas sem cobrança?
Dentro de nosso mundo, é comum, desde tempos remotos, que os sacerdotes recebessem pagamentos em formas variadas por suas intervenções junto aos deuses ou junto a Deus, na solução de problemas variados.
Quem nunca ouviu falar das indulgências vendidas por Roma para seus fiéis? E mesmo em tempos atuais, um batizado, casamento, ou outra cerimônia qualquer que seja, é cobrado algum valor sim, assim sendo dentro dos templos afro religiosos, temos total direito em cobrar pelos serviços prestados.
O que não podemos, seja qual for a nossa ramificação religiosa, é; como sacerdotes, explorar a fé das pessoas, extorquindo-as de todas as formas possíveis. E esse fato vemos constantemente divulgado em veículos de informação, quando os sacerdotes cristãos prometem até mesmo, terrenos no céu para quem se dedicar a pagar mais para a igreja.
A partir do momento que cobramos, temos também a obrigação moral de zelarmos verdadeiramente por aquela pessoa que nos pagou, afinal foi seu sacrifício em favor dos Orixás, sua fé, que o levou a nos procurar.
Não podemos ser hipócritas e cobrarmos sem nos dedicarmos de verdade nos problemas daqueles que buscam em nós uma solução para suas vidas. Não temos o direito de pegar o dinheiro de uma pessoa e não realizarmos suas obrigações, e se por ventura seus pedidos não forem atendidos imediatamente, temos sim, a obrigação moral de revermos a situação a fim de que encontremos a forma para resolvermos a sua vida.
Assim sendo, é completamente normal a cobrança do axé ou chão do zelador, mas temos que ter a responsabilidade de acompanharmos de perto os problemas daquela pessoa que solicitou nossa interferência.
Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi: Odé Mutaloiá.
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