Dentro dos fundamentos dos
Orixás, muios são os segredos e, nenhum de nós, pode afirmar que sabemos de
tudo, afinal, estamos em um mundo que, quanto mais vivemos, mais aprendemos.
Principalmente dentro dos preceitos do Orixá, afinal, são séculos e séculos de
conhecimentos armazenados nas memórias do planeta.
Enquanto não nos curvarmos
perante a imensa jornada destes seres, e, não nos conscientizarmos de que ainda
temos muito que aprender, não estaremos prontos realmente para nos dizermos
filhos de Santo. Entendamos que o culto a essas deidades, vem de muito longe,
remonta mesmo à criação do mundo, pois os primeiros seres humanos a habitarem o
planeta, já mantinham seus rituais sagrados.
Como podemos então, nós, meros
mortais, seres ínfimos perante o Supremo Criador, sermos capazes de afirmar que
tudo sabemos e que nada é mistério para nós? Somos na verdade, criancinhas,
engatinhando na imensidão que é o Universo.
Os segredos dos Orixás, são
imensos, na verdade podemos afirmar que são infinitos, pois que, cada tribo,
cada aldeia, cada nação, tinha seu modo de cultuar essas entidades divinas.
Assim sendo, se formos parar para analisar, veremos que; cada região modificava
seu culto, e para cada sacerdote, o mesmo culto era visto de forma diferente, e
isso tão somente porque variavam e muito, os tipos de alimentos que eram
encontrados em cada uma dessas regiões, e assim por diante, e isto fez com que
surgissem várias vertentes da Religião africana.
Como o Brasil, foi escolhido por
nossos Orixás como o berço de sua ancestralidade, e aqui foram deixados, imensa
gama de conhecimento, a mudança é ainda maior.
Acontece que dentro de uma mesma
fazenda ou casa, conviviam, escravos de várias etnias e isso fez com que seus cultos,
culminassem em se unirem, e passaram então a enxergar que, mesmo mudando o
nome, a essência era a mesma, então começaram a surgir as qualidades de Santo,
e deu-se assim, início ao Candomblé, essa maravilhosa religião, que muitos
amam, mas, poucos têm a coragem de declarem adeptos.
Como a essência muda de uma para
outra forma de ver, ninguém está apto a dizer que é o grande conhecedor de
todos os seus segredos. Obviamente que algumas coisas não modificam, como:
pessoas do santo não usam preto, vermelho e roxo, não se come caranguejo, peixe
de couro, não se bebe nem se faz sexo nas sextas-feiras, por ser o dia de Oxalá
o Grande Pai de todos nós e assim por diante. Mas, daí nos proclamarmos o
supremo conhecedor de todos os atos, chega a ser até mesmo ridículo.
O que temos que fazer na verdade,
é nos unirmos mais, e respeitarmos mais
a forma de aprendizado de cada um. Nos enxergarmos, como aprendizes nessa
grandiosa doutrina, que muito tem a oferecer a quem a ela recorra com seriedade
e compromisso com a verdade.
No dia que agirmos assim,
estaremos mais próximos de sermos dignos de nossos encantados.
Enquanto um sacerdote não age
assim, comete erros sérios e muitas vezes fatais na vida daqueles que o buscam,
pois mostra que nada sabe. `A exemplo do grande filósofo Sócrates, temos que
dizer sempre: só sei, que nada sei:. Afinal, quem de nós sabe os mistérios da
criação?
Temos que primeiro termos
consciência de que nada sabemos, para depois nos declararmos, estudantes, na
imensa Universidade que é o mundo. Enquanto desejarmos agir apenas como
“mestres”, deixaremos de aprender as maravilhas que ainda pode nos oferecer o
mundo dos encantados.
Orixá, é e sempre será, algo de
muita seriedade e comprometimento, e sempre digo que: o Orixá existe para
todos, mas nem todos existem para o Orixá. Afinal, quantos existem por aí que
pregam aos quatro ventos, que possui vontade de ser do Santo, mas, não respeita
sequer as suas leis?
Se buscarmos, veremos que existem
quem diga que a proibição de algumas coisas como hábitos alimentares, por
exemplo, não passa de imposição dos sacerdotes. Que essa coisa de não se usar
preto, vermelho e roxo, não combina com o mundo atual em que vivemos.
Estaria uma pessoa desta, pronta
para ser iniciada nos segredos dos Orixás? Podemos garantir que não. Afinal,
como ser de uma religião, se nem mesmo respeitamos seus mandamentos?
Sei que nos dias atuais, muita
coisa está diferente, pois a correria do homem em busca da supremacia da
riqueza, o colocou escravo desta ambição. Mas, o Orixá não entende isso, e
exige que cumpramos seus mandamentos sem questionar.
Outros, se auto proclamam,
sacerdotes e sacerdotisas, mas, não buscam aprender mais, não se adentram em
conversas com mais velhos, pois em sua ignorância suprema, diz que somente ele
e sua casa, são feitos e sabem da verdade.
Com isso, raspam pessoas de Santo
errado, ou fazem o Santo certo, mas sem os fundamentos necessários, ofertam
comidas em vão, porque se não sabemos o que fazemos estamos ocorrendo em
transgressão das leis, pois o Orixá não compactua, com erros.
Somente com muito esforço e
dedicação, podemos nos apresentar como aprendizes destes seres, mas, nunca nos
intitularmos conhecedores da verdade. Até mesmo por que, o que é a verdade? A
minha ou a sua lei?
Soberba, arrogância, nada disso
faz parte do Axé do Santo. Humildade sim, esta é a maior forma de mostrarmos
que amamos nossos Orixás. Nosso credo é sim, sacro santo e temos que aprender a
respeitar suas leis e agirmos como
eternos aprendizes.
Se não sabemos, por exemplo, como
fazer os fundamentos de determinado Orixá, busquemos nos mais velhos o
aprendizado,e sigamos à risca aquilo que
nos foi passado. Entendamos que os mais velhos, sempre foram respeitados até
mesmo pelos bárbaros. Eram chamados de anciões pois tinham o conhecimento que
somente os anos de dor e sofrimento podem trazer para uma pessoa.
Então, por que em nosso meio, não
devem ser tratados assim? Nunca poderemos nos igualar a eles, pois se temos 40,
50 anos de vida, eles com certeza, possuem muito mais que nós e estão assim,
muito mais aptos a formatarem nossos atos.
Entra, por exemplo, uma pessoa de
determinado Santo, e aquele sacerdote, nunca fez seus fundamentos, então, deve
ele, buscar nas pessoas mais velhas, a sabedoria para iniciar aquele filho. Não
deve em hipótese alguma, agir sem consultar um mais antigo que ele, nos
preceitos, pois estará correndo o risco de provocar sérios danos na vida
daquela pessoa.
Não nos alto declaremos senhores
da verdade, mas, sim, nos declaremos imperfeitos e alunos nessa escola, pois
assim estaremos agindo em conformidade com as leis.
Se você meu irmão ou minha irmã,
não tem o conhecimento necessário de determinado Santo, não teime em fazer
sozinho, peça ajuda a quem seja de sua confiança, peça auxilio e verá que seu
filho será um vitorioso na vida.
Não teime em fazer nada sozinho,
pois nem mesmo os Orixás são alto suficientes, pois Olorum, os fez um
dependendo do outro. Entenda que se estudamos conseguimos o diploma, o mesmo
ocorre no Santo.
E você, meu mais velho, não negue
o ensinamento para aquele que se dirige a vós com humildade pedindo lição,
lembre-se de que: os galos de hoje já foram pintos ontem. Ninguém nasce sabendo
e ter a humildade de pedir ajuda, mostra o quanto aquela pessoa tem o real
preparo para ser um babalorixá ou yalorixá. Ensine, ajude, participe mesmo dos
rituais, mas, sem arrogância ou prepotência, e sim com a mesma humildade que
teve para aprender.
Passe seu conhecimento para
aqueles que o buscam, afinal de que o serve ele, se for para levar para a
sepultura. Não negue aquilo que um dia teve. Mas, ao ensinar, não critique
aquela pessoa, não se mostre supremo, mas sim, pergunte com carinho e amor, se
ele não gostaria, por exemplo, fazer de uma outra forma, pois assim não o
estará humilhando.
Vamos nos dar as mãos, nos unir,
em prol de nossa religião e de nossos antepassados.
Sérgio Silveira, Tatetú N'Inkisi
Odé Mutaloiá, Presidente do Conselho Religioso da UNESCAP.
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