Como já nos foi mostrado por Ifá,
o ano de 2013, será governado por Ogum. Mas, quem realmente é este Orixá?
Alguns pensam ser ele, apenas um
guerreiro, que à exemplo do deus Aires da mitologia grega, bebe sangue de seus
inimigos e faz sua cama com a pele dos mesmos. Para outros, Ogum é sinônimo
apenas de luta em um campo de batalhas, não mais restando nada para que este
grande Senhor possa fazer pela humanidade, além de nos conduzir às estradas da
guerra.
Mas, Ogum é muito mais que isso.
Foi Ele, quem descobriu o ferro e posteriormente o aço, em suas formas
primitivas e aprendeu a manipulá-los construindo assim, as primeiras armas,
pois as usadas antes eram de madeira.
Após esta descoberta e a
fabricação de armas, Ogum inventou as ferramentas agrícolas e com elas, ensinou
os homens a arar a terra para que pudessem tirar dela seu sustento, de forma
menos dolorosa, pois que, tudo era feito de forma muito primitiva. Graças a
esse ato, foi lhe concedido o título de protetor da agricultura, o que muitos
pensam ser de Odé. Mas na verdade é de Ogum este título, pois que, graças a
ele, a humanidade passou a ter mais comida na mesa.
E assim seguiu Ogum, sempre em
busca de novidades que pudessem colaborar com o progresso e consequentemente
com a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Enquanto seus irmãos, se
dedicavam aos exageros da carne, Ele por sua vez, se entregava de corpo e alma
ao trabalho, e nada mais fazia sentido para este Orixá, que não fosse a labuta
do dia a dia, e seus filhos tendem a ser exatamente assim, preferem mais o
trabalho, que os prazeres da vida. Ao menos com excesso.
Ogum sempre foi também, muito
amoroso e respeitoso a seus pais, nunca os desobedecendo, não importando quais
fossem suas determinações. Contam as lendas que, determinado dia, Orumilá
chamou Ogum à sua presença e disse a Ele que seu irmão Exú, estava indo longe
demais em suas maldades, que estava matando até mesmo crianças e velhos e que
Ele, Orumilá, o Pai de todos, não podia mais suportar tais atos, e assim,
solicitou que Ogum impedisse Exú.
Então, Ogum disse
respeitosamente: “Meu Pai; como vou fazer para deter meu irmão, que não escuta
ninguém; e julga-se senhor de tudo”? Orumilá então respondeu:
“Ogum meu filho: eis que o que
vou lhe pedir é demasiado forte e pesado, mas se confias em mim, como seu
Senhor e de todas as coisas me atenderá: conversarás com seu irmão, e dará e ele
uma chance de se redimir, mas, se ele assim não o quiser, terás que obriga-lo a
parar, nem que seja tirando-lhe o bem maior que lhe dei: a vida”.
Então, Ogum voltou para a Terra e
conversou com Exú. Explicou-lhe o que havia ocorrido, e suplicou-lhe que
parasse com suas maldades, pois seu pai já não mais suportava tais atos e
estava disposto a qualquer coisa para por fim a tanta barbárie. Porém, Exú,
muito orgulhoso, e prepotente, disse ao irmão, que nem Ele, nem mesmo Orumilá
mandavam n’Ele, e, que seguiria sua vida como bem quisesse.
Algum tempo depois, Ogum soube
que seu irmão não só cumpriu sua palavra, bem como, havia tomado proporções
muito maiores em suas maldades. Então, Ogum procurou Olodumarê, colocou-o a par
de toda a situação e perguntou o que faria. Olodumarê então respondeu que Ogum
sabia já o que devia ser feito, e que o fizesse sem mais demora.
Voltou Ogum para a Terra, e foi
em busca de seu irmão. Novamente tentou conversar com ele, na esperança de que
conseguisse que o irmão parasse com seu atos cruéis. Mas, Exú não queria saber
e ofendia Olodumarê com palavras e atacava inocentes. Então, não vendo outra
saída e após vários esforços,
Ogum não teve outra opção que não a de ceifar a
vida de seu irmão que não obedecia a Olodumarê.
Vendo que seu filho chorava,
carregava no peito a dor pelo ato cometido, mas, nunca se voltara contra suas
vontades, Olodumarê o convocou de novo à sua presença e o presenteou com um
reino, e fez com que esse reino prosperasse muito. Mas mesmo assim, a dor não
sumia do coração de Ogum.
Assim sendo, passou a trabalhar
ainda mais, e cada dia que se passava se dedicava ainda mais ao trabalho, como
forma de manter sua mente ocupada, buscando deste jeito, se desvencilhar do
tormento que vivia. E quanto anoitecia o cansaço era tanto, que mal se deitava,
o sono já o arremetia para bem longe dali.
E assim ele seguiu o resto de
seus dias. E começou a se dedicar a arte da guerra e não existia guerreiro que
pudesse competir com ele em sabedoria, destreza, esmero, maestria no manejo da
espada, inteligência para criar estratégias de batalhas e começou assim a
ganhar títulos e mais títulos e através de suas guerras foi aumentando ainda
mais seu reino. Afinal, fora ele, nascido para a guerra, era guerreiro por
excelência, e ninguém podia competir com Ogum em um campo de batalha.
Mesmo sendo esse guerreiro nato e
indestrutível, Ogum nunca parou com suas pesquisas e estudos sobre os minérios
que encontrava no solo da Terra e com eles foi desenvolvendo mais e mais
ferramentas e armas e proporcionando cada vez mais aos homens, uma vida mais
digna e menos doída.
Construiu muitas coisas e deixou
outras tantas para a prosperidade. E depois que se encantou como Orixá,
continuou a defender seu povo, buscando formas cada vez mais inovadoras para
que pudessem vencer suas batalhas.
Ainda hoje, vemos Ogum em tudo no
nosso dia a dia: Ogum é o caminhão que transporta o progresso, e o aço que
constrói nossas pontes, prédios, geladeiras, e todos os utensílios que usamos.
É Ele ainda, a estrada de ferro por onde passa o progresso da humanidade, é o
barulho da arma de fogo, é o asfalto que nos proporciona uma viajem mais
confortável, é o avião que nos leva rápido em qualquer direção do planeta,
enfim: Ogum é tudo que supera as dificuldades, pois é o progresso, pois sem a
descoberta do ferro e do aço, e as formas de manipular os mesmos, não teríamos
hoje, nada do que temos.
Conta-nos outra lenda que Nanã
desentendeu-se com Ogum e foi pedir a Olodumarê que o punisse, mas, Olodumarê
disse a Nanã que Ogum era um filho bom, obediente e justo e que dificilmente
sua reclamação contra Ele procedia. Então, deu o direito de Ogum se pronunciar,
e ao ver que nada do que lhe dissera Nanã combinava com a realidade, Olodumarê
sentiu muita raiva dela e culminou por expulsá-la de sua casa.
Mais tarde, Ogum se encantou por
uma linda ninfa, e pediu seu Pai que consentisse na união, e Ele não só
consentiu, como deu-lhes um reino de presente. Esta ninfa era uma das Yemanjás
novas, que após a união com este Ogum, passou a adotar o nome de Ogunté, ou
seja: Aquela que contém Ogum.
Como este Ogum era o verdadeiro
Senhor dos ferreiros, ela vivia em sua companhia e com ele aprendeu a manusear tanto a espada
como outras armas de guerra e assim passou a guerrear junto de seu amado
esposo. Com a partida dele para o reino de seu Pai, ela ficou sozinha e passou
a andar a noite, e assim passou a ser temida como a “Amazona que caminha de
noite” e todos tinham medo de sua ira, afinal com seu esposo Ogum, ela
aprendera todos os segredos da Guerra e não existia naquelas redondezas quem
pudesse se comparar a ela em maestria nesta arte.
Ogum come vários tipos de comida,
mas, tem uma predileção por cará, feijão preto, acaçá, feijão fradinho torrado,
padê (apenas para algumas qualidades) bode, galos, galinha de angola, pombos,
entre outros.
É o Senhor absoluto dos caminhos
das estradas e ao trilharmos por eles devemos sempre nos lembrarmos de lhe
pedir a benção e a permissão para ali estarmos. Algumas qualidades, ainda
governam as encruzilhadas e outros as encruzilhadas próximas a cemitérios. É
portanto um Orixá arredio e que não conhece muito a palavra perdão. Em sua
filosofia, sempre temos uma fração de segundo para pensarmos antes de agir,
assim sendo, por que arrependimento? Afinal tudo termina sendo premeditado.
Louvemos pois, a Ogum. Saibamos
respeitar este que tanto nos deu, e tão pouco nos pede. Saibamos honrar seus
feitos, e assim, honremos tudo que Ele representa, afinal, que seria de nós sem
a tecnologia, sem a modernidade?
Ogum, aquele que vence demanda em
qualquer lugar. Aquele que sentou praça na cavalaria. O que deu combate às
tropas inimigas quando os negros o invocaram suplicando sua proteção na guerra.
Ogum, aquele que mesmo tendo água
em casa se banha com sangue. Ogum que recebe caramujos e come carneiros. Senhor
do progresso e dos caminhos, os mesmos caminhos que andamos na vida e depois
dela.
Pai Ogum, que cuide de nós neste
novo ano que se inicia. Que nos mostre o caminho do progresso e da ascensão,
que nos livre das pragas, dos olhos grandes, dos feitiços e das
perseguições. Tende misericórdia de nós
Ogum. Se digne a olhar por nós que nada somos. Abençoe-nos Pai.
Ogum, que fostes esposo de
Ogunté, que és o verdadeiro protetor dos ferreiros, tende misericórdia de nós,
nos cubra, nos ampare e nos defenda hoje e sempre.
Assim seja.
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