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sexta-feira, janeiro 11, 2013

ORIXÁ TEMPO

Quero aqui reverenciar o verdadeiro Rei de minha Nação, Angola, Tempo. Aquele que não tem casa, que mora em todos os lugares, que nos socorre em todas as nossas angustias e necessidades.

Para nós, angoleiros, nada podemos fazer sem prestarmos reverência a este grande Senhor, que reina absoluto em nossa nação. É sincretizado com São Lourenço. Tem seu assentamento do lado de fora em baixo de uma árvore e ali são postas suas oferendas, mas somente os de idade de Santo suficiente, podem a ele se chegar e entregar-lhe as oferendas necessárias.

É o Orixá mais antigo que existe. Segundo as lendas angolanas, Zambiapongo (Deus), Lembá Furanga (Oxalufã) Lembá Renganga (Oxaguiã), Zambira (Ifá) fazem reuniões e para ela são convocados todos os Orixás e dentre eles, sentado em um canto, calado, sem nada dizer, está o assessor direto de Zâmbi, anotando tudo o que foi dito, e quais os caminhos que a humanidade deverá seguir. Este assessor é Tempo.

 Muito pouco conhecido tanto pelos vivos como pelos mortos, dos que nasceram como dos que estão por nascer, mas, toda a criação está incluída em seus desígnios, pois que estes foram dados pelo Grande Criador do Universo.

Dado a sua grande responsabilidade junto a Deus, é este, um Orixá implacável em suas cobranças. Governa todo o tempo e espaço, acompanha e cobra da humanidade o cumprimento total de seus carmas, e é ele ainda quem determina o começo e o fim de tudo nesse mundo.

Dentro do Candomblé de Angola, se veste de branco, e quando sai na sala, todos os demais Orixás viram, ou seja, se manifestam em seus filhos, afinal o Pai de todos os está ali presente. Aquele que rege tudo, e todos na natureza, ali está para ser reverenciado por seus filhos.

Como assessor de Zâmbi, ele cumpre suas ordens e determinações, então, como não virem reverenciá-lo no momento em que está presente na sala dançando?

Porém, se enganam aqueles que pensam que Tempo somente é conhecido pelos candomblecistas. Ele já era conhecido por outros povos, muito antes de nós, meros mortais, praticantes desta maravilhosa religião existirmos.

Na Mesopotâmia e na Babilônia era tido como Enki, o leão alado, que acompanhava a todos desde o dia de seu nascimento, até o de seu retorno ao infinito. Já no Egito antigo, era chamado de Anúbis, o Chacal, que determinava a caminhada de todos, desde o nascimento até o dia em que tinham que atravessar o vale da morte, voltando assim para a fonte da criação, ou seja; o Supremo Criador.

Até mesmo ente os Maias e os Incas era Tempo conhecido, sendo que para os primeiros, seu nome era Teotihacan e para o segundo era Viracocha. Ente os Maias, era ele o senhor do início e do fim.

Temos ainda Tempo nas culturas Grego e Romana onde era conhecido como Cronos, o senhor absoluto do tempo e do espaço, aquele que abriga e conduz todos os humanos ao caminho da eternidade e sem ele não poderiam alcançar o mundo dos mortos.

Como podemos ver, mesmo nessas culturas, Tempo está relacionado diretamente à ancestralidade, o que não é diferente para nós no Candomblé. Temos muito respeito por este Senhor, e os verdadeiros iniciados, sabem que os resultados de nossas cerimonias, está ligado diretamente a ele, pois que, sem ele não teríamos acesso ao seu domínio que é justamente o tempo e o espaço, e assim sendo, não teríamos como entrar em contato com nossos antepassados.

É ele quem nos facilita o aprendizado, quem nos permite o aprimoramento através do tempo, é ele ainda quem propicia o despertar do amor, a paz após uma tormenta, a tranquilidade em uma angústia, quem nos traz enfim, todas as respostas que precisamos. Diz um antigo ditado popular: “dê tempo ao tempo”. E quanta sabedoria. Pois se damos tempo ao Orixá Tempo, é ele quem nos trará tudo que precisamos.

Devemos nos ater mais a essa deidade, pois trabalha de forma ininterrupta, sempre nos auxiliando em nosso crescimento espiritual. Cobra-nos nossas faltas, pois esta é sua missão para com Zâmbi, mas também, nos alivia a dor, seja ela qual for. Traz-nos a calma necessária para que possamos passar por nossa jornada aqui na Terra.

É ele que nos beneficia na colheita para termos o alimento, nos aplaca o ódio, nos ensina a perdoar e a amar. Temos que entender que sem ele, nada podemos fazer mesmo Oxalá precisou dele para poder nascer.

Tão grande seu valor, e passa tão despercebido na maioria das vezes. Para muitos é apenas mais um Santo no panteão afro. Mas, é na verdade, o mais importante, pois se não fosse Tempo, como nossos Orixás viriam até nós?

Graças ao poder dele podemos nascer viver, e voltarmos para o Reino de Olorúm, onde vivem nossos antepassados, e, se nos fizermos dignos aqui na Terra, poderemos usufruir de todas as glórias que esses seres divinos gozam ao lado do Supremo Criador.

Tempo macura di lê. Tempo N’gana Zambi, aê Tempo!



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