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sábado, outubro 08, 2022

Exú do lodo, sua história

 


Eis um Exú muito raro nos terreiros de Umbanda. Mesmo nos idos de minha iniciação dentro dos mistérios desta maravilhosa religião, não me lembro de ver vários médiuns trabalhando com ele. E quando o via, era sempre reservado e quase não conversava. Mas, quem é esta entidade?

Segundo os pesquisadores, sua história remonta ao século XVIII. Era ele, encarnado e praticava a medicina, sendo bastante conhecido em sua época, era um célebre doutor, possuidor de uma inteligência incrível e afamado por salvar  vidas! Mas, a vida de quem ele salvava? Apesar de ser um médico muito famoso , conhecedor profundo de todos os recursos da medicina, ele somente prestava atendimento à alta sociedade, os que eram nobres, burgueses ou mesmo da família real. Mas, os pobres não tinham direito a serem atendidos por este que se julgava um deus da medicina.

Quando era perguntado  a ele o por que de agir dessa  forma, ele alegava que, não podia atender aos pobres, pois necessitava do dinheiro para financiar suas pesquisas e desta forma, poder ajudar ainda mais aos doentes. Não adiantava implorar a ele por socorro, pois ele se negava,  afinal, estava ali para ganhar dinheiro e nada mais. Caridade era uma palavra por ele desconhecida, levava uma vida de luxo, extravagante e nem mesmo à religião e a fé eram por ele valorizadas. Vivia uma vida completamente supérflua, assim como qualquer outra pessoa que não valoriza os assuntos Divinos.

E ele seguia assim sua vida. Ganhou muito, muito dinheiro, e com esse dinheiro, conseguiu construir dois hospitais, porém, os pobres não tinham direito a serem atendidos nesses hospitais, pois que, os mesmos se destinavam somente a atender a burguesia, ali não era lugar para caridade. Sua mãe, era uma pessoa voltada à caridade e não deixava de socorrer os mais necessitados, e, insistia com ele para que atendesse e socorresse os pobres, afinal, eram eles, filhos de Deus assim  como qualquer outra pessoa. Ele no entanto, se negava de todas as formas e dizia:"os pobres que fiquem doentes e morram"! Era inteiramente interesseiro, mesquinho, avarento. Quando sua genitora faleceu, esses vícios se tornaram ainda maiores e, sua arrogância e ganância aumentaram ainda mais.

Mas, o doutor se esqueceu que: era um ser humano também, e que, como tal, um dia iria deixar esse mundo. E eis que chegou o dia de sua morte. Então, ele, o grande médico, o todo poderoso, rico, ao invés de ir para um local que sua arrogância achava que iria, foi posto para os planos mais inferiores onde somente a dor, a angústia, o pranto e o ranger de dentes existiam. Ali, ele pode então presenciar e viver todo tipo de dor, pelas quais passam somente os espíritos que agem da forma que ele agia, conviveu até mesmo com espíritos que eram, quando em vida, assassinos, estupradores, viu o que realmente nossas ações causam em nossa alma. Vivia então, o doutor, todas as dores e sofrimentos, os quais nunca, sequer, cogitara poder existir.

Pôde presenciar a real concepção da palavra inferno. Pôde sentir uma dor tão excruciante que jamais pensou existir. Foi preciso um longo período de sofrimento, dor, angústia, para que pudesse purgar todo o mal que praticara aqui na Terra. Após este longo período,sua mãe foi autorizada a finalmente poder ajudá-lo. Assim então ela se dignou a descer ao Umbral. Lá chegando, sua mãe sofreu muito, pois viu seu amado filho, se rastejando pelo lodo, e assim, estendeu-lhe a mão. Porém, o orgulho, ainda fazia parte dele e de início ele negou-se a segurar na mão de sua mãe. Também pela vergonha que sentia pelos inúmeros erros cometidos. Mas, a fé de sua mãe não diminuía e, através de suas orações, ele por fim cedeu e aceitou a ajuda, ela então, segurou sua mão com força e o puxou para fora daquele inferno.

Assim, o doutor começou a ver que todo seu dinheiro de nada lhe valia. Percebeu então que, o lodo por onde se rastejava era nada mais, nada menos que suas posses que haviam se transformado naquele vale fétido. Após todo o tormento que passou, mostrou- se arrependido de verdade e recebeu uma nova chance para a sua redenção, e assim, encarnou em uma família muito humilde, que vivia em uma tribo afastada de qualquer civilização. Naquele ambiente pobre, o espírito que antes era arrogante e prepotente devido a riqueza, aprendeu a lidar com a total falta de recursos,tinha que aprender que somente através da humildade poderia galgar os degraus da espiritualidade.

Sabemos que a Providência Divina, de tudo sabe, de nada se esquece, e a tudo observa e ampara, assim, ele teve uma curta vida naquele ambiente tão pobre, pois, como aprendeu sua lição, com apenas oito anos de idade veio a óbito através do ataque de uma cobra peçonhenta.

Assim, voltou ao plano espiritual, onde novamente sua mãe o aguardava e o auxiliou. Mas, desta vez, depois de seu aprendizado, foi levado para estudos extrafísicos e, após se sentir capaz, solicitou uma missão: desejava ardentemente ajudar as pessoas, dar-lhes a cura, usar então, todo seus conhecimentos em prol de seu semelhante, algo que em vida passada havia negado aos humildes.

Mas, essa ajuda seria dado aos desencarnados, aos espíritos dos mortos, que vagam pelo mundo espiritual, dando assim, uma cura muito maior que a física. Como forma de mostrar a si mesmo a humildade e submissão a Deus e suas Leis, assumiu a forma de Exú do lodo  bem como a alcunha. E assim, usando essa forma poderia também ajudar a todos que tivessem através de erros, caído nas mesmas tentações que ele anteriormente. 

Eis que assim nasceu Exú do lodo. E essa forma ele usa também para: se lembrar constantemente de seus erros, de que a riqueza terrena de nada serve, para que aqueles que cuida no mundo espiritual possam ver no que se transformaram todos os seus bens terrenos e ainda,  para que nós seres humanos, entendamos que, nada nesse mundo tem real valor, e que, somente a riqueza do espírito vale para Deus!


Tatetú N'Inkisi Odé Mutaloiá






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