Há, no mundo de hoje, quem diga
que Ogã não é Pai, que não tem que se dobar para ele, nem mesmo que ser chamado
de Pai, pois para essas pessoas eles não passam de “tocadores de atabaques”.
Ainda existem aqueles que dizem: “não
respeito Ogã, pois faço 10 ogãs e 100 Ogãs não me fazem”.
Realmente, Ogã não raspa um
noviço, não dá bori, nem muita coisa que um sacerdote ou uma sacerdotisa fazem,
mas; quem de nós, dentro do Axé Orixá pode fazer alguma coisa sem um Ogã nos
acompanhando?
Se eles, não nos fazem, nós, por
nossa vez não podemos fazer um Yawô ou Muzenza sem ele, afinal, quem toca os
ensaios de nossos filhos?
Quem irá tocar a saída daquele
que estamos iniciando? Quem tocará o “Zambi no Akodidê”?
Quem tocará o Toté de Maiongá?
Como podemos ver, dependemos sim
e muito dos Ogãs, pois são na verdade o esteio de uma casa de Candomblé, sem
Ogã não se tem uma roça de Santo.
Os Ogãs, dentro da Nação que fui
feito, sempre tiveram muito respeito até mesmo por parte daqueles mais antigos
na religião, pois são os que chamam nossos Orixás em terra. São eles, com suas
mãos sagradas e devidamente preparadas, que primeiro entram em contato com as
nossas Divindades, fazendo através do fundamento dos toques, que eles, se
dignem a virem do Orúm, para nosso meio.
Ogã é sim, um tipo de mediunidade, uma
qualidade de sacerdote sim, porque sem eles, não temos o transe que faz com que
o Sagrado se manifeste no impuro.
Desde tempos mais remotos, o Pai
Ogã, como sempre foi chamado nas casas de axé, tem uma responsabilidade muito
grande como nossos Orixás e com nossas cabeças, e isso se dá devido ao fato de
forçarem a comunicação da Energia Orixá, com sua matéria.
Sempre ouvimos os mais velhos
dizerem que Ogã não se manifesta, ou seja: não dá incorporação, mas hoje em
dia, vemos muitos que possuem vontade de ser Ogã dando incorporação.
São atos que contrariam as leis
dos mais antigos no Santo, afinal Ogã é um sacerdócio a parte nos rituais do
Orixá, pois dependemos dele para tocar os instrumentos sagrados para que nossos
encantados se manifestem e possam assim socorrer os que deles precisam.
Nunca um Ogã irá se incorporar
seja lá com o que for. Ouvi muitos antigos na religião, ensinarem que Ogã é uma
pessoa que em outra encarnação foi raspado, era rodante, mas, sua missão não foi
completa dentro do Axé Orixá e por isso ele voltou com esse cargo, pois seu
Santo não mais precisa vir a Terra, dançar e praticar outros atos que nós,
rodantes praticamos e por este e outros motivos é que Ogã já nasce com sete
anos, com as mãos para trás.
A manifestação do Orixá do Ogã se
dá através de sua mente e de suas mãos, quando estas entoam os toques sagrados
para que tenhamos os encantados conosco. Suas intuições são outra manifestação
de seu Orixá e eles não precisam de mais nada, além disso, para serem pais.
Pai Ogã: sem ele, a roça não
funciona, e sem ele, muito pouco fazemos dentro dos barracões.
Como podemos, por exemplo, fazer
os ritos funerários, sem um Pai Ogã para tocar os atabaques, Engoma na Angola e
Ilú no Kêtu?
Como tirarmos na sala, nosso
filho que está nascendo se não tivermos o Pai Ogã para tocar os ritmos
sagrados?
Nenhuma obrigação podemos fazer
sem esse Pai, pois que, para a grande maioria dos rituais temos o uso dos
atabaques e somente a eles é dado o direito de manipular esses instrumentos,
que na verdade pertencem a Ogum.
Sempre foi dito também pelos mais
antigos, que uma mulher não tem o direito de tocar esses instrumentos, mas,
algumas vezes quando não se tem um Ogã presente, e ali está uma mulher que
saiba tocar o instrumento, ela pode sim, mas, desde que esteja de corpo limpo,
sem estar menstruada, pois corre o risco de enquizilar os Orixás.
Porém, mesmo assim, algumas
pessoas do Santo, insistem em dizer que Ogã não é Pai, que não se deve dar
dobale em seus pés e muito menos lhe dedicar o carinho que temos por nosso Pai
e Mãe. Como estão enganados.
Tanto são pais, que existem as
qualidades de Ogãs, e aqui passo a descrever as de minha nação:
Kambondos - Ogãs.
Tata Nganga Lumbido - Ogã,
guardião das chaves da casa.
Kambondos Kisaba ou Tata Kisaba -
Ogã responsável pelas folhas.
Tata Kivanda - Ogã responsável
pelas matanças, pelos sacrifícios animais (mesmo que axogun).
Tata Muloji - Ogã preparador dos
encantamentos com as folhas e cabaças.
Tata Mavambu - Ogã que cuida da casa de Exu (pois mulher não deve
cuidar porque mulher menstrua e só deve mexer depois da menopausa, quando não menstruar
mais, portanto, pelo certo as zeladoras devem ter um homem para cuidar desta
parte, mas que seja pessoa de alta confiança).
Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi
Odé Mutaloiá. Presidente do Conselho Religioso da UNESCAP.
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