Encontramos pessoas que nos
enganam, mentem, ofendem, enfim: praticam uma infinidade de coisas que nos
levam muitas vezes a chorar. Não é diferente dentro de uma casa de Santo, onde
os filhos geralmente ofendem seus zeladores de tal forma, que esses preferem
nunca mais ver aquela pessoa.
Passa-se o tempo, não importa o
quanto e aquela pessoa volta pedindo perdão a seu zelador ou zeladora, se
dizendo arrependido do que fez, que foi em um momento difícil de sua vida, dá
suas explicações e o zelador aceita a pessoa de volta.
Uns menos esclarecidos, dizem que
o zelador é bobo, que se fosse ele não aceitaria de forma alguma aquela pessoa
pois que, se errou uma vez errará sempre. Existem até mesmo aqueles que dizem
que o zelador tinha que queimar a pessoa para ela aprender.
Mas, essas pessoas se esquecem
que nós, zeladores de Santo, somos realmente pais e mães das pessoas dentro do
Santo e jamais um pai ou uma mãe deixa de perdoar seu filho, não importando o
grau de sua ofensa. Acreditamos sim, que aquele filho que errou, merece uma
segunda chance, afinal é carne de nossa carne, sangue de nosso sangue.
Dentro do Orixá, nossos filhos,
possuem seu Orixá e este é filho de nosso Orixá, pois não temos o poder de
sermos pais e mães de um Orixá. Mas a pessoa, essa sim, é nosso filho e filha
dentro do Santo. Se são nossos filhos, como não perdoar seus erros?
Não temos o direito de negar
perdão a quem quer que seja, isso nos ensinam Jesus e antes d’Ele, ensinava
Iká, o portador dos mandamentos da doutrina Yorúba. Bem, se não perdoamos aos
que nos pedem perdão, como esperar que Olorúm ou nosso Orixá nos perdoe as
faltas cometidas?
Não entendem as pessoas que
nossos filhos de Santo, são para nós como filhos carnais e os amamos com a
mesma intensidade! Sentimos quando sofrem, choramos quando choram e nos
alegramos quando estão felizes! Sentimos tudo isso, porque o amor que se
expressa, não provem de nosso coração terreno, esse que a Terra irá comer, mas,
provem da alma, do espírito, pois são nossos filhos e esse amor é dado pelo
Orixá.
Determinada época recebi o
seguinte recado de meu Pai Odé: “aquele que perde perdão, merece ser perdoado.”
Então, como negar algo que o próprio Orixá nos convoca a fazer? Melhor seria então,
abandonarmos a religião! Sim! Abandonar, sair, pois se não podemos seguir ao pé
da letra o que nosso próprio Santo determina ou pede, estamos então no local
errado!
Sim, nossos filhos erram conosco.
Mas, quantas vezes erramos com nosso zelador ou zeladora? E eles ali estavam
prontos a nos darem seu perdão, nos corrigir sim, devido a nosso erro, mas nos
perdoando e cuidando de nós e de nossos Santos. As pessoas precisam entender de
uma vez por todas que, quando um
Santo nos pede para o alimentar ou mesmo ficar em nossa casa, nós o servimos e não
ele a nós! Somos nós os eleitos, pois aquela deidade escolheu nossa mão!
Mas, com tristeza em meu coração,
vejo algumas pessoas pensarem o contrário e acharem que o Orixá ali está para o
servir. Não! Nós servimos às deidades, e quando alimentamos o Santo de um
filho, temos que estar ali com o coração livre de ódio, de mágoa e de tudo que
for negativo, pois nossa missão é literalmente, cuidar de nossos filhos de
Santo, pois dependem de nós!
Perdão, é a palavra mais
anunciada, mas o sentimento menos praticado no mundo, e nós que somos de uma religião
que aqui foi deixada por escravos, e que somos perseguidos até hoje por culpa
do pré-conceito e da intolerância, não podemos deixar jamais de praticar o perdão.
Ao perdoarmos nossos filhos,
mostramos acima de tudo, amor ao Orixá. Tanto o nosso quanto ao dele, pois se estão
em nossas casas não foi à toa. Tudo nessa vida tem um por quê, e não seria diferente
quando uma pessoa vem para nossa casa.
Perdoarmos nossos filhos, é
praticar ainda a máxima de Cristo: “faça a seu próximo somente o que gostaria
que lhe fizesse”. E quem de nós gostaria de pedir perdão ao Santo e não sermos
ouvidos e atendidos?
Ao perdoarmos os que erraram
conosco, independente da gravidade do erro, estamos promovendo equilíbrio em
nossa vida e deixando nossos Orixás felizes. Que entendam as pessoas de uma vez
por todas que; um pai ou mãe de Santo, sempre irá perdoar seus filhos, pois os
amamos acima de seus erros.
Tatetú N’Inkisi Odé Mutaloiá.
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