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sábado, abril 14, 2012

A COMPATIBILIDADE DA MEDICINA COM A RELIGIÃO


É comum vermos líderes religiosos, avisarem para seus seguidores que a medicina é dispensável quando se faz uso da fé para a cura de doenças. Sempre dizem: ‘jogue fora seus óculos. “Pare de tomar esse medicamento”. E ainda dizem em alguns seguimentos que a doença é obra satânica e que o medicamento também faz parte das artimanhas desse ser.

Isso é o maior erro que uma pessoa pode cometer. Temos, sim, que usar a religião para colaborar no tratamento de doenças, pois é provado cientificamente que, a fé, auxilia e muito no tratamento das pessoas.

Algumas doenças, como a epilepsia, por exemplo, são sim, de fundo espiritual, o mesmo acontecendo com a esquizofrenia, e loucura e outras. Mas, daí a substituir o uso da medicina é um afronto ao diploma de quem se dedicou uma vida a estudar para promover a cura das doenças e dos males em geral de nosso corpo.

Somos filhos de Olorúm, sim, mas, Ele colocou a medicina na Terra para que dela façamos uso, para que ela como grande ciência que é, busque em seus conhecimentos a solução para nossos problemas mais graves.

Não podemos de forma alguma, suplantar a medicina, até mesmo porque, não conseguiremos tal proeza. Somos antes de tudo, seres humanos e assim sendo, passiveis de sermos acometidos pelas doenças.

Um sacerdote não pode, em hipótese alguma, querer saber mais que o médico, assim como este também tem que respeitar a ciência oculta, chamada de fé.

Presenciei caso em que, uma criança precisava de transfusão de sangue imediatamente, pois caso contrário viria a óbito. A família não aceitava de forma alguma o procedimento, alegando que o sangue é a alma e se a criança viesse morrer, seria a vontade de Jeová. O médico então virou para a família e disse: “respeito sua fé e crença, mas, não posso deixar que essa criança venha a falecer por falta da intervenção, pois serei caçado.

Mesmo assim, a família lutava para impedir o ato, e a criança aos poucos morrendo. Então, o medico cansado de esperar e vendo a criança falecer disse: “senhores, quem manda aqui sou eu, e não Jeová e farei a transfusão sim, e se até mesmo Jeová entrar aqui precisando, farei nele também a transfusão”. E a criança sobreviveu.

O que temos nessa passagem, não é a fé, mas sim, o fanatismo, que é na verdade a ignorância em sua supremacia.

Será que Deus não quer que deixemos uma pessoa morrer por falta de um procedimento medicinal, se assim o fosse Ele não seria Deus! Não seria Aquele que tudo criou.

Temos como sacerdotes, a obrigação de incentivarmos aqueles que nos seguem a fazer sim, sua consulta com médicos, buscando na ciência a solução para problemas que impedem o bom funcionamento de seu corpo.

Todas as religiões, inclusive o Candomblé e a Umbanda, pregam que o suicídio e o assassinato, são erros gravíssimos contra Deus e suas leis, então, como podemos incentivar os mesmos, pois ao coibirmos o uso de medicamentos estamos sim, promovendo o assassinato e o suicídio.

A fé e a medicina, podem sim, andarem juntas. Recentemente foi publicado em revistas e até mesmo na T.V, que médicos, solicitaram a intervenção através de orações, para pessoas convalescentes de problemas cardíacos, e, para espanto de todos, aqueles que receberam, além da medicação, correntes de orações, tiveram a cura mais rápida que os demais.

Porém, isso não significa em hipótese alguma, que uma, substitui a outra. Se precisamos da fé, precisamos da medicina e vice versa.

No Templo de meu Orixá, foram tratadas pessoas com os mais variados problemas de saúde, mas, nunca foi sequer mencionado que poderiam parar de fazer uso da medicina. Ao contrário, sempre as pessoas foram orientadas a seguirem à risca as determinações médicas.

Irmãos, se a medicina não fosse necessária, Deus não a teria criado. Uma vez que somente através de sua Imensa Sabedoria, o homem, descobriu a medicina e seus recursos.

Conheço pessoas dentro de nossa religião, que dizem: “você, fulano, não precisa de médico, mas sim do Orixá”. Isso está errado, pois precisamos de ambos.

Obviamente que temos Obaluayê que é chamado carinhosamente de médico dos pobres, mas, nem por isso podemos deixar de recorrer a um profissional que estudou exaustivamente para chegar ao ponto de ser chamado de médico.

Acontece que em alguns casos, a medicina não encontra a solução imediata, pois diagnostica que a pessoa aparentemente nada tem. Então, devemos fazer obrigações para que os médicos possam ser orientados pelos Seres Superiores, a assim, conseguir diagnosticar o mau que acomete àquela pessoa.

Temos espíritos inferiores, que até mesmo acometem sintomas de doenças em alguém, aí, nesse caso, somente os ebós e os procedimentos ritualísticos, aplicados por quem tenha real conhecimento, pode trazer uma solução, mas, mesmo assim a medicina não pode ser deixada de lado.

Oremos, pois, entreguemos oferendas pela saúde de alguém, mas, nunca em hipótese alguma, impeçamos que a pessoa busque a medicina. Pois a compatibilidade de ambas existe sim, e está cada vez mais provada.

Sérgio Silveira. Tatetú N’Inkisi: Odé Mutaloiá. Presidente do Conselho Religioso da UNESCAP.

quinta-feira, abril 05, 2012

QUEM É DEUS NA NAÇÃO ANGOLA


Sabemos que para os Nagôs ele se chama Olorúm. Já os angolanos tinham outra denominação para Deus: Nzambi (Zambi) ou Nzambi Mpungu (Zambiapongo) - O Deus supremo e criador de tudo e de todos. Sendo que este é apenas um de seus títulos, pois para outras regiões de Angola, ele ainda é conhecido como, Sukula e para outros como Kalunga. Porém, muitos outros nomes ainda estão associados ao Pai Supremo.

Dentro da cultura Banto, nada se fazia que pudesse vir a contrariar as leis de Zambiapongo, pois temiam que este os castigassem através de suas deidades, os Inkisis.

Assim como Olorúm dos Yorúbas, Zambiapombo não possuía Templo nem mesmo um culto especifico, pois acreditavam que através de seus mensageiros, tinham acesso ao Grande Pai e agradando a estes, agradavam o Criador.

O engraçado é vermos que pessoas de outros seguimentos religiosos, dizem que no Candomblé praticamos satanismo. Em nossa cultura, não cremos que possa existir algum ser com capacidade para afrontar a Deus e muito menos para desejar tomar seu Reino.

Acontece que falamos outra língua sim, e por esse mesmo motivo, vale a pena lembrar, que os escravos foram martirizados a mando da igreja de Roma, pois não entendiam o que falavam e logo os associaram a um ser horrendo.

Também foi associada a este ser, a religião que traziam de sua Terra. Pregavam que os negros cultuavam um ser que chamavam demônio e com ele matariam as pessoas.

Se Zambiapongo, Olorúm, é o diabo, então Alá dos mulçumanos também seria? Temos que entender que são nomenclaturas, que a forma de pronuncia muda conforme a região do Planeta, na qual vivemos e assim, o mesmo Sagrado tem um nome em cada canto deste mundo.

Bom, se cultuamos um ser trevoso e maléfico, como podemos basear nosso credo em um ser Supremo e bondoso que a tudo criou?

Não cultuamos deuses como falam, mas sim, Ministros de Deus, seja ele chamado de Zambiapongo ou Olorúm. Para que tenhamos uma ideia, os Bantos, não faziam nada sem consultar seus Inkisis e se esses achassem que tal ato confrontaria com as leis de Deus, imediatamente eram suspensos qualquer ritual.

Deus, ou Nzambi, Zambiapongo, sempre foi muito sagrado para esse povo, tanto que jamais pronunciam seu nome em vão (2º Mandamento da Bíblia: Não tomarás em vão o nome do Senhor seu Deus).

Quando precisam se reportar a ele, é somente em situações extremas. Nesta ocasião, eles rezam e invocam Nzambi, e geralmente é fora de suas aldeias, em baixo de uma árvore ou mesmo na beira de um rio.

Fazem desta forma, porque se acham impuros e também sua moradia, para que ali, a Fonte Suprema de tudo se manifeste.

Dentro da cultura Banto, Nzambi não tem uma representação física, uma vez que ele é o Incriado, ou seja: não foi criado, mas sim, criou a tudo e a todos, é Ele: o princípio, o meio e o fim. Então, reassentar o Ser Sagrado, seria um sacrilégio em sua cultura.

Quando precisam de favores, chamam por suas divindades, pois para eles, estes são seus Ministros e assim sendo, têm toda autonomia para interceder junto a Ele em seu favor. E mais ainda: quando terminam seus rituais, Zambi é louvado, pois graças a Ele é que tudo foi criado e assim sendo, ele é o principio e o fim de tudo e de todos.

Zambiapongo, o Pai Grandioso, que criou todas as criaturas, na visão dos Bantos, e segundo eles, Zambi criou até mesmo o que está acima: as nuvens e eles, naqueles tempos não tinham a mínima condição de sequer imaginar o que existiria lá, nas alturas.

Acreditavam que acima das Nuvens, estava a morada de Zambi e que somente através de muita dedicação é que poderia uma pessoa chegar aos mais ínfimos degraus que levariam à sua morada.

Na cultura Banto, Zambi criou o mundo e tudo que nele existe. Criou o homem, e a mulher para que eles pudessem gerar filhos e assim, perpetuar a raça humana. Criou os animais para que andassem pela Terra e servissem de comida para seus filhos, os humanos.

Criou as Insabas, para que servissem umas de alimento, outras para remédio, criou a chuva para que molhasse a Terra, criou as aves, os peixes, enfim, tudo e toda espécie de vida.

Mas, ao ver que suas criações estavam á mercê dos homens, ele criou os Inkisis, e deu-lhes poder para governarem a natureza em seu nome, e assim sendo deu-se início ao culto aos sagrados.

Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi: Odé Mutaloiá, Presidente do Conselho Religioso da UNESCAP.




quarta-feira, abril 04, 2012

O QUE SÃO OS INKISIS

A palavra ORIXÁ é de origem Yorúba, dialeto usado nos candomblés de Kêtu, e, não BANTU, dialeto usado nos candomblés de Angola.

Seu significado: ORI= CABEÇA – XÁ = GUARDIÃO OU AQUELE QUE GUARDA assim a palavra orixá significa anjo da guarda, ou ainda: ORI= CABEÇA – XÁ = DONO, ou seja: DONO DA CABEÇA.

 Para os africanos a concepção de "anjo da guarda", não era a mesma que conhecemos hoje, através do cristianismo, mesmo porque esta forma de culto existe a aproximadamente 8.000 anos antes de Cristo, e há estudos que tentam provar uma existência ainda mais antiga.

Para eles, os denominados "anjo da guarda", na verdade eram seus antepassados, que após se transladarem para o ORÚM (Céu), passavam a fazer parte da energia de seu Orixá, transformando-se assim em um, e voltando a terra para ajudar seus descendentes a seguirem sua jornada em busca de um aperfeiçoamento.

 Dentro da nação Angola, não cultuamos Orixá, mas sim INKISIS, como eram chamados por nossos antepassados Angolanos. Os Inkisis eram antepassados, que ao deixarem a terra, voltavam a integrar a energia original. Assim transformando-se em GÊNIOS, que é o significado mais aproximado da palavra.

 Esses Inkisis não eram cultuados em conventos (templos), uma vez que os Angolanos eram seminômades, assim prestavam reverência aos seus INKISIS em árvores. Com sua vinda para o Brasil, foi que começaram a ter seus cultos em templos, posteriormente chamados BARRACÕES, assim denominados, devido ao nome dado às construções utilizadas na África, para guardar os escravos capturados para serem vendidos aos europeus.

Nesta grandiosa Nação, existiam seres maravilhosos, que como os Orixás dos Yorúbas, se dedicavam a cuidar de seus filhos e até mesmo a puni-los quando desobedeciam às leis de Deus, ou Zambiapongo, para os Bantos.

Nesta terra, nada se fazia sem antes pedir a permissão dos Inkisis, afinal sempre foram eles, a representação de Zambi no mundo.

Com este  povo, os Angolanos aprenderam que existiam outros seres semelhantes aos seus e assim foram vendo que suas divindades tinham muito em comum com os pertencentes à cultura dos Yorúbas.

Mesmo com a criação do sincretismo, não só com o catolicismo, mas também entre as nações aqui representadas por seus povos, a identidade de suas divindades foi preservada e muito embora, vissem eles, a semelhança entre seus “deuses”, mantinham seu culto próprio e se praticavam a religião de sua terra natal juntos, porém, deixavam bem claro a distinção entre eles.

Como escravos, buscavam a libertação de todo seu povo, e uniam-se para pedir aos “deuses” que atendessem seus pedidos e assim libertassem aquele povo que tanto sofria nas mãos dos Senhores.

Como Gênios, os Inkisis, faziam de tudo para ajudarem seus fiéis e passavam através de seus sacerdotes, todo o ensinamento preciso para que os mandamentos de Zambiapongo fossem seguidos ao pé da letra, como se diz em nosso País.

Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi Odé Mutaloiá. Presidente do Conselho religioso da UNESCAP.

segunda-feira, abril 02, 2012

O SAGRADO CARGO DE OGÃ E OS SAGRADOS INSTRUMENTOS: OS ATABAQUES.


Há, no mundo de hoje, quem diga que Ogã não é Pai, que não tem que se dobar para ele, nem mesmo que ser chamado de Pai, pois para essas pessoas eles não passam de “tocadores de atabaques”.

Ainda existem aqueles que dizem: “não respeito Ogã, pois faço 10 ogãs e 100 Ogãs não me fazem”.

Realmente, Ogã não raspa um noviço, não dá bori, nem muita coisa que um sacerdote ou uma sacerdotisa fazem, mas; quem de nós, dentro do Axé Orixá pode fazer alguma coisa sem um Ogã nos acompanhando?
Se eles, não nos fazem, nós, por nossa vez não podemos fazer um Yawô ou Muzenza sem ele, afinal, quem toca os ensaios de nossos filhos?

Quem irá tocar a saída daquele que estamos iniciando? Quem tocará o “Zambi no Akodidê”?

Quem tocará o Toté de Maiongá?

Como podemos ver, dependemos sim e muito dos Ogãs, pois são na verdade o esteio de uma casa de Candomblé, sem Ogã não se tem uma roça de Santo.

Os Ogãs, dentro da Nação que fui feito, sempre tiveram muito respeito até mesmo por parte daqueles mais antigos na religião, pois são os que chamam nossos Orixás em terra. São eles, com suas mãos sagradas e devidamente preparadas, que primeiro entram em contato com as nossas Divindades, fazendo através do fundamento dos toques, que eles, se dignem a virem do Orúm, para nosso meio.

 Ogã é sim, um tipo de mediunidade, uma qualidade de sacerdote sim, porque sem eles, não temos o transe que faz com que o Sagrado se manifeste no impuro.

Desde tempos mais remotos, o Pai Ogã, como sempre foi chamado nas casas de axé, tem uma responsabilidade muito grande como nossos Orixás e com nossas cabeças, e isso se dá devido ao fato de forçarem a comunicação da Energia Orixá, com sua matéria.

Sempre ouvimos os mais velhos dizerem que Ogã não se manifesta, ou seja: não dá incorporação, mas hoje em dia, vemos muitos que possuem vontade de ser Ogã dando incorporação.

São atos que contrariam as leis dos mais antigos no Santo, afinal Ogã é um sacerdócio a parte nos rituais do Orixá, pois dependemos dele para tocar os instrumentos sagrados para que nossos encantados se manifestem e possam assim socorrer os que deles precisam.

Nunca um Ogã irá se incorporar seja lá com o que for. Ouvi muitos antigos na religião, ensinarem que Ogã é uma pessoa que em outra encarnação foi raspado, era rodante, mas, sua missão não foi completa dentro do Axé Orixá e por isso ele voltou com esse cargo, pois seu Santo não mais precisa vir a Terra, dançar e praticar outros atos que nós, rodantes praticamos e por este e outros motivos é que Ogã já nasce com sete anos, com as mãos para trás.

A manifestação do Orixá do Ogã se dá através de sua mente e de suas mãos, quando estas entoam os toques sagrados para que tenhamos os encantados conosco. Suas intuições são outra manifestação de seu Orixá e eles não precisam de mais nada, além disso, para serem pais.

Pai Ogã: sem ele, a roça não funciona, e sem ele, muito pouco fazemos dentro dos barracões.

Como podemos, por exemplo, fazer os ritos funerários, sem um Pai Ogã para tocar os atabaques, Engoma na Angola e Ilú no Kêtu?

Como tirarmos na sala, nosso filho que está nascendo se não tivermos o Pai Ogã para tocar os ritmos sagrados?

Nenhuma obrigação podemos fazer sem esse Pai, pois que, para a grande maioria dos rituais temos o uso dos atabaques e somente a eles é dado o direito de manipular esses instrumentos, que na verdade pertencem a Ogum.

Sempre foi dito também pelos mais antigos, que uma mulher não tem o direito de tocar esses instrumentos, mas, algumas vezes quando não se tem um Ogã presente, e ali está uma mulher que saiba tocar o instrumento, ela pode sim, mas, desde que esteja de corpo limpo, sem estar menstruada, pois corre o risco de enquizilar os Orixás.

Porém, mesmo assim, algumas pessoas do Santo, insistem em dizer que Ogã não é Pai, que não se deve dar dobale em seus pés e muito menos lhe dedicar o carinho que temos por nosso Pai e Mãe. Como estão enganados.

Tanto são pais, que existem as qualidades de Ogãs, e aqui passo a descrever as de minha nação:

Kambondos - Ogãs.

Tata Nganga Lumbido - Ogã, guardião das chaves da casa.

Kambondos Kisaba ou Tata Kisaba - Ogã responsável pelas folhas.

Tata Kivanda - Ogã responsável pelas matanças, pelos sacrifícios animais (mesmo que axogun).

Tata Muloji - Ogã preparador dos encantamentos com as folhas e cabaças.

Tata Mavambu - Ogã  que cuida da casa de Exu (pois mulher não deve cuidar porque mulher menstrua e só deve mexer depois da menopausa, quando não menstruar mais, portanto, pelo certo as zeladoras devem ter um homem para cuidar desta parte, mas que seja pessoa de alta confiança).

Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi Odé Mutaloiá. Presidente do Conselho Religioso da UNESCAP.